Vivemos neste momento uma situação inusitada na cena política em Brasília, cidade habituada a girar em torno do protagonismo da figura presidencial.
Já há vários meses o noticiário político é dominado por três assuntos: CPI do Cachoeira, mensalão e eleições municipais. E o nome da presidente Dilma Rousseff raramente aparece relacionado a qualquer um deles.
Ao contrário, o que a presidente mais quer é continuar mantendo a maior distância possível dos três principais polos geradores de manchetes na imprensa.
Até aqui, de fato, Dilma tem conseguido seu objetivo de dedicar a maior parte do tempo à administração e ao gerenciamento dos efeitos da crise mundial na economia brasileira.
A visão do governo federal para cada um destes temas no momento é a seguinte:
Mensalão _ O atraso previsto no início do julgamento, marcado para 1º de agosto, pode criar uma situação que obrigará Dilma a escolher um nome para o lugar do ministro Cezar Peluso, que se aposenta no início de setembro e corre o risco de não poder dar seu voto no processo.
Neste caso, a presidente da República sofrerá pressões dos dois lados: a dos que defenderão que ela indique logo um novo nome para substituir Peluso no Supremo Tribunal Federal e a dos que defenderão, em contrário, que seja adiada esta nomeação para depois do julgamento (em caso de empate entre os dez membros restantes, o direito penal brasileiro prevê que o réu será beneficiado).
Dilma já está avaliando esta possibilidade e pensando em nomes, mas ainda não tem nada definido.
CPI do Cachoeira _ O distanciamento ostensivo que Dilma resolveu manter do caso desde a instalação da CPI, já está provocando críticas de integrantes da base aliada, reclamando que "a gente nunca sabe o que o governo quer".
Na verdade, o governo não quer nada. Quer apenas que esta CPI acabe logo para que o Congresso Nacional possa dedicar mais tempo à discussão de temas relevantes para o país.
Divergências na condução dos trabalhos e nos objetivos da CPI têm colocado muitos vezes em lados opostos o PT e o PMDB, os dois principais partidos da base aliada, que vivem num clima de tensão permanente.
Isto se explica em parte pela condição do vice-presidente Michel Temer, que deve o cargo à sua condição de principal lider do PMDB, o partido que disputa espaço no governo com o partido da presidente.
Este problema não havia no governo anterior, quando o vice de Lula era José Alencar, um empresário que nunca teve militância partidária e era uma indicação pessoal do então presidente.
Mais do que a CPI, porém, que na avaliação do governo já deu o que tinha que dar _ a iminente cassação de Demóstenes, com Carlinhos Cachoeira mantido na cadeia e a Delta deixando as obras do governo _ o que preocupa o governo central nesta história de confrontos na base aliada é a aproximação das eleições, em que tanto PMDB quanto PT jogam seus trunfos já pensando em 2014.
Eleições municipais _ Além da já prevista disputa de PT e PMDB no campo da situação, o fato novo analisado pelo governo de Dilma é a emergência na boca do palco do aliado Eduardo Campos, governador de Pernambuco e presidente do PSB, que resolveu entrar já no clima de 2014, jogando pesado em várias mesas ao mesmo tempo.
Por cálculo ou circunstâncias da vida real, o fato é que para levantar vôo próprio o seu PSB já rompeu antigas alianças com o PT no Recife e em Fortaleza, mas pode se tornar sócio do partido de Lula numa eventual vitória de Fernando Haddad em São Paulo, além de manter a joint-venture em Belo Horizonte.
Dilma acompanha de longe os percalços enfrentados por Lula para alavancar a campanha de Haddad em São Paulo, que o levaram a tirar fotos até com Paulo Maluf na casa do ex-inimigo, , mas se preocupa mais com a saúde do amigo do que com os resultados das eleições. Para ela, Lula está sempre certo, ninguém entende de política mais do que ele, e ponto final.
Na avaliação do governo federal, não muda nada o eixo da política nacional ganhar ou perder em São Paulo porque ali já é um reduto da oposição tucana faz muito tempo. "Quem tem que ganhar são eles. Para nós, o que vier é lucro", raciocina-se no Palácio do Planalto.
***
Depois da foto, Maluf tripudia e vira a estrela das eleições
Assim como Dilma, eu também gostaria de manter uma saudável distância do assunto eleições, que é muito complicado para a minha cabeça, mas o Maluf não deixa.
A última dele, em entrevista a Mônica Bergamo, na "Folha" desta terça-feira: "Perto do Lula, sou comunista".
Uma semana depois da inacreditável foto com o ex-presidente Lula nos jardins da mansão dele, Paulo Maluf ressurgiu das trevas, não sai mais do noticiário e agora resolveu tripudiar. Virou a estrela da campanha eleitoral na maior cidade do país.
Ressuscitado pelo PT, quem diria..., o criador do malufismo, que deu origem ao verbo malufar e por isso é procurado pela Interpol em 188 países, agora danou a dar entevistas e até dá palpites na escolha do vice de Fernando Haddad, depois que Luiza Erundina chutou o balde por causa dele. Chegou a defender o nome de Luiz Flavio D´Urso, um dos lideres do movimento "Cansei" criado contra o governo Lula pelo high-society paulistano.
Maluf já avisou também que vai querer participar do programa de TV de Haddad, alegando, com razão, que parte do tempo é dele. Só falta adaptar aquela frase famosa que repetiu várias vezes na campanha do seu pupilo Celso Pitta, escalado por Duda Mendonça na disputa da sua sucessão, só que desta vez com outros personagens:
"Se o Haddad não for um bom prefeito, nunca mais vote no Lula".
A seguir, algumas pérolas do pensamento malufista publicadas na matéria de Mônica Bergamo, em que revela ter recebido, antes de Lula, duas visitas do candidato tucano José Serra em sua casa para pedir o seu apoio:
"Fechado o acordo com o PT, fizemos um almoço em casa, algumas pessoas compareceram. E o Lula foi convidado. Constrangido? Ao contrário, ele estava alegre e feliz".
"Quem mudou? O Lula assumiu em 2003 sob a desconfiança de que era um Fidel Castro brasileiro (...) Mas, da maneira como exerceu a Presidência, diria que ele está à minha direita. Eu, perto do Lula, sou comunista".
"Em 2014, a minha chapa vai ser Dilma para presidente e Geraldo Alckmin para governador (...) Acabou a eleição, o que interessa é que haja governabilidade".
"Em 1998, apoiamos FHC, que teve 51%. Se não fosse meu apoio, ia para o segundo turno contra o Lula".
Blog do Ricardo Kotscho.
Já há vários meses o noticiário político é dominado por três assuntos: CPI do Cachoeira, mensalão e eleições municipais. E o nome da presidente Dilma Rousseff raramente aparece relacionado a qualquer um deles.
Ao contrário, o que a presidente mais quer é continuar mantendo a maior distância possível dos três principais polos geradores de manchetes na imprensa.
Até aqui, de fato, Dilma tem conseguido seu objetivo de dedicar a maior parte do tempo à administração e ao gerenciamento dos efeitos da crise mundial na economia brasileira.
A visão do governo federal para cada um destes temas no momento é a seguinte:
Mensalão _ O atraso previsto no início do julgamento, marcado para 1º de agosto, pode criar uma situação que obrigará Dilma a escolher um nome para o lugar do ministro Cezar Peluso, que se aposenta no início de setembro e corre o risco de não poder dar seu voto no processo.
Neste caso, a presidente da República sofrerá pressões dos dois lados: a dos que defenderão que ela indique logo um novo nome para substituir Peluso no Supremo Tribunal Federal e a dos que defenderão, em contrário, que seja adiada esta nomeação para depois do julgamento (em caso de empate entre os dez membros restantes, o direito penal brasileiro prevê que o réu será beneficiado).
Dilma já está avaliando esta possibilidade e pensando em nomes, mas ainda não tem nada definido.
CPI do Cachoeira _ O distanciamento ostensivo que Dilma resolveu manter do caso desde a instalação da CPI, já está provocando críticas de integrantes da base aliada, reclamando que "a gente nunca sabe o que o governo quer".
Na verdade, o governo não quer nada. Quer apenas que esta CPI acabe logo para que o Congresso Nacional possa dedicar mais tempo à discussão de temas relevantes para o país.
Divergências na condução dos trabalhos e nos objetivos da CPI têm colocado muitos vezes em lados opostos o PT e o PMDB, os dois principais partidos da base aliada, que vivem num clima de tensão permanente.
Isto se explica em parte pela condição do vice-presidente Michel Temer, que deve o cargo à sua condição de principal lider do PMDB, o partido que disputa espaço no governo com o partido da presidente.
Este problema não havia no governo anterior, quando o vice de Lula era José Alencar, um empresário que nunca teve militância partidária e era uma indicação pessoal do então presidente.
Mais do que a CPI, porém, que na avaliação do governo já deu o que tinha que dar _ a iminente cassação de Demóstenes, com Carlinhos Cachoeira mantido na cadeia e a Delta deixando as obras do governo _ o que preocupa o governo central nesta história de confrontos na base aliada é a aproximação das eleições, em que tanto PMDB quanto PT jogam seus trunfos já pensando em 2014.
Eleições municipais _ Além da já prevista disputa de PT e PMDB no campo da situação, o fato novo analisado pelo governo de Dilma é a emergência na boca do palco do aliado Eduardo Campos, governador de Pernambuco e presidente do PSB, que resolveu entrar já no clima de 2014, jogando pesado em várias mesas ao mesmo tempo.
Por cálculo ou circunstâncias da vida real, o fato é que para levantar vôo próprio o seu PSB já rompeu antigas alianças com o PT no Recife e em Fortaleza, mas pode se tornar sócio do partido de Lula numa eventual vitória de Fernando Haddad em São Paulo, além de manter a joint-venture em Belo Horizonte.
Dilma acompanha de longe os percalços enfrentados por Lula para alavancar a campanha de Haddad em São Paulo, que o levaram a tirar fotos até com Paulo Maluf na casa do ex-inimigo, , mas se preocupa mais com a saúde do amigo do que com os resultados das eleições. Para ela, Lula está sempre certo, ninguém entende de política mais do que ele, e ponto final.
Na avaliação do governo federal, não muda nada o eixo da política nacional ganhar ou perder em São Paulo porque ali já é um reduto da oposição tucana faz muito tempo. "Quem tem que ganhar são eles. Para nós, o que vier é lucro", raciocina-se no Palácio do Planalto.
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Depois da foto, Maluf tripudia e vira a estrela das eleições
Assim como Dilma, eu também gostaria de manter uma saudável distância do assunto eleições, que é muito complicado para a minha cabeça, mas o Maluf não deixa.
A última dele, em entrevista a Mônica Bergamo, na "Folha" desta terça-feira: "Perto do Lula, sou comunista".
Uma semana depois da inacreditável foto com o ex-presidente Lula nos jardins da mansão dele, Paulo Maluf ressurgiu das trevas, não sai mais do noticiário e agora resolveu tripudiar. Virou a estrela da campanha eleitoral na maior cidade do país.
Ressuscitado pelo PT, quem diria..., o criador do malufismo, que deu origem ao verbo malufar e por isso é procurado pela Interpol em 188 países, agora danou a dar entevistas e até dá palpites na escolha do vice de Fernando Haddad, depois que Luiza Erundina chutou o balde por causa dele. Chegou a defender o nome de Luiz Flavio D´Urso, um dos lideres do movimento "Cansei" criado contra o governo Lula pelo high-society paulistano.
Maluf já avisou também que vai querer participar do programa de TV de Haddad, alegando, com razão, que parte do tempo é dele. Só falta adaptar aquela frase famosa que repetiu várias vezes na campanha do seu pupilo Celso Pitta, escalado por Duda Mendonça na disputa da sua sucessão, só que desta vez com outros personagens:
"Se o Haddad não for um bom prefeito, nunca mais vote no Lula".
A seguir, algumas pérolas do pensamento malufista publicadas na matéria de Mônica Bergamo, em que revela ter recebido, antes de Lula, duas visitas do candidato tucano José Serra em sua casa para pedir o seu apoio:
"Fechado o acordo com o PT, fizemos um almoço em casa, algumas pessoas compareceram. E o Lula foi convidado. Constrangido? Ao contrário, ele estava alegre e feliz".
"Quem mudou? O Lula assumiu em 2003 sob a desconfiança de que era um Fidel Castro brasileiro (...) Mas, da maneira como exerceu a Presidência, diria que ele está à minha direita. Eu, perto do Lula, sou comunista".
"Em 2014, a minha chapa vai ser Dilma para presidente e Geraldo Alckmin para governador (...) Acabou a eleição, o que interessa é que haja governabilidade".
"Em 1998, apoiamos FHC, que teve 51%. Se não fosse meu apoio, ia para o segundo turno contra o Lula".
Blog do Ricardo Kotscho.
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