Do Blog do Rovai
Aref é só a ponta do iceberg do propinoduto paulistano
Durante entrevista coletiva concedida ontem, 14,
o promotor Sílvio Marques, da Promotoria do Patrimônio Público e Social, afirmou
que as investigações sobre o esquema de propina no Aprov (Departamento de
Aprovação de Edificações) envolvem mais pessoas e empresas do que as mencionadas
até agora. De fato, o enriquecimento ilícito do ex-diretor do Aprov, Hussain
Aref Saab, é apenas o fio solto do novelo. Afinal, Aref, um peixe pequeno na
hierarquia da administração municipal, teria conseguido montar um esquema tão
perfeito que seus superiores na Secretaria Municipal de Habitação em nenhum
momento desconfiaram de suas artimanhas? Você acredita nisso?
Aref é a ponta do iceberg deste escândalo que
atinge em cheio a gestão Serra-Kassab. O promotor afirmou, na entrevista
coletiva, ter interrogado um corretor de imóveis que disse ter vendido 35
imóveis para Aref. A maioria paga em dinheiro entregue em envelopes pardos
contendo notas de R$ 100, R$ 50, R$ 20 e R$ 10. O promotor ainda declarou que
Aref pediu 4 milhões de reais para liberar um empreendimento na Av.Faria
Lima.
Em reportagem do jornal Folha de S.Paulo, uma
ex-diretora financeira da Brookfield Gestão de Empreendimentos (BGE) disse que a
multinacional pagou R$ 1,6 milhão em propina, entre 2008 e 2010, para obras no
shopping Higienópolis e Paulista. Segundo ela, a proprina teria sido paga ao
ex-diretor do Aprov e ao vereador Aurélio Miguel (PR). A despeito de Aurélio
Miguel ter rompido com a base aliada de Kassab nas ultimas eleições para a
presidência da Câmara, as denúncias que agora pesam contra ele são pesadíssimas
e indicam que seu rompimento diga mais respeito a “interesses contrariados” do
que a “ideologia política”.
O fato é que a gestão Serra-Kassab tem como uma
de suas maiores marcas o esquema “é bom para ambas as partes” que criou com o
setor da construção civil. Projetos de reurbanização, como o que acontece na
Luz, acabam com a história da cidade em função da especulação imobiliária. E o
mesmo ocorre em bairros como Pinheiros e Vila Madalena, que assistem a cada dia
o trator de Kassab derrubar pequenas casas para dar lugar a grandes torres.
Empreendimentos que estes bairros não vão comportar em suas ruas estreitas e que
vão tornar um local aprazível em inóspito, além de piorar ainda mais o já
caótico trânsito local.
O Ministério Público atualmente é o único canal
de investigação destas denúncias, uma vez que a base aliada esvazia qualquer
votação de convocação de servidores municipais e cargos de confiança para
prestarem contas sobre escândalos (veja matéria do SPressoSP sobre essa
tática). Um exemplo disso, foi quando o site SPressoSP escancarou nesta
reportagem, por meio de depoimentos e documentos, o esquema de
desvio de recursos públicos na Virada Cultural. Mais uma vez, a bancada
governista derrubou toda tentativa de apuração na Câmara Municipal.
E como estamos em tempo de Rio + 20 e Cúpula dos
Povos e este blogueiro já está no Rio de Janeiro para cobrir o evento e
participar do Fórum Mundial de Mídia Livre nunca é muito lembrar que o Partido
Verde, que grita contra o governo federal, em algumas questões ambientais nas
quais até tem razão, em São Paulo está a frente da Secretaria do Verde e não diz
nada sobre essas ocupações absurdas do espaço público.
Aliás, este PV de São Paulo consegue levar à
cidade a erguer o bizarro troféu de ser uma das piores do planeta no quesito
coleta seletiva. Apenas 1% do lixo produzido em São Paulo é coletado
seletivamente.
Muita água ainda vai correr por baixo desta ponte
construída pelo esquema de propinas do Aprov. E se algo mais do que a ponta do
iceberg emergir, podem anotar. Peixe graúdo, bem graúdo, vai aparecer neste
esquema.
Nenhum comentário:
Postar um comentário