Do blog R7 do Ricardo Kotscho.
06/12 às 13h22
06/12 às 13h22
Em São Paulo, eleição vira zorra federal
"Tenho conversas com todo mundo, todas muito elegantes. Não há mais esquerda e direita. O que há são segundos de TV"(Paulo Maluf, quem diria, ao justificar seu apoio a Fernando Haddad, do PT, já no primeiro turno).
Posso imaginar a elegância das conversas em se tratando do criador do malufismo... O pior é que as últimas movimentações na formação de alianças para a eleição paulistana dão toda razão para Maluf. Em poucas palavras, ele resumiu o atual estágio da política brasileira, que virou uma zorra federal.
Tempo de televisão em troca de cargos nos governos são as moedas de troca usadas por todos os partidos e todos os candidatos e estão na raiz dos casos de corrupção registrados nos últimos muitos anos em todos os níveis de governo.
Até o último momento, Paulo Maluf, este símbolo do que há de mais retrógado e aético entre os partidos conservadores, rifou os seus 103 segundos de televisão entre o PT e o PSDB.
Em troca, queria cargos na área de habitação para um cupincha (expressão muito usada pelo célebre Adhemar de Barros, precursor do rouba, mas faz), o engenheiro Oswaldo Garcia. Ganhou o PT, que entregou a Paulo Maluf um importante posto no Ministério das Cidades, já controlado pelo seu partido, o PP (sigla do, acreditem, Partido Progressista). Garcia ficou com a Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental, dono de um orçamento respeitável.
Depois de passar as últimas semanas garantindo seu apoio a José Serra, que lhe prometeu cargos na Secretaria Municipal de Habitação e na Cohab, Maluf perdeu a paciência com a enrolação do governador Geraldo Alckmin, relutante em lhe entregar de porteira fechada a mesma área no governo estadual _ e voltou a conversar com o PT federal, que logo fechou negócio.
Agora, se confirmar a entrada do PCdoB na aliança, Haddad poderá ter quase oito minutos na TV, um a mais do que Serra. A guinada de Maluf virou o jogo a favor do PT, também beneficiado pela adesão do PSB de Eduardo Campos, com a indicação da ex-prefeita Luiza Erundina para vice de Haddad.
Em compensação, na mesma semana, Serra ganhou 96 segundos do PR, o partido do notório Valdemar da Costa Neto, aliado do PT em Brasília desde o governo Lula.
O novo Datafolha divulgado na noite de domingo ainda não deve ter contabilizado todas estas mudanças no cenário registradas nos últimos dias, mas confirmou algumas tendências na avaliação dos principais candidatos. Vamos aos números e aos problemas de cada um:
José Serra (PSDB) _ Permanece estacionado nos 30%, mesmo índice que registrou ao anunciar oficialmente sua candidatura, em março. Para quem disputou praticamente todas as eleições nos últimos 25 anos, não chega a ser um patamar confortável.
Conhecido por 100% da população, segundo a última pesquisa, o ex-prefeito, ex-governador e ex-ministro, duas vezes derrrotado nas eleições presidenciais, não tem muito por onde crescer, e ainda por cima registra uma rejeição de 32%, dois a mais do que a intenção de voto. Além disso, terá que carregar nas costas o apoio de Gilberto Kassab (43% dos entrevistados disseram que não votariam num candidato apoiado pelo prefeito).
Para completar, enfrenta uma interminável brigalhada na formação da chapa de vereadores da sua coligação (PSDB-DEM-PR-PV-PSD), com os tucanos aliados a Alckmin não querendo abrir espaço para os partidos aliados. Na semana passada, chegou a ameaçar jogar a toalha se não houver um entendimento entre os partidos. Não está nada fácil, neste momento, a vida do líder nas pesquisas.
Celso Russomanno (PRB) _ Subiu de 19 para 21%, mantendo-se firme na vice-liderança, posição que ocupa em todas as pesquisas, desde o início da campanha eleitoral.
O candidato outsider, que constitui a grande surpresa desta campanha, começou a carreira no PSDB, passou pelo malufismo e se notabilizou por suas reportagens na televisão em defesa do consumidor, trunfo que agora perderá por impedimento da legislação eleitoral.
O grande problema de Russomanno para enfrentar a polarização entre PT e PSDB é justamente o tempo de televisão: aliado a partidos nanicos sem expressão, terá apenas um minuto e pouco no horário político gratuito.
Fernando Haddad (PT) _ Foi o candidato que mais cresceu entre uma pesquisa e outra, graças à sua alta exposição em comerciais e programas de TV, passando de 3% em março para 8% agora, ainda um número muito abaixo dos índices históricos do PT nas eleições paulistanas, em torno de 30% no primeiro turno.
A apenas três meses e meio das eleições, o candidato petista ainda não é conhecido por metade da população e não conseguiu convencer a ex-prefeita Marta Suplicy a participar da sua campanha. Com a adesão de Maluf, este apoio ficou ainda mais difícil.
O grande trunfo de Haddad continua concentrado na figura do ex-presidente Lula, que ainda não tem o aval dos médicos para poder participar da campanha como gostaria. O desafio para o marqueteiro João Santana, que criou o slogan "um hovo homem para um novo tempo", será agora conciliar sua estratégia com a companhia de Maluf, 80 anos, e da vice Erundina, 77.
Gabriel Chalita (PMDB) _ Não só não subiu, como esperava o PMDB de Michel Temer, depois de investir numa bateria de comerciais na televisão, como ainda caiu um ponto, passando de 7% para 6%.
O candidato é bom de papo e afiado nas entrevistas, tem carisma e uma fina estampa, mas deve estar se dando conta de que o seu partido, se é grande no plano nacional, em São Paulo os anos de quercismo o deixaram mais próximo dos nanicos. Deverá ter menos do que a metade do tempo de Serra e Haddad na TV, o que é outro obstáculo para crescer.
Como constatam todos os analistas, o jogo ainda está aberto e a campanha só começará para valer a partir de 21 de agosto com o horário político gratuito no rádio e na TV. Até lá, é preciso relativizar os resultados das pesquisas.
Posso imaginar a elegância das conversas em se tratando do criador do malufismo... O pior é que as últimas movimentações na formação de alianças para a eleição paulistana dão toda razão para Maluf. Em poucas palavras, ele resumiu o atual estágio da política brasileira, que virou uma zorra federal.
Tempo de televisão em troca de cargos nos governos são as moedas de troca usadas por todos os partidos e todos os candidatos e estão na raiz dos casos de corrupção registrados nos últimos muitos anos em todos os níveis de governo.
Até o último momento, Paulo Maluf, este símbolo do que há de mais retrógado e aético entre os partidos conservadores, rifou os seus 103 segundos de televisão entre o PT e o PSDB.
Em troca, queria cargos na área de habitação para um cupincha (expressão muito usada pelo célebre Adhemar de Barros, precursor do rouba, mas faz), o engenheiro Oswaldo Garcia. Ganhou o PT, que entregou a Paulo Maluf um importante posto no Ministério das Cidades, já controlado pelo seu partido, o PP (sigla do, acreditem, Partido Progressista). Garcia ficou com a Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental, dono de um orçamento respeitável.
Depois de passar as últimas semanas garantindo seu apoio a José Serra, que lhe prometeu cargos na Secretaria Municipal de Habitação e na Cohab, Maluf perdeu a paciência com a enrolação do governador Geraldo Alckmin, relutante em lhe entregar de porteira fechada a mesma área no governo estadual _ e voltou a conversar com o PT federal, que logo fechou negócio.
Agora, se confirmar a entrada do PCdoB na aliança, Haddad poderá ter quase oito minutos na TV, um a mais do que Serra. A guinada de Maluf virou o jogo a favor do PT, também beneficiado pela adesão do PSB de Eduardo Campos, com a indicação da ex-prefeita Luiza Erundina para vice de Haddad.
Em compensação, na mesma semana, Serra ganhou 96 segundos do PR, o partido do notório Valdemar da Costa Neto, aliado do PT em Brasília desde o governo Lula.
O novo Datafolha divulgado na noite de domingo ainda não deve ter contabilizado todas estas mudanças no cenário registradas nos últimos dias, mas confirmou algumas tendências na avaliação dos principais candidatos. Vamos aos números e aos problemas de cada um:
José Serra (PSDB) _ Permanece estacionado nos 30%, mesmo índice que registrou ao anunciar oficialmente sua candidatura, em março. Para quem disputou praticamente todas as eleições nos últimos 25 anos, não chega a ser um patamar confortável.
Conhecido por 100% da população, segundo a última pesquisa, o ex-prefeito, ex-governador e ex-ministro, duas vezes derrrotado nas eleições presidenciais, não tem muito por onde crescer, e ainda por cima registra uma rejeição de 32%, dois a mais do que a intenção de voto. Além disso, terá que carregar nas costas o apoio de Gilberto Kassab (43% dos entrevistados disseram que não votariam num candidato apoiado pelo prefeito).
Para completar, enfrenta uma interminável brigalhada na formação da chapa de vereadores da sua coligação (PSDB-DEM-PR-PV-PSD), com os tucanos aliados a Alckmin não querendo abrir espaço para os partidos aliados. Na semana passada, chegou a ameaçar jogar a toalha se não houver um entendimento entre os partidos. Não está nada fácil, neste momento, a vida do líder nas pesquisas.
Celso Russomanno (PRB) _ Subiu de 19 para 21%, mantendo-se firme na vice-liderança, posição que ocupa em todas as pesquisas, desde o início da campanha eleitoral.
O candidato outsider, que constitui a grande surpresa desta campanha, começou a carreira no PSDB, passou pelo malufismo e se notabilizou por suas reportagens na televisão em defesa do consumidor, trunfo que agora perderá por impedimento da legislação eleitoral.
O grande problema de Russomanno para enfrentar a polarização entre PT e PSDB é justamente o tempo de televisão: aliado a partidos nanicos sem expressão, terá apenas um minuto e pouco no horário político gratuito.
Fernando Haddad (PT) _ Foi o candidato que mais cresceu entre uma pesquisa e outra, graças à sua alta exposição em comerciais e programas de TV, passando de 3% em março para 8% agora, ainda um número muito abaixo dos índices históricos do PT nas eleições paulistanas, em torno de 30% no primeiro turno.
A apenas três meses e meio das eleições, o candidato petista ainda não é conhecido por metade da população e não conseguiu convencer a ex-prefeita Marta Suplicy a participar da sua campanha. Com a adesão de Maluf, este apoio ficou ainda mais difícil.
O grande trunfo de Haddad continua concentrado na figura do ex-presidente Lula, que ainda não tem o aval dos médicos para poder participar da campanha como gostaria. O desafio para o marqueteiro João Santana, que criou o slogan "um hovo homem para um novo tempo", será agora conciliar sua estratégia com a companhia de Maluf, 80 anos, e da vice Erundina, 77.
Gabriel Chalita (PMDB) _ Não só não subiu, como esperava o PMDB de Michel Temer, depois de investir numa bateria de comerciais na televisão, como ainda caiu um ponto, passando de 7% para 6%.
O candidato é bom de papo e afiado nas entrevistas, tem carisma e uma fina estampa, mas deve estar se dando conta de que o seu partido, se é grande no plano nacional, em São Paulo os anos de quercismo o deixaram mais próximo dos nanicos. Deverá ter menos do que a metade do tempo de Serra e Haddad na TV, o que é outro obstáculo para crescer.
Como constatam todos os analistas, o jogo ainda está aberto e a campanha só começará para valer a partir de 21 de agosto com o horário político gratuito no rádio e na TV. Até lá, é preciso relativizar os resultados das pesquisas.
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