sexta-feira, 1 de junho de 2012

POLÍTICA - O "elemento" em campanha".

Blog do Rovai

O factóide de Gilmar Mendes contra Lula significa “elemento” em campanha



“Quarto elemento - Há alguns dias, José Serra ligou para o ex-ministro Nelson Jobim. Pediu a ele que falasse com a revista “Veja”. Jobim atendeu ao pedido do amigo – e só então soube da reportagem sobre Lula e o ministro Gilmar Mendes. Escaldado, Jobim disse não ter presenciado nada beligerante na conversa entre os dois, que ocorreu em seu escritório, em Brasília”

A nota acima foi publicada ontem (31/5) na coluna da jornalista Monica Bergamo, no jornal Folha de S.Paulo. Sem ser direta, joga luz sobre o quarto elemento que participou do caso Gilmar Mendes x Lula, o pré-candidato a prefeitura de São Paulo, José Serra. Ele, sempre ele.
Entre marqueteiros e estrategistas de campanha todos sabem que uma coisa é certa quando Serra está na disputa: não há possibilidade de a eleição ser tranqüila e limpa.
O episódio narrado por Bergamo ontem merece ser analisado num contexto maior. Serra quer Lula mais fraco no processo eleitoral deste ano. E além disso quer muitíssimo que o julgamento do mensalão aconteça entre agosto e setembro para que o debate sobre as questões municipais seja diluído do ponto de vista midiático. Ou alguém acha que com o julgamento do mensalão acontecendo no STF neste período os veículos de comunicação tradicionais vão tratar de qualquer coisa relacionada à gestão Kassab, por exemplo? Nas contas que fez não havia nada melhor para embananar o jogo do que dar publicidade a este factóide de Gilmar Mendes, que também tem muito interesse em desviar os holofotes midiáticos da CPI do Cachoeira.
Para quem acha que isso é coisa de blogueiro sujo, que tal relembrar algumas histórias.
Caso Roseana Sarney

O dossiê mais conhecido contra um adversário de Serra teve como alvo a então candidata a presidente da República, Roseana Sarney, em 2002.
O jurista Saulo Ramos, que até onde consta não é um “blogueiro sujo”, no livro Código da Vida, revela que o dossiê foi motivado pelo crescimento de Roseana nas pesquisas. “E de repente, sem que estivesse previsto, o PFL lançou Roseana Sarney. Seu nome foi um impacto. Subiu nas pesquisas, Serra ficou para trás e, em todas as simulações de segundo turno, era a única capaz de derrotar Lula”. A partir daí ocorreu a investigação contra Roseana. “Uma das mais cínicas maroteiras da história republicana”, na opinião do autor.
O jurista descreve o que aconteceu: “Fernando Henrique Cardoso mandou montar um grupo especializado e treinado para fazer espionagem. A justificativa: vigiar o controle dos preços dos remédios, o cartel dos laboratórios. José Serra, então Ministro da Saúde, havia sido perseguido pelos militares. Sabia bem como os governos eram poderosos nessa especialidade. Fernando Henrique o convenceu a aceitar a maquinação porque dizia ser em favor de sua candidatura a Presidente da República. Serra caiu na conversa”. Saulo Ramos acrescenta: “O objetivo era montar a estratégia política da candidatura de Serra à Presidência da República e desenvolver ações de espionagem e denúncias contra possíveis opositores. Para tanto, Aloysio Nunes Ferreira, Ministro da Justiça [o mesmo do dossiê Tasso] mandou instalar uma estação de escuta em São Luís.
De acordo com Ramos, “essa “estação” foi descoberta, e o Ministro da Justiça justificou que se destinava a combater o narcotráfico. (…) São Luís nunca esteve na rota da cocaína. Nem no Rio de Janeiro havia uma estação como aquela”.
Depois que a revista Época, da editora Globo, publicou edição com o escândalo que envolvia Roseana, ela desistiu da candidatura à Presidência, apoiou Lula e candidatou-se ao Senado, sendo eleita.
Caso Tasso Jereissati
Tasso Jereissati sofreu perseguição do governo FHC e Serra
No dia 12 de junho de 2010, a jornalista Christiane Samarco revelou, em reportagem do Estado de S.Paulo, que o então governador Mário Covas, já adoentado, recebeu em 2000 a visita de Tasso Jereissati, na época governador do Ceará, comunicando-lhe que estava impedido de ser candidato a Presidência e o apoiava para o cargo, dizendo que “essa disputa vai ficar entre você e o Serra. E meu candidato é você”.
Além de Mário Covas, o ex-governador do Ceará tinha também o apoio do PFL de Antônio Carlos Magalhães, mas mesmo assim desistiu da candidatura.
A reclamação de Jereissati foi a de que “setores do PSDB no governo” estariam dificultando a liberação de recursos para o Ceará e investigando sua vida.
De acordo com a reportagem, ao chegar ao palácio da Alvorada para comunicar sua desistência a FHC, Tasso se encontrou com o ex-ministro da Justiça e secretário-geral da Presidência, Aloysio Nunes Ferreira, a quem o ex-governador do Ceará atribuía uma operação da Polícia Federal que colocou agentes em seu encalço numa investigação de lavagem de dinheiro.
Nesse encontro, segundo o Estado de S. Paulo, houve um bate-boca entre Jereissati e Aloysio Nunes. Leia o trecho publicado e entenda melhor como se movimenta o quarto elemento.
“Vocês jogam sujo!”, disse Tasso. (…) “Vocês quem?”, quis saber Aloysio. (…) “Você…o Serra… Vocês estão jogando sujo e eu estou saindo (da disputa presidencial) por causa de gente como você que está me fodendo nesse governo” reagiu Tasso. (…) “Jogando sujo é a puta que o pariu”, berrou Aloysio, já partindo para cima do governador. Fora do controle e vermelho de raiva, Tasso chegou a arrancar o paletó e os dois armaram os punhos para distribuir os socos. Foi preciso que o governador do Pará, Almir Gabriel, apartasse a briga, enquanto FHC, incrédulo, pedia calma.
Caso Paulo Renato de Souza
Quando Serra era ministro da Saúde e o ex-delegado da Polícia Federal e deputado, Marcelo Itagiba, cuidava da “inteligência” da pasta, circulou um dossiê contra Paulo Renato de Souza, então ministro da Educação. À época, Souza planejava disputar com Serra a indicação do PSDB à presidência. Serra levou a melhor e foi candidato em 2002.
Ou seja, o elemento está em ação. A campanha de São Paulo vai ser a mais suja dos últimos tempos, anotem. Serra sabe que se vier a perder, será o fim de sua carreira política.
A nota de ontem de Mônica Bergamo é um aperitivo do que vem por aí.

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