Blog do Rovai
O dossiê mais conhecido contra um adversário de Serra teve como alvo a então candidata a presidente da República, Roseana Sarney, em 2002.
O factóide de Gilmar Mendes contra Lula significa “elemento” em campanha
“Quarto elemento - Há alguns dias, José Serra ligou para o ex-ministro
Nelson Jobim. Pediu a ele que falasse com a revista “Veja”. Jobim atendeu ao
pedido do amigo – e só então soube da reportagem sobre Lula e o ministro Gilmar
Mendes. Escaldado, Jobim disse não ter presenciado nada beligerante na conversa
entre os dois, que ocorreu em seu escritório, em Brasília”
A nota acima foi publicada ontem (31/5) na coluna da jornalista Monica Bergamo, no jornal Folha de S.Paulo. Sem ser direta, joga luz sobre o quarto elemento que participou do caso Gilmar Mendes x Lula, o pré-candidato a prefeitura de São Paulo, José Serra. Ele, sempre ele.
A nota acima foi publicada ontem (31/5) na coluna da jornalista Monica Bergamo, no jornal Folha de S.Paulo. Sem ser direta, joga luz sobre o quarto elemento que participou do caso Gilmar Mendes x Lula, o pré-candidato a prefeitura de São Paulo, José Serra. Ele, sempre ele.
Entre marqueteiros e estrategistas de campanha
todos sabem que uma coisa é certa quando Serra está na disputa: não há
possibilidade de a eleição ser tranqüila e limpa.
O episódio narrado por Bergamo ontem merece ser
analisado num contexto maior. Serra quer Lula mais fraco no processo eleitoral
deste ano. E além disso quer muitíssimo que o julgamento do mensalão aconteça
entre agosto e setembro para que o debate sobre as questões municipais seja
diluído do ponto de vista midiático. Ou alguém acha que com o julgamento do
mensalão acontecendo no STF neste período os veículos de comunicação
tradicionais vão tratar de qualquer coisa relacionada à gestão Kassab, por
exemplo? Nas contas que fez não havia nada melhor para embananar o jogo do que
dar publicidade a este factóide de Gilmar Mendes, que também tem muito interesse
em desviar os holofotes midiáticos da CPI do Cachoeira.
Para quem acha que isso é coisa de blogueiro
sujo, que tal relembrar algumas histórias.
Caso Roseana Sarney
O dossiê mais conhecido contra um adversário de Serra teve como alvo a então candidata a presidente da República, Roseana Sarney, em 2002.
O jurista Saulo Ramos, que até onde consta não é
um “blogueiro sujo”, no livro Código da Vida, revela que o dossiê foi motivado
pelo crescimento de Roseana nas pesquisas. “E de repente, sem que estivesse
previsto, o PFL lançou Roseana Sarney. Seu nome foi um impacto. Subiu nas
pesquisas, Serra ficou para trás e, em todas as simulações de segundo turno, era
a única capaz de derrotar Lula”. A partir daí ocorreu a investigação contra
Roseana. “Uma das mais cínicas maroteiras da história republicana”, na opinião
do autor.
O jurista descreve o que aconteceu: “Fernando
Henrique Cardoso mandou montar um grupo especializado e treinado para fazer
espionagem. A justificativa: vigiar o controle dos preços dos remédios, o cartel
dos laboratórios. José Serra, então Ministro da Saúde, havia sido perseguido
pelos militares. Sabia bem como os governos eram poderosos nessa especialidade.
Fernando Henrique o convenceu a aceitar a maquinação porque dizia ser em favor
de sua candidatura a Presidente da República. Serra caiu na conversa”. Saulo
Ramos acrescenta: “O objetivo era montar a estratégia política da candidatura de
Serra à Presidência da República e desenvolver ações de espionagem e denúncias
contra possíveis opositores. Para tanto, Aloysio Nunes Ferreira, Ministro da
Justiça [o mesmo do dossiê Tasso] mandou instalar uma estação de escuta em São
Luís.
De acordo com Ramos, “essa “estação” foi
descoberta, e o Ministro da Justiça justificou que se destinava a combater o
narcotráfico. (…) São Luís nunca esteve na rota da cocaína. Nem no Rio de
Janeiro havia uma estação como aquela”.
Depois que a revista Época, da editora Globo,
publicou edição com o escândalo que envolvia Roseana, ela desistiu da
candidatura à Presidência, apoiou Lula e candidatou-se ao Senado, sendo
eleita.
Caso Tasso Jereissati
No dia 12 de junho de 2010, a jornalista
Christiane Samarco revelou, em reportagem do Estado de S.Paulo, que o então
governador Mário Covas, já adoentado, recebeu em 2000 a visita de Tasso
Jereissati, na época governador do Ceará, comunicando-lhe que estava impedido de
ser candidato a Presidência e o apoiava para o cargo, dizendo que “essa disputa
vai ficar entre você e o Serra. E meu candidato é você”.
Além de Mário Covas, o ex-governador do Ceará
tinha também o apoio do PFL de Antônio Carlos Magalhães, mas mesmo assim
desistiu da candidatura.
A reclamação de Jereissati foi a de que “setores
do PSDB no governo” estariam dificultando a liberação de recursos para o Ceará e
investigando sua vida.
De acordo com a reportagem, ao chegar ao palácio
da Alvorada para comunicar sua desistência a FHC, Tasso se encontrou com o
ex-ministro da Justiça e secretário-geral da Presidência, Aloysio Nunes
Ferreira, a quem o ex-governador do Ceará atribuía uma operação da Polícia
Federal que colocou agentes em seu encalço numa investigação de lavagem de
dinheiro.
Nesse encontro, segundo o Estado de S. Paulo,
houve um bate-boca entre Jereissati e Aloysio Nunes. Leia o trecho publicado e
entenda melhor como se movimenta o quarto elemento.
“Vocês jogam sujo!”, disse Tasso. (…) “Vocês
quem?”, quis saber Aloysio. (…) “Você…o Serra… Vocês estão jogando sujo e eu
estou saindo (da disputa presidencial) por causa de gente como você que está me
fodendo nesse governo” reagiu Tasso. (…) “Jogando sujo é a puta que o pariu”,
berrou Aloysio, já partindo para cima do governador. Fora do controle e vermelho
de raiva, Tasso chegou a arrancar o paletó e os dois armaram os punhos para
distribuir os socos. Foi preciso que o governador do Pará, Almir Gabriel,
apartasse a briga, enquanto FHC, incrédulo, pedia calma.
Caso Paulo Renato de Souza
Quando Serra era ministro da Saúde e o
ex-delegado da Polícia Federal e deputado, Marcelo Itagiba, cuidava da
“inteligência” da pasta, circulou um dossiê contra Paulo Renato de Souza, então
ministro da Educação. À época, Souza planejava disputar com Serra a indicação do
PSDB à presidência. Serra levou a melhor e foi candidato em 2002.
Ou seja, o elemento está em ação. A campanha de
São Paulo vai ser a mais suja dos últimos tempos, anotem. Serra sabe que se vier
a perder, será o fim de sua carreira política.
A nota de ontem de Mônica Bergamo é um aperitivo
do que vem por aí.
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