Jorge Cadima
A crise mundial do capitalismo aprofunda-se rapidamente. A crise financeira torna-se crise da economia produtiva. Multiplicam-se as notícias de recessão económica nos principais países capitalistas, de grandes empresas em dificuldades, de despedimentos em massa.
A General Motors foi, durante décadas, um símbolo maior do triunfante capitalismo dos EUA. Chegou a ser a maior empresa mundial. Talvez hoje continue a ser um símbolo, mas pelas razões opostas. Há já algum tempo em dificuldades, anunciou este mês prejuízos trimestrais de 4,2 mil milhões de dólares e disse que corria o risco de não ter dinheiro suficiente em caixa para se manter operacional. As vendas da GM estão a cair a pique e a bancarrota é uma possibilidade real. O preço das suas acções em Wall Street está no nível mais baixo dos últimos 60 anos (CNN, 7.11.08). Outro gigante da indústria automóvel está também em apuros: a Ford - do também lendário Henry Ford, cuja produção automatizada e altamente produtiva gerou a expressão “Fordismo” e simbolizou, no início do Século XX, a impetuosa dinâmica do capitalismo dos EUA. Com perdas trimestrais de 3 mil milhões de dólares e quebras nas vendas de 25%, a Ford viu o preço das suas acções cair 70% este ano (Bloomberg, 7.11.08). Junto com a Chrysler, estes colossos do “mercado livre”, sempre prontos para proclamar o seu ódio às intervenções estatais na economia, foram de mão estendida pedir subsídios e apoios estatais para garantir a sua sobrevivência. Falaram dos 260.000 trabalhadores da GM que correm o risco de perder o emprego, e dos muitos outros cujos postos de trabalho dependem da indústria automóvel. Mas quem viu o filme de Michael Moore, Roger e Eu, facilmente se convence que o despedimento dos seus operários sempre foi a última das preocupações da GM. O Estado serve ao grande capital para defender os seus interesses de classe. Que o digam as 220 das 700 maiores empresas britânicas que, segundo um recente relatório da Comissão de Contas Públicas do parlamento britânico, não pagaram nem um penny de imposto sobre as empresas em 2006-07 (wsws.org, 4.11.08). E isso foi “no tempo das vacas gordas”.
O maior grupo financeiro dos EUA, o Citigroup, acaba de receber um pacote de ajudas de 300 mil milhões de dólares (!) do governo dos EUA. As bolsas reagiram euforicamente a mais este brinde com dinheiro do contribuinte. Mas a dimensão do brinde reflecte a dimensão do buraco: o Citigroup, que este mês anunciou 53.000 despedimentos, está falido. O Financial Times de 22.11.08 está repleto de títulos pessimistas: «Crise cada vez mais profunda» do Citigroup; «Afundamento da indústria põe o banco Central Europeu sob pressão»; «Dias negros com advertências de que muito pior está para vir»; «Quando o medo começa a tomar conta do mundo real». Falando do índice S&P 500 da Bolsa de Nova Iorque, escreve o FT: «A queda, desde o seu pico em Outubro do ano passado, já excede os 50% […]. Estamos agora, sem margem para dúvidas, no pior momento da Bolsa desde os anos 1930». O Comissário da UE para as questões económicas, Joaquin Almunia, fala do perigo de deflação (Repubblica, 17.11.08).
Os dirigentes do G20 falam em concertar acções para ultrapassar a crise. Mas a realidade vai ser dura, dolorosa, geradora de conflitos de classe e conflitos entre potências rivais. O New York Times, paladino dos “liberais” nos EUA, dedicou um editorial (16.11.08) a dar conselhos ao novo Presidente Obama sobre questões militares. Com o título «Umas Forças Armadas para um novo e perigoso mundo», aconselha mais tropas terrestres, mais capacidade operacional «irregular» e mobilidade, maior capacidade de intervenção em qualquer ponto do globo. Confirmando que há coisas que não mudam, o NYT afirma: «este país tem que estar pronto para combater se for necessário». Na lista de potenciais inimigos, junto aos Talibãs e à Al-Qaeda, figura «uma China em ascensão, uma Rússia assertiva». É esta a “mudança”?
Fonte: Informação Alternativa/Avante.
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