Já que os banqueiros não estão nem um pouco interessados em ajudar o Brasil a enfrentar a crise financeira mundial, estou com o Requião.
Carlos Dória.
Requião defende estatização do financiamento para enfrentar crise de liquidez
Lúcia Norcio e Ivanir José Bortot.
Curitiba e Brasília - O governador do Paraná, Roberto Requião, defendeu hoje (27)a estatização do financiamento para enfrentamento da crise de liquidez do mercado financeiro internacional. “O governo federal, em vez de dar dinheiro para os bancos investirem em Letras do Tesouro, deveria tornar obrigatório o empréstimo ao empresário privado, à indústria brasileira, fundamentalmente”, disse Requião, em entrevista à Agência Brasil.
Roberto Requião vai realizar em Curitiba um seminário internacional que reunirá economistas do Brasil, da China, do Japão, da Venezuela e da Argentina para discutir alternativas de desenvolvimento econômico para o modelo “neoliberal”, que considera responsável pela atual crise financeira internacional.
O encontro – para o qual estão convidados também governadores e potenciais candidatos à Presidência da República – terá a presença do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e dos economistas Carlos Lessa, Luciano Coutinho e Luiz Gonzaga Belluzo.
Veja a seguir a entrevista de Roberto Requião:
Agência Brasil (ABr) – Diante da importância da agricultura na economia paranaense, como o senhor vê o reflexo da queda dos preços agrícolas?
Roberto Requião – O Paraná é o primeiro produtor agrícola do Brasil, responsável por cerca de 32 milhões de toneladas e, mais do que isso, temos um foco principalmente na pequena e média propriedades, que são as que fornecem os alimentos que vão para a nossa mesa. O foco do Paraná é na produção de alimentos para a mesa do povo, e isso não significa que desprezamos a exportação, que é muito interessante para a balança comercial brasileira. Ainda não temos uma avaliação dos reflexos externos, mas estamos tomando medidas para estimular a produção de pequenas e médias propriedades.
ABr - O senhor está promovendo uma seminário para discutir os reflexos da crise financeira internacional na economia local com que objetivo?
Requião – Há uma necessidade absoluta de discutirmos exaustivamente a crise americana, que se espraia pelo mundo. Não podemos deixar que essa crise seja discutida apenas pela grande mídia, pelos teóricos da economia, que criaram a crise, o livre mercado, o neoliberalismo, o consenso de Washington. Tem mais papel pintado de verde [dólar] no mundo hoje do que a economia global, que produz bens e serviços. Então, temos que discutir isso em profundidade. A idéia surgiu de um velho amigo, o economista Carlos Lessa [ex-presidente do BNDES]. Estamos convidando personalidades de visão heterodoxa da economia; eu não vou convidar os causadores do desastre, que hoje querem receitar para um doente de resfriado – que se resfriou porque eles recomendaram um banho frio em um dia de inverno - aspirina. Queremos um caminho definitivo para a saída da crise.
ABr - E quais são estas correntes de pensamentos diferentes?
Requião – Do nosso governo, estamos trazendo o Guido Mantega [ministro da Fazenda], o Márcio Pochmann [presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea], o Luciano Coutinho [presidente do BNDES] e o economista Luiz Gonzaga Belluzzo. Teremos convidados da China, do Japão, da União Soviética, da Venezuela e da Argentina. Vamos fazer um seminário de 7 a 11 de dezembro. Para o último dia, estamos convidando os governadores de todos os estados. E hoje eu recebi a sugestão de incorporar ao evento alguns pretendentes a candidatos àa Presidência da República, que não são só governadores, como o deputado Ciro Gomes [PSB-CE].
ABr - Quais os temas que serão tratados da crise financeira internacional?
Requião – Economia mundial, crise e poder mundial; crise e integração sul-americana, que é uma coisa que nos interessa muito de perto; crise e projeto nacional, qual é o projeto que o Brasil tem. Ainda a crise e o sistema financeiro mundial: o papel da China, dos Estados Unidos, da Rússia e da Índia. Crise e Brasil. Ao contrário do que pode parecer, não é uma discussão sobre o Brasil, é sobre os projetos nacionais, é a globalização versus Estado-nação. Os Estados Unidos são um país que defende os interesses de seu povo, a Alemanha também, e nós não podemos nos embair [enganar] com essa história de que eles são os patronos da globalização e da concórdia universal. Não são. O ideal seria isso, mas não acontece, e se entramos por esse caminho, assumimos um papel tolo.
ABr - E qual seria a saída para a nossa política econômica?
Requião – Eu acho que a saída vai ser discutida no seminário, mas hoje eu diria que a saída no curto prazo é a estatização do financiamento no Brasil. O governo federal, em vez de dar dinheiro para os bancos investirem em Letras do Tesouro, deveria tornar obrigatório o empréstimo ao empresário privado, à indústria brasileira, fundamentalmente. Não existe um país gerando empregos produzindo commodities como se fosse um canteiro à disposição do mundo; uma plantation [sistema agrícola em que se cultiva apenas uma espécie vegetal], como a Inglaterra fez na Índia e na África. Quando ela parou de plantar, não deixou nada atrás disso. Então, nós precisamos de financiamento para a indústria brasileira, e isso só é possível hoje com a estatização do crédito, e investimentos pesados em infra-estrutura. Nós vivemos num país em que 60% do território não é acessado por estrada de ferro, por rodovia, por avião, não tem eletricidade, não tem telefonia.
Fonte: Agência Brasil.
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