quinta-feira, 27 de novembro de 2008

"NÃO SOU PESSIMISTA, O MUNDO É QUE É PÉSSIMO"

José Saramago.

De passagem no Brasil para inaugurar a exposição A Consistência dos Sonhos e lançar seu mais recente romance, A Viagem do Elefante (Cia das Letras), o escritor português José Saramago mostrou na terça-feira que o pessimismo tomou conta de seus sonhos. Ganhador do prêmio Nobel de literatura em 1998, Saramago falou com jornalistas por mais de uma hora no Consulado de Portugal. A certa altura da conversa, declarou: “Não sou pessimista. O mundo é que é péssimo”.

Para o autor de Ensaio Sobre a Cegueira, não há alternativas políticas, e a esquerda não está organizada. Hábil com as palavras, em vez de responder perguntas, foi Saramago quem elaborava questões. “Nessa longa história da humanidade, em que ponto tomamos uma direção errada que nos levou ao desastre que estamos hoje, do qual somos responsáveis? A literatura pode salvar o mundo? Mas salvar o mundo como? Principalmente depois de tudo o que já se escreveu. Como não conseguimos mudar o rumo de nossas vidas?”

Depois de instaurar a perplexidade, o escritor continuou as provocações, sinalizando que a saída é a transformação individual — para mudarmos a vida, é preciso mudarmos de vida. “Quantos delinqüentes existem no mundo? A violência já atingiu o nível da barbárie. A corrupção chegou a tal ponto que é um problema de linguagem”, afirmou.

“A palavra bondade hoje significa qualquer coisa de ridículo. É preciso conquistar, triunfar. Ninguém se arrisca a dizer que seu objetivo é ser bom. Querer se bom em uma época como esta é se apresentar como voluntário para a eliminação. Como chegamos a isso?”, acrescentou Saramago.

A Viagem do Elefante é, entre tudo o que escreveu, a obra em que há mais humor, disse o escritor. “A história pedia isto. Mesmo eu tendo parado de escrever o livro quando fiquei doente, não deixei em nenhum momento que transparecesse na obra que se tratava de um livro de um escritor à beira da morte.”

O lançamento do livro, com a presença de Saramago, acontece nesta quarta-feira, na Academia Brasileira de Letras, no Rio, e as na quinta-feira (27), no Teatro Paulo Autran, no Sesc Pinheiros, em São Paulo, com uma leitura da atriz Sandra Corveloni.

Saramago se lembrou de um tempo em que a literatura brasileira era tão conhecida em Portugal quando à literatura portuguesa. “Agora desapareceu. Não sei por quê. O governo ou as editoras deveriam fazer algo. Mas creio que Portugal está muito bem representado em termos de literatura no Brasil e seria certo reequilibrar isso.”

Já A Consistência dos Sonhos — exposição que reúne mais de 1.200 documentos de Saramago, entre manuscritos, primeiras edições, agendas, fotos e material audiovisual — foi organizada por Fernando Gómez Aguilera. Após dois anos de pesquisa entre o acervo e acesso a todo o material do escritor, Aguilera selecionou as preciosidades que retratam a vida e o trabalho do escritor.

A mostra será aberta para convidados na noite de 28 de novembro, com a presença de Saramago, e fica em cartaz no Instituto Tomie Ohtake até 15 de fevereiro com entrada franca.
Fonte:Site O Vermelho.

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