quinta-feira, 20 de novembro de 2008

DEZ PERGUNTAS PARA COMUNISTAS DE CARTEIRINHA.

DEZ PERGUNTAS PARA COMUNISTAS DE CARTEIRINHA:
CUIDADO, ELES PODEM ESTAR BEM PERTO DE VOCÊ!

Você que mora em São Paulo e assina a “Veja”: cuidado! “Eles” estarão por toda a parte na próxima semana! Entre os dias 21 e 23 de novembro, comunistas de mais de 70 países se reunirão na capital paulista para o Décimo Encontro Mundial de Partidos Comunistas e Operários.

Não se sabe se o prefeito Kassab vai levá-los para desvendar os encantos da Daslu. Talvez, prefiram caminhar, em hordas, pela Avenida Paulista. Se você desconfiar da atitude de algum deles, caro leitor da “Veja”, peça logo a identificação: são todos comunistas de carteirinha!

Não deixa de ser saboroso acompanhar um encontro como esse, ainda mais em São Paulo, menos de 20 anos depois de os liberais terem decretado o fim da história e a vitória definitiva do Capitalismo.

Nas últimas décadas, a reação ao avanço neo-liberal se deu de forma descentralizada: em eventos como o Fórum Social Mundial, ou em manifestações anti-globalização nas ruas de Seattle e nas selvas de Chiapas. A alternativa político-partidária parecia estar descartada. O embate deveria ser difuso, sem estruturas piramidais a comandar a mudança, sem vanguardas, sem disputa pelo poder.

Aos poucos, mesmo dentro do Fórum Social Mundial, uma corrente de militantes passou a se perguntar se esse embate difuso seria suficiente para pôr em cheque o Capitalismo...

Foi na América Latina que a roda começou a girar de novo: movimentos sociais na Venezuela, Equador, Bolívia, Argentina e (de uma forma diferenciada) também no Brasil e no Chile geraram alternativas políticas que resultaram na tomada do poder central por forças que se opunham às elites liberais.

Hoje, dá-se na America Latina o embate pelo aparato de Estado. É o que vemos nas barreiras de estrada e nos discursos racistas da elite boliviana, nas tentativas de golpe na Venezuela, nos embates para domar a Constituição equatoriana e, de forma mais velada, na cruzada da imprensa anti-lulista no Brasil.

É verdade que os setores que hoje ocupam o centro do poder nesses países citados não se reivindicam como comunistas, nem tampouco usam a velha estratégia da vanguarda leninista. Mas o embate na America Latina mostra a inevitabilidade da disputa pelo poder. A questão não é disputar ou não o poder, mas como disputar e com qual programa?

Em poucas palavras: a esquerda latino-americana trouxe a Política de volta ao centro do tabuleiro. Não é por outro motivo que os Partidos Comunistas de todo o mundo escolheram nosso Continente para o encontro que ocorre semana que vem.

A chamada grande imprensa, podem escrever aí, vai ignorar o evento; ou, então, vai cobrir a reunião com aquele ar de desdém com que costuma se referir à esquerda: “ah, aqueles dinossauros, comunas ultrapassados”... Vai tirar um sarro, vai desqualificar, vai tratar a reunião como se estivesse diante de uma turma de veteranos da Revolução de 32. Penso, especialmente, na forma como aquela revista - editada às margens fétidas do rio Pinheiros, em São Paulo – costuma se debruçar sobre esses temas...

O evento, certamente, merece uma cobertura crítica. Mas séria. Não tenho pretensão de esgotar o assunto, mas levanto algumas questões que gostaria de ver respondidas pelo heterogêneo grupo de comunistas que se reunirá em São Paulo:

1- A crise do Capitalismo traz de volta o debate sobre o Socialismo como alternativa histórica?

2- Marx ajuda a entender o que se passa hoje no centro do Capitalismo?

3- O encontro de São Paulo pode significar uma articulação mundial do movimento comunista, que se enfraqueceu desde a década de 80, com a crise do Bloco Socialista?

4- Por que os partidos comunistas enfrentam crises tão sérias na Europa, sem conseguir atrair eleitorado jovem, e em muitos casos com dificuldade para manter a imprensa partidária?

5- A América Latina, com Chavez e o “socialismo bolivariano”, seria a região do Mundo onde o debate sobre Socialismo mais avançou nos últimos anos? Vale lembrar que, mesmo aqui, os comunistas não detêm a hegemonia dos processos sociais... No caso venezuelano, por exemplo, o PC apóia Chavez mas não quis se dissolver no PSUV (o partido oficial do chavismo).

6- Os comunistas seguem acreditando no leninismo como estratégia de tomada do poder? Ou a fase do vanguardismo acabou?

7- O que a tragédia do Socialismo Real no século XX (com ditaduras, execuções e perseguições) ensinou aos comunistas? Ou não ensinou nada? Stalin cometeu só alguns “equívocos”, desviando o Socialismo de seu caminho virtuoso? Ou o erro começou lá atrás, com a concepção vanguardista de Lênin?

8- É possível adotar uma estratégia mundial de combate ao Capitalismo?

9- A Democracia é uma categoria “burguesa” ou é um valor universal, um patrimônio da Humanidade, transformando-se inclusive (e principalmente) numa ferramenta dos menos favorecidos?

10- A classe operária segue como “portadora” da Revolução? Aliás, alguém ainda pensa em “uma” Revolução? Ou a idéia é a disputa permanente por hegemonia, disputa de valores, disputa política, feita a cada dia?

Algumas dessas perguntas podem parecer “fora de moda”. Mas é bom lembrar que o Capitalismo e o Mercado também estão ligeiramente “fora de moda”.

Por isso, que venham os comunistas! De carteirinha! Precisamos, ao menos, escutá-los com atenção.
Fonte:Blog do Rodrigo Viana.

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