sábado, 22 de novembro de 2008

SALVE O ALMIRANTE NEGRO.

Neste 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, o presidente Lula celebra oficialmente a instalação da estátua de João Cândido, o Almirante Negro, líder da Revolta da Chibata, nas pedras pisadas do cais da Praça 15, no Rio de Janeiro.

O ato, carregado de simbolismo, é mais uma homenagem e reconhecimento a essa figura histórica do Brasil, que colocou a capital da República de joelhos, no início do século 20, para reivindicar, principalmente, o fim dos castigos físicos a que eram submetidos os marinheiros anos após a abolição da escravatura e o fim da monarquia.

Pelo ato que liderou, João Cândido teve uma vida de privações, que começa a ser reparada agora, com a anistia póstuma sancionada por Lula há quatro meses, embora ainda falte a reintegração à Marinha, com a incorporação de todos os soldos que lhe são devidos.

A instalação da estátua na Praça 15 é mais que justa pelo que o cais representa para a cidade, para a revolta e para a vida de João Cândido, que depois de expulso da Marinha passou a sobreviver da venda de peixes no local. A estátua, criada em 2007, foi inicialmente colocada nos jardins do Palácio do Catete, um dos locais para onde os revoltosos miraram seus canhões, porque a Marinha não tolerava a homenagem a um marinheiro expulso nas proximidades do 1º distrito naval. Com a anistia oficial, a estátua, enfim, será colocada de frente para a Baía de Guanabara, onde a maestria de João Cândido no comando das principais embarcações de guerra à época lhe valeu o apelido de Almirante Negro.

Há muito tempo nas águas da Guanabara, um filho de ex-escravos, inconformado com os maus tratos aos marinheiros, liderou um motim para dar dignidade à Marinha brasileira. Em novembro de 1910, cinco anos depois da revolta do encouraçado Potenkim, que também contestava, entre outras questões, os castigos físicos, João Cândido assume o comando do encouraçado Minas Gerais e aponta os seus canhões e o de mais três navios de guerra, para o Catete e outros pontos estratégicos da então capital federal.

Com a dignidade dos mestres-sala, comunicou aos poderosos que não podia aceitar mais a escravidão na Marinha. Acuado, o governo concorda em acabar com os castigos corporais e anistiar os revoltosos. Eduardo Galeano descreve poeticamente o maravilhoso momento da vitória da revolta: “João Cândido tira o lenço vermelho do pescoço e baixa a espada. O almirante torna a ser marinheiro”.

Quando baixa as armas e volta a ser marinheiro, o governo o trai. João Cândido é enviado para uma masmorra na ilha das Cobras e expulso da Marinha. Passa a estivador e vendedor de peixes na Praça 15 e morre em 1969, aos 89 anos, pobre e sem as honras que agora lhe são merecidamente prestadas.

MAIR PENA NETO/ Site Direto da Redação.

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