segunda-feira, 17 de novembro de 2008

EUA: Aposentados ficam mais pobres.

Clifford Krauss * - O Estado SP

Depois que o mercado acionário começou a cair, amigos têm procurado Barbara Goldsmith para falar sobre sua depressão, perda de apetite e insônia. “As pessoas estão sofrendo”, disse Goldsmith, uma terapeuta semi-aposentada que aconselha colegas residentes no Gleneagles Country Club, um condomínio fechado daqui. “Houve uma morte. O dinheiro deles morreu.” Em comunidades como Gleneagles e nas casas de aposentados, estes são dias de medo e incerteza.

Em teoria, os aposentados não deveriam investir muito no mercado acionário; na realidade, muitos milhões o fazem. Com a economia em queda livre e as ações registrando perdas de 40% neste ano, legiões de pessoas das classes média e média alta estão subitamente preocupadas sobre se terão o suficiente para continuar vivendo.

Evidentemente, não estão se formando filas para o pão em lugares como Gleneagles. Os aposentados jogam golfe, tênis e cartas. Mas sustentar essa vida confortável por mais duas ou três décadas, como muitos aposentados esperam fazer, requer dinheiro. Pessoas com investimentos que valiam US$ 1 milhão ou US$ 2 milhões, alguns meses atrás, estão subitamente cancelando cruzeiros, recortando cupons de supermercados, comendo em casa e não em restaurantes e reduzindo contribuições para a formação universitária dos netos.

Como os aposentados de toda parte, os moradores daqui jogaram deliberadamente com o que viam com riscos competitivos. Eles todos ouviram o conselho padrão para retirarem seus ativos de ações para investimentos mais seguros quando se aproximavam da aposentadoria. Mas, com as taxas de juros muito baixas, os retornos sobre investimentos seguros como os títulos do governo eram magros, e muitos deles viam um risco em não manter algum dinheiro em ações. Para financiar uma longa aposentadoria, eles acharam que precisariam dos ganhos do mercado acionário.

Manter o dinheiro em ações os deixou expostos ao risco de um derretimento do mercado que ocorre uma vez na vida. Agora, esse dia está próximo. “Cada monitor de TV da sala de jogos e do vestiário está sintonizado na CNBC para ficarmos apreensivos o dia todo”, disse Jerry Rivkin, de 75 anos, dono de loja de eletrodomésticos aposentado. “Nós ficamos jogando por moedas e centavos enquanto nos assistimos perdendo dezenas de milhares.”

Para enfrentar a situação, algumas pessoas estão vendendo suas casas no Norte, para garantirem sua permanência aqui. Um punhado de condôminos em Gleneagles teve sua hipoteca executada. Durante anos, consultores de aposentadoria disseram que os idosos deviam investir pouco em ações, colocando a maioria de seus ativos em bônus, certificados de depósito e outros investimentos conservadores. Mas mesmo alguns dos especialistas reconhecem que essa estratégia nem sempre funciona para pessoas aposentadas com boa saúde que podem viver até os 90 anos ou mais.

“Com as expectativas de vida do jeito que estão, e a medicina melhorando a cada ano”, disse Joseph La Scala, um consultor financeiro sênior da GunnAllen Financial, “alguém que esteja entrando na aposentadoria agora precisa ser um investidor de longo prazo, e isso significa que precisa haver mais alocação de investimentos em ativos de crescimento como ações.”

Segundo estatísticas do governo, um terço dos aposentados quase não tem exposição em ações. Mas estes são principalmente pessoas pobres ou de baixa classe média cuja renda depende da Previdência Social. Outras estão blindadas por benefícios de pensões, embora estes estejam encolhendo nos últimos anos, especialmente para aposentados mais jovens.

Especialistas em aposentadoria dizem que uma maioria das pessoas das classes média e média alta tem portfólios bem mais carregados de ações e correm mais risco do que o normalmente recomendado. Segundo estudo da Universidade de Michigan patrocinado pelo National Institute of Ageing, dos 40% mais ricos da população com 75 anos ou mais, mais da metade tinha pelo menos um terço de suas poupanças em ações.

“As pessoas idosas de classe média fizeram planos baseados num conjunto de suposições de como o mundo funciona, e o mundo endoidou”, disse Alicia H. Munnell, diretora do Centro de Pesquisas sobre Aposentadoria do Boston College. Essas suposições já incluíram as noções de que contas bancárias e bônus corporativos eram seguros, e as ações de primeira linha eram os melhores investimentos de longo prazo.

“Se ligar para minha mãe”, disse Jason J. Fichtner, vice-comissário em exercício do departamento de Previdência Social, “sua meta era US$ 1 milhão em ações para se aposentar. Ela teve isso por um fim de semana, e agora seu valor caiu para US$ 600 mil.”

Em Gleneagles, as pessoas ainda jogam cartas, golfe e tomam aulas de pintura. Mas a apreensão da comunidade é palpável e crescente. “Eu me sinto horrível”, disse Harry Pure, 80 anos, diretor de atletismo aposentado da Universidade de Filadélfia, que perdeu 25% de suas poupanças. Num intervalo de sua aula de pintura, ele disse: “Era ótimo colocar a cabeça no travesseiro de noite e saber que estava seguro. Agora eu coloco a cabeça no travesseiro e as células cinzentas não conseguem dormir. Todos os diferentes cenários ficam ocupando minha mente agora: O que fazer?”.

“Isso ameaça nosso estilo de vida”, disse Sid Freedman, 74 anos, um antigo dono de uma empresa têxtil. Com mais de US$ 2 milhões em ativos, ele achava que ele e a esposa estavam preparados para uma aposentadoria longa e segura.
Escreve para The New York Times, de Delray Beach, Flórida.
Fonte: Blog do Favre.

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