Mário Augusto Jakobskind.
Alias, sobre Cuba, como assinalou o presidente Lula, espera-se que Obama acabe de uma vez por todas com o bloqueio que perdura quase 50 anos, pois não tem sentido a continuidade, por sinal, defendida por John McCain. Este, vale lembrar, tinha na chefia de seu gabinete no Senado até 2004 um tal de Frederick Latrash, que em 1976 dirigia a CIA no Uruguai, e que, segundo João Vicente Goulart, teria participado ativamente de um complô que culminou com a morte do pai, João Goulart, numa troca de remédio por veneno.
Depois da festa, o cenário da realidade
Passada a euforia da derrota do esquema hediondo do Partido Republicano e a eleição do primeiro presidente negro nos Estados Unidos, leitores e telespectadores devem começar a cair no real. A cobertura eletrônica da eleição tecnicamente falando foi perfeita, mas em termos de conteúdo, como não poderia deixar de ser, deixou a desejar.
A TV Globo, para variar, montou um esquema na base do oba-oba, como costuma fazer em acontecimentos de grande interesse. Repórteres e âncoras se deslocaram até o cenário eleitoral, pouco acrescentando em termos de conhecer com mais profundidade os desafios que o presidente eleito encontrará pela frente.
O ?homem mais poderoso do mundo?, como a todo momento é mencionado Barack Hussein Obama na mídia, representa, sem dúvida, um fato novo na política interna estadunidense. Conseguiu despertar o povão. Daqui para frente resta aguardar como se comportará o presidente eleito e sua equipe que tomará posse a 20 de janeiro. Sem dúvida, teremos dois meses de vácuo, pois o hediondo George W. Bush já fez as malas e neste período será apenas um ocupante da Casa Branca em retirada. Seria até um fato importante a retirada final fosse antecipada. Bush e o restante do grupo caminharia mais cedo para o lixo da história, o que seria muito bem recebido pela comunidade internacional.
Dedo no gatilho.
Em termos de política externa, há que se esperar para ver se Obama conseguirá tirar o dedo do gatilho. Na América Latina, um amigo e correligionário do presidente eleito, o governador do Novo México, Bill Richardson, recentemente circulou por Caracas dialogando com Hugo Chávez. Entenderam-se. Possivelmente EUA e Venezuela voltarão a se relacionar sem as tensões que caracterizaram a era Bush, que desde sempre tentou se intrometer em assuntos internos da República Bolivariana, haja vista o apoio à tentativa de derrubada de Chávez em abril de 2002. Aguardemos.
Com a África, Obama tem vínculos históricos, claro. O governo de Quênia, país de onde era originário o pai do presidente eleito dos EUA, decretou até feriado em homenagem a Obama. Para honrar suas tradições terá que ter um olhar diferenciado dos dias atuais sobre a África. Grupos econômicos poderosos, inclusive do setor petrolífero, querem continuar rapinando o continente.
A melhor homenagem que fará ao pai queniano é mudar, não seguindo o mesmo tipo de política. Resta saber se terá força política para conseguir isso. Afinal, Obama é do establishment e por mais idealista que seja (vamos dar um crédito de confiança nesse sentido) dificilmente terá condições de evitar que a rapina que ajudou a fazer com que o continente africano se encontre na situação atual de penúria prossiga. Deveria ser um compromisso de Obama. É compromisso.
Estuário das lutas do povo.
A eleição de Obama, como assinala o analista uruguaio Raul Zibechi, representa uma espécie de estuário das lutas do povo norte-americano, lutas estas que passam pelo sonho de Martin Luther King, pela mobilização de milhares de trabalhadores reprimidos em 1 de maio de 1886, em Chicago, o principal centro industrial dos Estados Unidos daquela época, quando foram às ruas protestar contra as condições de trabalho desumanas a que eram submetidos e exigir a redução da jornada de trabalho de 13 para 8 horas diárias.
Passa também pela luta das mulheres socialistas norte-americanas que culmina no Dia Internacional das Mulheres, em 8 de março. E tudo isso na mesma Chicago onde Obama fez o primeiro discurso como presidente eleito para milhões de norte-americanos, para reafirmar que ?sim, nós podemos?, ou seja, que os estadunidenses podem mudar, dependendo deles mesmo, segundo disse no discurso.
?Sim eu posso?, ?nós podemos?
Aliás, por coincidência ou não, o ?Sim nós podemos? é similar ao ?Si, jo puedo (sim, eu posso)? que embala o método de alfabetização cubano hoje utilizado na América Latina, África e Ásia.
Alias, sobre Cuba, como assinalou o presidente Lula, espera-se que Obama acabe de uma vez por todas com o bloqueio que perdura quase 50 anos, pois não tem sentido a continuidade, por sinal, defendida por John McCain. Este, vale lembrar, tinha na chefia de seu gabinete no Senado até 2004 um tal de Frederick Latrash, que em 1976 dirigia a CIA no Uruguai, e que, segundo João Vicente Goulart, teria participado ativamente de um complô que culminou com a morte do pai, João Goulart, numa troca de remédio por veneno. Pode-se imaginar o que seria se McCain, tendo como vice Sarah Pallin, ganhasse a eleição.
Em outra área conflagrada do planeta, o Oriente Médio, Obama terá de se diferenciar do que foi feito até agora por sucessivos governos estadunidenses. Se continuar dando total apoio e de forma acrítica a Israel, não levando em conta os justos interesses palestinos, o presidente eleito apenas perpetuará injustiças que perduram há mais de 60 anos.
É isso aí. Além da crise financeira que segue a todo vapor, Obama terá de enfrentar mais pepinos e se não o fizer de forma diferenciada de outros presidentes estadunidenses, inclusive de Bill Clinton, o último democrata que ocupou a Casa Branca, será apenas mais um do mesmo. Aguardemos, esperando que Obama cumpra as promes.
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