Luciano Siqueira.
Uma boa nova: desde 1964 - quando o golpe militar interrompeu rico debate acerca de uma alternativa nacional de desenvolvimento -, é a primeira vez que o governo federal reage a uma situação de crise financeira mundial e a ameaças externas apostando em nossas próprias potencialidades. Ponto para o presidente Lula.
E não é pouco. Veja a diferença: com FHC, uma equipe do governo já teria ido ao FMI em busca da receita sobre o que fazer; com Lula, o próprio presidente decide manter investimentos públicos em infra-estrutura, maneja reservas monetárias para fomentar a produção, o crédito, o consumo e o emprego – e, de quebra, participa dos fóruns internacionais com voz altiva e postura soberana.
Mas falta algo da maior importância, no ambiente interno. Melhor dizendo: no diálogo que o governo vem mantendo com os diversos atores sociais. É uma presença mais efetiva dos trabalhadores à mesa dos debates.
Isso tem que se corrigido logo. Tanto porque a um governo de centro-esquerda liderado por um operário metalúrgico cuja liderança política nasceu nos embates de classe nas fábricas e nas ruas não se pode permitir tal deslize; como porque a crise atinge a todos, a resistência há que ser de todos e não se irá a bom lugar sem a opinião, a energia criativa e a preservação dos direitos dos que sustentam o dia a dia da produção de riquezas.
As centrais sindicais se movimentam nesse sentido. Dispersas por razões ideológicas e políticas, convergem na defesa das ainda parcas, porém significativas, conquistas que vêm obtendo no curso da retomada do crescimento econômico nos anos recentes. As centrais mais expressivas - CTB, CGTB, CUT, FS, Nova Central e UGT – discutem o que dizer ao presidente Lula em encontro já agendado e o formato da próxima Marcha dos Trabalhadores, dia 3 de dezembro, em Brasília.
E há muito que dizer, interesses muito concretos a defender.
O governo destina recursos para determinado setor empresarial? Tudo bem, os trabalhadores concordam, desde que haja contrapartidas sociais, como a manutenção de postos de trabalho. O governo quer avançar na intervenção do Estado como indutor do desenvolvimento? Os trabalhadores aplaudem. As empresas reduzem o nível da produção? Que reduzam também o tamanho da jornada dos seus empregados sem diminuição dos salários.
Além disso, uma visão patriótica e na condição de partícipes da cena política, os trabalhadores fazem suas propostas para superar entraves ao crescimento, como redução dos juros e do superávit fiscal.
Que o próprio presidente faça por onde o governo absorva essa indefensável presença nos debates sobre as medidas anti-crise.
Fonte: Blog do Luciano Siqueira.
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