Cristóvão Feil.
Modelo atual de produção de agrocombustível é insustentável, dizem manifestantes./
No comentário político da semana, o sociólogo Cristóvão Feil comenta sobre o Seminário Internacional de Agrocombustível, que ocorreu em São Paulo. Organizado por movimentos sociais e organizações públicas de 13 países, eles exigem o fim das monoculturas como modelo de desenvolvimento e criticam os incentivos fiscais dados pelos governos às grandes empresas do setor.
Porto Alegre (RS) - Nesta última semana aconteceu em São Paulo o Seminário Internacional de Agrocombustíveis. Compareceram organizações sociais, entidades civis públicas e movimentos sociais do campo e da cidade, que lutam pelo meio ambiente e pelos direitos humanos dos seguintes países: Colômbia, Bolívia, Costa Rica, Bélgica, Equador, El Salvador, México, Argentina, Alemanha, Estados Unidos, Holanda, Suécia e também do Brasil. No final do seminário, que se prolongou por três produtivos dias de intensos debates, foi redigido um documento que trata dos problemas e dos impactos do atual modelo de produção dos chamados agrocombustíveis.
As conclusões a que chegaram os participantes desses treze países são as seguintes:
1) A agricultura industrial para a produção de biocombustíveis é insustentável porque só se viabiliza através da expansão das monoculturas, da concentração de terras, do uso intensivo de venenos químicos, da superexploração dos bens naturais comuns como a biodiversidade, a água e o solo.
2) A produção em escala industrial dos biocombustíveis é causadora dos desmatamentos e da destruição de ecossistemas em todo o mundo e especialmente da Amazônia, além de outros biomas do Brasil e da América Latina
3) Foram dirigidas fortes críticas aos financiamentos públicos para esse tipo de cultura destruidora, afirmando que o setor sucroalcooleiro, os usineiros, no Brasil não se sustenta sem o financiamento público. E que a promoção dos programas governamentais de biocombustíveis é caracterizada por incentivos e subsídios governamentais diretos, como os do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e indiretos, como a não-penalização das evasões fiscais, sonegações e mesmo o perdão de dívida dos fazendeiros.
4) A soberania energética não poderá ser alcançada em prejuízo da soberania alimentar, foi outra das conclusões.
Finalmente o documento conclusivo do Seminário Internacional de Agrocombustíveis propõe que se lute por uma nova organização do modo de vida em sociedade e das relações entre campo-cidade. O documento, assinado pelos representantes dos 13 países, será entregue a representantes de todos os governos, no intuito de expressar a posição das organizações participantes do seminário como um contraponto às políticas públicas desses diversos países, inclusive o Brasil.
Como disse uma das participantes do seminário em São Paulo: este documento é contrário à expansão do agronegócio da energia e das grandes monoculturas energéticas voltadas exclusivamente à exportação. O seminário internacional provou finalmente que a expansão do chamado agronegócio de exportação depende umbilicalmente da ajuda financeira dos governos. E que enquanto tivermos governantes que alimentam essa relação prejudicial à maioria das populações, os problemas da falta de alimentos e as agressões ambientais continuarão acontecendo. Infelizmente.
Pensem nisso, enquanto eu me despeço.
Até a próxima!
Fonte: Blog Diário Gauche.
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