segunda-feira, 17 de novembro de 2008

VENEZUELA - Porque estou ajudando Hugo.

Por Ken Livingstone (*)

Existem alguns países cuja realidade é distorcida por setores da mídia. E alguns sobre os quais mentiras absolutas são escritas a seu respeito. Minha primeira viagem a Caracas revelou que a Venezuela está firmemente nesta segunda categoria.

A idéia de que este país é uma ditadura é ridícula – provavelmente alguns daqueles que a promovem assiduamente têm dificuldade em não cair no riso. Que “ditadura” é esta, onde o presidente aceita a perda de um referendo para modificar a constituição, que promove mais eleições nacionais do que virtualmente qualquer outro país no mundo, e onde as paredes e postes de luz em áreas de Caracas estão vividamente ornados com pôsteres de candidatos anti-Chávez? Não, uma ditadura é um país como a Arábia Saudita – cujo líder, evidente, é oficialmente festejado em visitas a Londres.

Acompanhando uma reunião de candidatos pró-Chávez sobre as eleições que estão por vir para o governo local na capital, era evidente que eles não tinham a menor certeza quanto ao seu sucesso – assim como aconteceu com o referendo constitucional recente, uma derrota é possível. A discussão, como em qualquer eleição local na Grã-Bretanha, era sobre como buscar uma solução para as questões práticas afetando a qualidade de vida das pessoas.

Caracas mostra visivelmente os problemas que o país enfrenta e o progresso feito nos últimos anos. Nos bairros centrais a oeste, as casas da velha elite e da classe média-alta são melhores do que as casas no subúrbio mais caro de Londres. Elas são cercadas por vários milhões de pessoas vivendo na pobreza em "barrios" – favelas construídas de qualquer jeito, empoleiradas nas encostas de montanhas e sem a menor infra-estrutura. Estas áreas nem constavam nos mapas das administrações anteriores!

Esse é o produto de um sistema onde dezenas de bilhões de dólares de riqueza do petróleo foram enviados para o exterior para servir a essa elite, sem buscar uma solução para as questões mais elementares da qualidade de vida da maioria do povo.

Isso mudou. Uma visita a um dos tantos centros comunitários novos mostrou como milhões de pessoas tiveram acesso a um novo sistema de saúde pública gratuita, incluindo odontologia. O analfabetismo foi eliminado ao nível dos padrões da Unesco. O acesso à educação está sendo rapidamente expandido.

Uma prioridade de máxima importância agora é transformar a infra-estrutura básica por toda a cidade. De maneira que, como os candidatos a prefeito colocaram para mim, as pessoas se sintam como cidadãos com direitos nos seus bairros.

As chaves são reduzir o crime e transformar a eficácia econômica e a qualidade de vida da cidade.

Um programa extraordinário de expansão das linhas de metrô e trem nas áreas pobres foi iniciado. Junto com isto é necessário atacar os problemas do congestionamento, do lixo e proteção ambiental, melhorar os serviços de ônibus e desenvolver o policiamento comunitário.

A Venezuela sempre teve os recursos e agora ela tem a vontade política para começar a alçar as suas cidades aos padrões mundiais. Mas ela precisa de habilidade para fazer isto com rapidez e eficiência.

É aí que a experiência de Londres pode ajudar. Entre 2000 e 2008, Londres foi reconhecida como a cidade do seu tamanho de maior sucesso no mundo, ao transformar os seus serviços de ônibus, colocar a polícia de volta nas comunidades locais, atacar o congestionamento do tráfego e vencer a disputa pela Olimpíada.

Esta experiência está sendo procurada por muitas outras cidades – incluindo Caracas. É por isso que o presidente Chávez me convidou para a Venezuela e é por isso que, juntamente com outras cidades, me sinto satisfeito em continuar o projeto de consultoria e debate entre Londres e a Venezuela.

(*) Ex-prefeito de Londres. Artigo publicado no jornal britânico The Guardian em 29/08/2008, original aqui.
Fonte:Blog Fazendo Média.

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