sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

MEIO AMBIENTE - Lei brasileira tolera o uso de substância cancerígena banida em quase 50 países.

É incrível como existem juízes que dão liminares à empresas que exercem atividades que prejudicam a saúde de seus empregados.
Carlos Dória.

por Sidnei Liberal*

250 mil trabalhadores brasileiros são expostos ao amianto cuja produção vem se amparando em liminares do supremo.

Supremo Tribunal Federal (STF) já começa a se sensibilizar diante do entendimento da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (AIPC), da Organização Mundial da Saúde (OMS), de que todos os tipos de fibra de amianto, em qualquer estágio de produção, transformação e uso, são substâncias cancerígenas para humanos. Um laudo contundente, de fé pública internacional.


É o que se deduz de recente decisão do Supremo favorável à lei estadual 12.684/2007 que proíbe o amianto no Estado de São Paulo. A lei, assim como outras leis estaduais do Rio de Janeiro, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Mato Grosso, estava suspensa por uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) interposta pelo forte lobby empresarial/parlamentar de Goiás, estado que mais produz do amianto.


Outros fatos podem estar causando uma mudança de atitude do STF, que vinha sustentando a produção de amianto pela concessão de liminares contra as leis estaduais. Entre os fatos, destaca-se a proibição já existente em quase 50 países, como Alemanha, França, Itália, Japão, Austrália, Argentina e Chile. Mesmo os países que toleram o amianto, como o Brasil, recomendam a sua produção e uso “controlado e responsável”. (...)


E quais são as doenças causadas pelo amianto? A fibrose pulmonar é chamada asbestose porque a fibra de amianto que invade os pulmões tem o nome de asbesto. A doença é progressiva e leva lentamente o paciente à morte, após anos de sofrimento por recorrência de pneumonia. O Câncer de pulmão é um tumor maligno que leva 25 anos ou mais para se manifestar.


O Mesotelioma é um tumor maligno incurável de pleura que mata a maioria dos doentes em até 2 anos após o diagnóstico. Pode levar até 50 anos depois do contato com a fibra para aparecer. Doenças pleurais (placas, derrames, espessamento) e outras patologias ditas não malignas podem evoluir até levar à incapacidade para o trabalho. O câncer de laringe também pode ocorrer.


Onde se encontra a fibra que tanto mata? O amianto é uma fibra natural, de origem mineral, presente na produção de telhas, caixas-d'água, tubos-d'água e na indústria têxtil, automobilística e naval, entre outras. O Brasil ocupa o quarto lugar entre os maiores produtores mundiais de amianto, respondendo por 11% de toda a produção mundial, com uma média anual de 250 mil toneladas.


Quem defende a nossa produção de amianto? Mais de 40 leis estaduais e municipais que proíbem a produção e uso dos produtos de amianto já foram aprovadas. As indústrias, no entanto, têm conseguido suspender as leis junto ao Supremo STF e Superior Tribunal de Justiça (STJ). O argumento é que as leis são inconstitucionais por existir uma lei federal disciplinando o uso do amianto. (...)

Em 30 de setembro, o presidente da ETERNIT, Élio Martins, o diretor-geral da SAMA, Rubens Rela Filho, o senador Marconi Perillo (PSDB, GO) e o deputado federal Carlos Alberto Leréia (PSDB, GO) foram recebidos no STF por Gilmar Mendes. Sobre o encontro, o site do STF noticiou que o grupo foi entregar documentos contra o banimento do amianto crisotila, um tipo de fibra que, afirmam, seria inofensivo à saúde. (...)

Marconi Perillo, Carlos Alberto Leréia e Demóstenes Torres são alguns dos parlamentares da “bancada da crisotila” no Congresso Nacional. Em troca de defender o amianto recebem o apoio financeiro da indústria em suas campanhas. Somente Leréia, proveniente de Minaçu, recebeu 300 mil reais da mineradora em sua campanha para deputado federal, de acordo com a revista Carta Capital, de junho de 2005. (...)

Quem defende o banimento do problemático mineral? Instituições do porte da Fundacentro e da Fiocruz e especialistas do Incor. E a Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (Abrea), que exerce incansável luta em várias frentes. A Abrea foi fundada pela engenheira Fernanda Giannasi, que também coordena a Rede Virtual Cidadã para o Banimento do Amianto na América Latina.

O grupo conta ainda, como aliados, a Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho (ANPT) e a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), autoras da ADI 4066. Entretanto, para o grupo, só a discussão em torno das leis vai esclarecer à população e dar visibilidade ao tema, acreditando que o poder público somente se posicionará quando houver uma efetiva pressão da sociedade civil.
Fonte: Site O Vermelho.

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