sábado, 6 de dezembro de 2008

O DIREITO DE SABER.

Eduardo Guimarães.


Dedico este texto aos 7% da população brasileira que consideram o governo Lula ruim e péssimo e que, de forma alucinada, irresponsável e até criminosa aprovam que os grandes meios de comunicação cheguem até a censurar notícias das quais não gostam, numa tentativa, a meu ver delirante, de determinar o que seu público deve ou não saber, ou que, sempre através da censura, tentam fazer prevalecer a própria visão de fatos "incômodos" quando se dignam - ou são obrigados - a reportá-los.

Escrevo sabendo que não tenho muitos leitores entre esse setor da população que prefere não ter contato com fatos que o desagradam e que, por isso, apóia que a mídia chegue ao ponto a que chegou a Globo ontem (sexta-feira, 5 de dezembro), ao ponto de esconder de seu público, em seus telejornais noturnos (os mais importantes da emissora), os fatos mais importantes do dia, ou seja, a alta surpreendente e expressiva da aprovação ao governo Lula e a declaração pública de um dos mais importantes organismos internacionais em questões econômicas, a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que considerou que a economia brasileira será a única entre as grandes economias que será pouco afetada pela crise econômica internacional.

Pergunto-me como é que alguém, em sã consciência, pode apoiar uma coisa dessas. Quem garante a essas pessoas que amanhã não serão elas as vitimas de censura por terem interesses divergentes de magnatas da comunicação como a família Marinho?

A mentalidade dessas pessoas diz a elas que a mídia lhes defende a classe social. Estão erradas, até porque a quase totalidade desses 7% da população não pertence à mesma classe social dos Marinho, dos Frias, dos Civita etc. Imaginar que esses multimilionários pensam na classe média ou em qualquer outro grupo social quando furtam do cidadão informações importantes como as que a Globo escondeu, chega a ser irracional.

Esses 7% dos brasileiros, na contramão do Brasil e do mundo, de um mundo em que Lula se tornou um superstar (ao menos em termos de popularidade), tendo hoje a maior aprovação que um presidente já teve na história do país e sendo o líder mais popular da América Latina entre os povos da região, enfim, esse contingente da sociedade apóia também, por exemplo, que um jornal como a Folha de São Paulo, que publicou na sexta-feira a pesquisa Datafolha sobre a popularidade de Lula, chegue ao cúmulo de não publicar, na edição do dia seguinte, uma única carta de leitor sobre o assunto, publicando sobre ele só textos opinativos que tratam a opinião majoritária do povo como produto de ignorância.

No day after da divulgação da pesquisa, a Folha publicou quatro textos opinativos sobre a popularidade de Lula em seu primeiro caderno. Um foi editorial (a opinião do jornal), o segundo uma coluna de Fernando Rodrigues, o terceiro um artigo de Fernando Canzian (outro jornalista fixo da Folha) e o quarto uma entrevista com os "intelectuais" Boris Fausto e Bolívar Lamounier, que, na verdade, são tucanos históricos ligados ao grupo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Todos os textos supra mencionados dizem exatamente a mesma coisa: que a aprovação de Lula cairá porque a crise chegou ao Brasil, ainda que atrasada, e, assim, provocará aumento do desemprego e outras desgraças, e como a popularidade presidencial seria apenas fruto de uma boa situação econômica do mundo que já não existe mais, o presidente sofrerá desmoralização no ano que vem.

Outro ponto em comum entre os quatro textos é o de que todos revelam um profundo desprezo dos seus autores pela capacidade de discernimento da sociedade brasileira. E da sociedade como um todo, em todos os seus estratos sociais, como bem se pode ver na reprodução de trecho do editorial da Folha supra mencionado, intitulado "Aprovação Recorde", que comenta a disparada da aprovação de Lula também entre os mais ricos e escolarizados.

A popularidade de Lula não apenas parece "descolar-se" da média dos demais presidentes, como também deixa de se vincular a setores sociais determinados. Perde força, na nova pesquisa, a idéia de que o apoio ao governo estava destinado a concentrar-se nas faixas de menor renda e de baixa escolaridade.

Vale dizer que o que "perde força" mesmo é a tese da própria Folha, vertida à exaustão durante anos, de que Lula se mantinha popular graças a pessoas ingênuas, humildes, desinformadas, em suma, graças a pessoas pobres e sem instrução que o presidente subornaria com o Bolsa Família.

Mas a maior contradição não está nos textos que dizem que mesmo sendo rico e formado na universidade o brasileiro está se deixando enganar por Lula. A contradição está em não reconhecer que o descomunal noticiário alarmista, que vem martelando a crise na cabeça do público sem parar há mais de 80 dias, foi sumariamente ignorado pela sociedade.

Até em novelas e em programas humorísticos viu-se indução à crença no desastre da crise que estaria chegando. E os problemas na economia, de redução no crédito e nas vendas de carros novos ou nas demissões que realmente ocorreram, tudo isso já foi até decorado pela sociedade. É impossível escapar do noticiário, a menos que se more numa caverna no meio do mato.

Os brasileiros, ao aprovarem Lula em maioria tão avassaladora, disseram claramente que não acreditam na mídia quando ela diz o tamanho do desastre e que sabem, sim, que problemas há, mas que vamos superá-los. Não há outra interpretação possível, pois informação que supostamente deveria desmoralizar Lula é exatamente o que os meios de comunicação providenciaram que não faltasse.

Uma explicação para a opinião da maioria pode residir em notícia que se viu escondida no meio do caderno de economia da Folha na mesma edição em que os jornalistas e entrevistados daquele veículo disseram que o desastre está chegando para acordar a sociedade imbecilizada, como se tivessem uma bola de cristal, um conhecimento que o resto do mundo não tem. Trata-se daquela notícia sobre a OCDE, organização que diz exatamente o mesmo que Lula, que o Brasil será o único grande país do mundo a se manter acima da depressão mundial.

Mas quem é a OCDE para a Globo citar sua previsão ou para a Folha (ou para seus colunistas e entrevistados escolhidos a dedo) levar em conta suas previsões? Eu digo quem é a organização, segundo a Wikipédia:

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE, ou OECD em inglês) é uma organização internacional dos países comprometidos com os príncipios da democracia representativa e da economia de livre mercado. A sede da organização fica em Paris, na França. Também é chamada de Grupo dos Ricos. Juntos, os 30 países participantes produzem mais da metade de toda a riqueza do mundo.

A previsão da OCDE não é só da OCDE. Há dezenas de organismos importantes que dizem o mesmo. Há dezenas de acadêmicos, economistas, jornalistas, empresários e até a esmagadora maioria da população que acham que o Brasil hoje está forte e pronto para enfrentar a crise e dela sair-se bem.

O Brasil aposentou seu eterno complexo de vira-latas. Estamos acreditando em nós. Não é que as pessoas achem que não haverá problema nenhum aqui. Muito poucos são os cegos e surdos. As pessoas lêem jornais, assistem telejornais e escutam o próprio Lula dizer, não que não existe crise, que ele nunca disse isso, mas que estamos preparados como nunca estivemos para enfrentar problemas graves, previsíveis e periódicos que atingem a economia mundial, intermitentemente, desde o início dos tempos.

A mídia e a oposição tucano-pefelista dizem que Lula se arrisca ao vender uma economia que não existe mais. Mentem. Omitem. Acham que podem furtar da sociedade brasileira um dos direitos humanos mais elementares, um direito que nos dias de hoje é mais imprescindível do que já foi em qualquer outra época, ou seja, o Direito de Saber, o direito à informação de qualidade, veraz, isenta, fidedigna. Enganam-se de novo. Não conseguirão. O país está vacinado contra eles.
Fonte: Blog Cidadania.com

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