quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

O QUARTO TRIMESTRE DE 2008.

Eduardo Guimarães.

Vem aí mais uma aposta emocionante sobre o Brasil. Essa aposta começará a ser dirimida quando for divulgado o crescimento do país neste último trimestre de 2008. O objetivo dela é acertar quanto terá diminuído o ritmo de nossa economia - até então, num patamar chinês de crescimento - a partir de outubro.

Por mais que possa chocá-los a existência de uma torcida para o país ir mal, de forma que nos últimos três meses do ano os números de seu crescimento colaborem com o discurso da tragédia de alguns, não se pode deixar de notar como é auspicioso, para quem enxerga os fatos como eles são,ver que, diante de um quadro mundial de afundamento de todas as economias, o que vige por aqui são tentativas de comprovar aquilo sobre o que há muito mais dúvidas do que está sendo admitido pelos profetas da desgraça, ou seja, que o quarto trimestre deste ano iniciará um ciclo que permitirá a esses “profetas” dizerem que estaremos em recessão.

Entre julho e setembro, o crescimento do PIB brasileiro bateu nos 6,8%. A China, por exemplo, cresceu pouco mais – 9%. O que é pouco dito, no entanto, é que o resto do mundo, na sua quase totalidade, já está em recessão técnica – dois trimestres seguidos de retração do PIB. Na América do Sul, inclusive, só Brasil, Chile e Peru continuam crescendo. Mas a única economia, entre as vinte maiores do mundo, que manteve seu crescimento, foi a brasileira... E, sim, você leu direito, mas faço questão de repetir: a única entre as 20 maiores economias em todo o mundo que cresceu no terceiro trimestre de 2008, foi a nossa.

A grande mídia, capitaneada pela Globo, pela Folha de São Paulo e pela Editora Abril deu a notícia sobre a explosão do PIB brasileiro no terceiro trimestre de 2008 recitando mais a ressalva de que o numero referia-se ao período anterior à crise do que tratando propriamente do assunto. As manchetes dos jornais de hoje trazem a ressalva junto com a notícia. Porém, nas páginas internas desses jornais já se vê colunistas dizendo que o governo Lula poderá “faturar a crise” se “não houver desastre”.

É que todos sabem que nenhum número oficial permite prever de quanto será a desaceleração do PIB brasileiro neste trimestre. Assim como o nosso PIB, de julho a setembro, disparou e os de todos os outros grandes países similares ao Brasil desabaram, não há garantia nenhuma de que a queda que possa ocorrer será tão acentuada quanto estão dizendo aqueles mesmos analistas que previram surtos de inflação, de déficit na balança comercial (já neste ano) ou até de febre amarela.

Eu disse aqui, antes de todo mundo, inclusive do governo Lula, que o novo patamar do dólar auxiliaria as exportações, protegeria um mercado interno que já diziam ameaçado de “desindustrialização” (devido à concorrência dos produtos importados) e, do lado do crescimento, a crise econômica serviria para frear um ritmo que já se mostrava insustentável, pois a indústria brasileira já não dava mais conta de suprir a demanda e a importação do que faltava para o consumo interno já ameaçava o equilíbrio cambial necessário.

Agora, já se vê na mídia gente dizendo a mesma coisa. Hoje, li coluna do analista da Folha de São Paulo Vinicius Torres Freire, no caderno de economia do jornal, dizendo a mesma coisa, ainda que em meio a uma avalanche de outras notícias e opiniões dizendo que entraremos em recessão etc, etc, etc. Vejam só alguns pontos do artigo do jornalista, que contém opiniões completamente isoladas do tom predominante na mídia:

– O Brasil dos seis primeiros anos do governo Lula terá crescido, na média anual, o dobro do registrado durante os anos FHC.

– O muito provável tombo de 2009 terá reflexos econômicos diferentes nas diversas camadas sociais.

– Há [hoje] mais cidadãos pobres um tanto mais protegidos das intempéries econômicas do que havia sob FHC [nota do editor: Um tanto?]

– Apesar das críticas, coisas como o ProUni e eletrificação são percebidas como um progresso.

– Tais benefícios devem parecer, aos mais pobres, a maioria absoluta e qualificada, um sinal do cumprimento do contrato político e social que Lula lembra todos os dias em seus palanques, goste-se ou não do seu populismo.

– O governo Lula ainda tem muito tempo e margem de manobra para reforçar seu capital político. Isso mesmo que o espantoso resultado do PIB seja seguido por quedas duras nos próximos seis meses.

– Os números do crescimento (...) indicam que sabemos muito pouco sobre a economia brasileira.

– O Brasil praticamente entrava em ritmo coreano de crescimento. Mas, na hipótese de não ter havido o desastre mundial de setembro, tal balada era claramente inviável. A demanda doméstica estava contribuindo com mais de oito pontos percentuais para um PIB que crescia a 6,3% anuais.

– Lula estava entre deixar a economia desembestar em direção a um tumulto de fabricação caseira ou teria de segurar o crescimento, o que o BC estava pronto para fazer. Se não vier catástrofe, Lula poderá tirar proveito da crise, pois, como tem feito. O "ajuste" será em parte imposto pela crise mundial, que de fato não é "nossa", e assim poderá ser faturada politicamente [por Lula].

Vocês sabem o que é tudo isso que vocês leram de ninguém mais, ninguém menos do que de um empregado da família Frias? É um seguro, meus amigos. Eles bateram – e continuam batendo – sem parar na tecla do desastre e, conforme os números da economia, diferentemente do que acontece no resto do mundo, teimam em não “colaborar”, eles vão entrando em pânico. Fizeram uma aposta muito alta.

Como ficará a credibilidade desses meios de comunicação – aos quais dei nomes, acima – se, por exemplo, daqui a três meses o país continuar crescendo? E notem que eles mesmos já admitem que isso pode acontecer quando afirmam que “sabemos muito pouco sobre a economia brasileira”. Quantos se lembrarão de como davam o desastre como favas contadas e o desastre, de novo, não veio? Será que as pessoas se lembrarão disso em 2010, quando Frias, Civita ou Marinho tentarem induzi-las a votar em José Serra?
Fonte:Blog Cidadania.com

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