Mário Augusto Jakobskind.
E chegamos a 2009, um ano que os futurólogos encontram dificuldades para prever o que vem por aí. Neste início de temporada, em meio a uma crise econômica de alto risco, o mundo assiste a um novo banho de sangue no Oriente Médio. Ao apagar das luzes da desastrosa era Bush e na antevéspera de uma eleição em Israel (fevereiro), o governo de Ehud Olmert decidiu ampliar a caça aos palestinos, uma prática corrente na região há pelo menos seis décadas. Israel recebeu o sinal verde de Washington para bombardear a Faixa de Gaza, governada pelo grupo fundamentalista islâmico Hamas, eleito democraticamente pelos palestinos, numa região em que, diga-se de passagem, eleições são fatos raros.
Deixando de lado os problemas internos palestinos, a disputa entre o Hamas e o Fatah, um cessar fogo de seis meses, que não prevaleceu em toda a plenitude, terminou oficialmente em dezembro. No mesmo dia que o cessar fogo foi firmado, Israel bombardeou túneis, mas a mídia ignorou o fato. Israel utilizou como pretexto para a nova etapa de caça aos palestinos os foguetes do Hamas, a maioria deles artesanais e alguns poucos de melhor operacionalidade, lançados contra o seu território. Pretextos são pretextos, se não fossem os foguetes Kassam seria outra coisa qualquer.
Para tentar entender este sangrento conflito que parece não ter fim, é preciso lembrar que os atuais habitantes da bombardeada Faixa de Gaza (área menor do que Porto Alegre) são filhos, netos e bisnetos de palestinos que foram expulsos de suas terras em Israel ou então saíram por recomendação de governos árabes que imaginavam derrotar o inimigo sionista em pouco tempo. Cada lado tem a sua versão. É possível que ambos estejam certos. A realidade é que nestes 60 anos, palestinos perderam seus lares e vagam em áreas superpovoadas, como Gaza, ou em outras partes do mundo, como, por exemplo, o Chile, onde se encontra a maior colônia palestina no exterior de que se tem notícia.
Outro fator que não pode deixar de ser mencionado é a criação dos assentamentos (colônias) judaicas em território palestino. Sai ano entra ano, os sucessivos governos israelenses aceitam como fato consumado a ampliação desses assentamentos, provocando constantes confrontos, para não falar de um muro (da vergonha) que separa Israel de áreas palestinas. E tudo isso sob o olhar complacente de democratas e republicanos que ocupam a Casa Branca ou a Câmara de Representantes.
A direita israelense, hoje representada tanto pelo partido Kadima, Trabalhista ou Likud, disputa a preferência dos eleitores na base do radicalismo contra os palestinos, a base da solução final. Agora mesmo, é difícil imaginar que Olmert, a chanceler Tzipi Livni e o Ministro da Defesa Ehud Barack tenham decidido de uma hora para outra os bombardeios. Pela envergadura das operações militares, inclusive as incursões terrestres iniciadas no último sábado , está claro que Israel já tinha se preparado há meses. E nada foi feito sem consultas a Washington, de quem Israel é caudatário. Circula inclusive informação segundo a qual o serviço de inteligência russo detectou que porta-aviões estadunidenses no Mediterrâneo estariam ajudando Israel, que aproveitou o embalo dos foguetes Kassam, que são lançados já há tempos, para justificar os bombardeios e incursão terrestre.
Do lado palestino, depois de tantas décadas de sacrifícios e injustiças, apareceu o Hamas como uma resposta à desagregação do Fatah, enfraquecido por uma série de circunstancias, desde a corrupção em suas hostes até a falta de resultados concretos nas negociações com Israel. Eleito, o Hamas entendeu que a resposta ao belicismo de Israel seriam algumas incursões com seus foguetes artesanais ou através de atentados com homens bombas e a retórica sobre a liquidação do Estado inimigo. Só que na prática essa estratégia deu munição aos setores mais belicistas do establishment israelense. Tanto que os partidos que disputam os votos na próxima eleição de fevereiro colocam como ponto principal de suas plataformas a “resposta” ao Hamas, pouco se lixando se a estratégia de liquidação do grupo acarreta morte de crianças, mulheres e civis de um modo geral. Como o Hamas também se alimenta desta forma, na prática os bombardeios o favorecem, pois assim conseguem mais apoio popular.
E, para finalizar, muita gente se pergunta: como explicar o silêncio do presidente eleito Barack Obama em relação aos bombardeios, quando alguns imaginavam que ele resolveria o problema? Teria alguma relação com eventual conselho do seu chefe de gabinete Rahm Emanuel, um cidadão israelense, cujo pai, Binyamin Emanuel integrava um grupo terrorista judaico, o Etzel, da mesma família do Irgun, cuja especialidade era matar palestinos já nos anos 40?
Em suma, como diria o poeta e roteirista francês Jacques Prévert, quelle connerrie est la guerre (que babaquice é a guerra). E para alcançar a paz, israelenses e palestinos teriam de conviver. Mas diante de tanta disseminação de ódio resta saber se a paz ainda é possível. E será que as atuais lideranças, tanto israelenses como palestinas querem a paz ou preferem fazer o jogo da morte?
Fonte:Direto da Redação.
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