quinta-feira, 12 de março de 2009

ANGOLA - Quem ousa promover a mudança?

Martinho Júnior

Apesar do Programa do Governo Angolano para o quinquénio 2009-2012 privilegiar o sector económico e social, a Rádio Nacional e a Televisão Pública de Angola reflectem muito mais os interesses, as expectativas e aspirações, a psicologia das “novas elites”, que os interesses do próprio estado, uma tendência que parece estar a aumentar e não a diminuir.

Essa situação torna-se tanto mais gravosa em Angola, quanto em época de crise não haver outra alternativa palpável senão diversificar a economia, dinamizando outros sectores que não só o petróleo e dos diamantes e garantindo ao cidadão nacional capacidades que o coloquem em pé de igualdade perante os milhares de migrantes que vêm chegando, uma grande parte deles por razões óbvias de quem sai duma guerra prolongada, com qualificações superiores às dos angolanos.

Angola face à crise global que também a atinge em cheio de forma muito diversificada, necessita de concentrar e canalizar esforços para a construção civil, a agricultura, a pecuária, as pescas, o turismo, entre outros, mas por exemplo a TPA (entenda-se canais 1 e 2), assim como a “experimental” Zimbo (privada), não reagem, nem se adaptam às necessidades mobilizadores prementes do país e das obrigações do estado perante os seus cidadãos, principalmente no que diz respeito à formação e ao ensino, em associação ao esforço da educação e do trabalho.

Não há programas escolares nas televisões angolanas, muito menos programas de formação profissional ou técnica.

Rios de dinheiro são gastos na diversão, pela via das telenovelas, pela via das palhaçadas intermináveis de “auto estima”, pela via do “kuduru” (e cabeça mole), pela via da passagem de filmes que em nada se referem aos problemas da humanidade e de África, muito menos aos do país…

As energias e os recursos são gastos muito mais em futilidades e os tempos de antena esgotam-se sem que as rádios e televisões públicas sejam encaminhadas para a sua função mais nobre e essencial: contribuir para educar o povo angolano, inserindo-se no esforço nacional, inclusive nos esforços do estado em prol dos seus programas sociais prioritários.

Por exemplo:

- Com uma elevada taxa de analfabetismo que prevalece sobretudo entre as mulheres, em pleno mês de “Março-Mulher”, agora que se oficializou a chegada a Angola do “Yo si puedo”, não há espaço sequer para a sua apresentação na TPA.

- Com uma cobertura nacional e africana cada vez mais ampla, apesar da proliferação de escolas e de institutos médios e superiores, não se ensina pela via da televisão, por exemplo a melhor cultivar produtos indispensáveis ao consumo nacional, como a mandioca, o milho, o massango, as hortícolas, etc., etc.

- Com tantas profissões a carecerem de dinamização, não há ensinamento delas, por muito basicamente que isso se faça, de modo a trazer ganhos inestimáveis à formação do homem, inclusive em áreas remotas de periferia e intervenção.

- Em relação à juventude não se passa dos “tchilares” e “altos níveis” e as campanhas de luta contra o HIV/SIDA, contra o álcool ou o tabaco, contra a droga, etc., raramente tiram partido do desporto, cujas técnicas e tácticas aliás não são divulgadas num quadro de massificação; se existem, essas campanhas têm um quase sempre limitado tempo de antena, cingindo-se muitas vezes a “spots publicitários”…

Na Assembleia Nacional, os deputados que lá estão em nome do povo angolano parece não se preocuparem em nada com esse estado de coisas, não se assumem pedagogicamente, não pedem responsabilidades, não exigem a melhor aplicação dos recursos disponíveis em termos de rádio e televisão do próprio estado, no sentido de integrarem de facto, pela via dos programas de formação, de ensino e de estímulo psico-social a mobilização no âmbito da reconciliação e da reconstrução nacionais.

Eles não se incomodam com a diversão contínua, com as palhaçadas, com as futilidades, vaidades e outras ostentações comezinhas e isso é preocupante, pois a tal “mudança de mentalidades” que deveria começar no próprio Parlamento, é também uma divertida masturbação intelectual.

Quem ousa afinal promover a mudança?
Fonte:Informação Alternativa.

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