quinta-feira, 12 de março de 2009

CINEMA - A informação é uma arma de resistência.

Entrevista a Michael Winterbotton

Begoña Donat.

O realizador britânico leva ao cinema o livro da activista Naomi Klein, A doutrina do choque.

Depois de ter ido embora com o Urso de Ouro em 2006 por A Caminho de Guantánamo, a dupla de realizadores formada por Michael Winterbottom e Mat Whitecross regressa à Berlinale com um novo e controverso projecto, que articula a história recente através da implantação do neoliberalismo no mundo. Baseado no best-seller da activista Naomi Klein, A doutrina do choque, este work in progress, projectado fora de concurso na secção Panorama, analisa a posta em prática das teorias do livre mercado formuladas pelo Prémio Nobel Milton Friedman.

O filme aborda como as crises sociais facilitam a entrada em vigor de medidas económicas impopulares, ao tirar proveito da anulação da vontade dos cidadãos. Chile e Argentina, passando pelas ditaduras de Pinochet e Varela, aparecem num filme que também examina a Inglaterra grevista de Thatcher ou a Rússia neoliberal. O epílogo retoma o 11-S e a reconstrução do Iraque, e finaliza com certa esperança: a investidura de Obama e um apelo de Klein à mobilização.

– Não teme que este filme seja desqualificado como pura teoria da conspiração?

Não, A doutrina do choque aduz informação para que cada um decida se este é o mundo no qual quer viver, dado que a ideologia dominante se converteu no estado natural das coisas. O livre mercado assumiu-se como idóneo e, por isso, as corporações privadas gerem os recursos do Estado. A crença é que democracia e liberalismo caminham de mão dada; mas se se analisam os exemplos, não é assim.

– Estabelece uma relação causal entre as declarações de Donald Rumsfeld contra os burocratas opostos às ideias da Escola de Chicago e a morte de um deles no Pentágono durante os atentados do 11-S.

Obviamente, estes factos são verdadeiros, mas não estamos a afirmar que Rumsfeld assassinou as vozes dissidentes. Faz parte de uma forma dinâmica de relatar os factos e, ao mesmo tempo, de ser provocativo para que as pessoas reflictam.

– Era sua intenção satanizar Milton Friedman?

Ele teve a ideia de quem, em momentos de crise, era mais simples aplicar as suas políticas neoliberais. A questão é que, se pensava que era uma forma de melhorar a vida de toda a população, fracassou. Se era a justificação para que os ricos enriquecessem mais e as multinacionais se tornassem mais fortes, acertou. O documentário explicita quais são as consequências da sua tese, uma vez que a informação é uma arma de resistência.

– Por que acha que não ocorreu antes a ninguém analisar a história desde este ponto de vista?

O livro de Klein demonstrou ser visionário. Esta crise é tão devastadora e está tão ligada à desregulação do mercado e à falta de controle estatal que vai abrir um debate. Mas o que acontecer vai depender da capacidade de mobilização das pessoas e da participação na discussão mundial.

– Pensou inflectir a sua carreira para o documentário?

Não, estou exausto. Agora preparo um projecto de ficção, O assassino dentro de mim, adaptação do livro de Jim Thompson, no qual Cassey Affleck interpreta um xerife que assassina aqueles que ama.
Fonte:Informação Alternativa.

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