Mair Pena Neto
Tenho a impressão que foi Frei Betto, em “Cartas da Prisão”, que chamou o capitalismo de intrinsecamente mau. Tal classificação me vem à cabeça com os bônus milionários pagos pela seguradora AIG a seus executivos depois de ter recebido uma injeção de 170 bilhões de dólares do governo norte-americano para evitar sua falência.
A empresa não teve o menor pudor de, em plena crise econômica, usar o dinheiro público para enriquecer 73 funcionários com mais de 1 milhão de reais em bônus para cada um. Só para um de seus executivos, a AIG pagou 6,4 milhões de dólares. Imagino qual deva ter sido a sua contribuição para a seguradora, já que ela estava à beira de quebrar.
Empresas sérias pagam participações em seus resultados de acordo com o seu desempenho e o dos funcionários. Mesmo que o funcionário tenha atingido ou mesmo excedido todos os seus objetivos ele não pode receber fortunas se a empresa foi mal em determinado ano. Se a AIG estava em tão má situação que precisou de socorro governamental, como poderia ter sido tão generosa na distribuição de bônus. Tal bondade só se explicaria pelo fato de se dar com dinheiro público e não da empresa. Coisa que nossos senadores fazem, em escala bem menor, com as passagens e outras mordomias de que desfrutam com o dinheiro do contribuinte.
Durante a atual crise, muito já se tinha falado sobre a irracionalidade dos bônus empresariais norte-americanos, o que tornou mais ofensiva a atitude da AIG, não só ao contribuinte daquele país, mas ao mundo todo envolvido em dificuldades pelo comportamento irresponsável do capital financeiro.
Neste sentido, tornou-se totalmente compreensível o comentário de um senador dos EUA de que os executivos da AIG deveriam renunciar ou se suicidar, como os japoneses. O que o senador pedia, indignado, era um pouco de vergonha na cara, o que, convenhamos, não faz parte de uma companhia que revelou-se intrinsecamente sórdida.
No Brasil, a Sadia, uma gigante do setor frigorífico que emprega 60 mil pessoas, está prestes a divulgar o maior prejuízo da sua história, fruto de especulação financeira mal sucedida. O resultado deixa incerta a sobrevivência da empresa, que há dois anos tentara comprar a sua maior rival. Segundo especialistas, a única saída para a Sadia seria justamente ser comprada pela rival que se tornou mais saudável por não embarcar na onda do lucro fácil dos mercados futuros.
Esperamos que ao divulgar seu prejuízo bilionário, a Sadia não confira a seus executivos bônus como os da AIG. Certamente não o fará, já que não conta com nenhum dinheiro do governo brasileiro para tanto.
Fonte:Direto da Redação.
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