Argemiro Ferreira.
Pode parecer exagerado, em outros países, dar importância ao temido Rush Limbaugh (foto acima), “rei do talk show” de rádio nos EUA. No passado também fiz referência muitas vezes ao papel desse extremista de direita na política americana. Depois da eleição de 1994, por exemplo, ele chegou a ser homenageado pelos republicanos como responsável maior pela tomada das duas casas do Congresso.
Se não houvesse outro motivo para prestar atenção ao barulho provocado agora por Limbaugh (conheça o web site dele AQUI) em certo segmento do espectro político, bastaria citar a própria preocupação manifestada pelo presidente Barack Obama no final de janeiro. Foi durante reunião com parlamentares republicanos, no esforço inútil para atrair apoio capaz de dar alguma aparência bipartidária ao pacote de estímulo à economia.
“Vocês não podem simplesmente ficar ouvindo Rush Limbaugh e pensar que assim conseguirão avançar”, advertiu Obama (saiba mais AQUI). No dia seguinte, em seu programa de rádio, o próprio Limbaugh gabou-se de que o presidente tinha mais medo dele do que dos líderes da oposição republicana boehner_mcconnellno Senado e na Câmara, Mitch McConnell e John Boehner (foto ao lado) - “o que não depõe a favor de nosso partido”.
Obama estava incomodado, obviamente, com a estranha submissão de deputados e senadores do Partido Republicano não a seus líderes, entre os quais McConnell e Boehner, mas a Limbaugh e o canhão que aponta, pronto a disparar, contra qualquer parlamentar que aceite dialogar com o governo. O canhão, claro, são as centenas de emissoras de radio que transmitem o talk show dele.
O ataque múltiplo do extremismo
As bancadas republicanas no Congresso parecem às vezes tomadas pelo pânico - ou terror - ante críticas de Limbaugh. Em janeiro o deputado Phil Gingrey, um republicano da Georgia, foi ouvido no talk show do monarca obeso. Em postura reverente, humilhante mesmo, chegou ao extremo de pedir desculpas a Limbaugh por declarações que fizera a um influente web site de Washington, Politico.com.
O pecado de Gingrey fora este desabafo: “É fácil, se você for um Sean Hannity, um Rush Limbaugh, ou até mesmo um Newt Gingrich (foto ao lado, com o líder ascendente Eric Cantor).cantor_gingrich Fica na retaguarda e joga pedras nos outros”. A referência era a republicanos que reinam, sem mandato, no radio e na TV. Hannity tem talk shows (radio e TV) na Fox News. Gingrich, ex-presidente da Câmara, encerrou a carreira parlamentar (por escorregões éticos) e hoje é comentarista da Fox.
Limbaugh pode ter ido longe demais, no ultimo domingo, ao falar como atração central da CPAC - Conferência de Ação Política Conservadora (saiba mais AQUI). Confessou que quer o fracasso do governo. “O que há de tão estranho em ser honesto e dizer que desejo o fracasso de Obama na missão de reestruturar e reformar este país para que o capitalismo e a liberdade individual deixem de ser sua base?” - perguntou.
O núcleo da direita extremista republicana é vasto e chega às raias do terrorismo. Inclui ainda gente como a loura desbocada Ann Coulter, que não tem mais espaço regular e dias certos em programas de radio e TV, mas é entrevistada com frequência - e continua a disparar seus torpedos contra alvos múltiplos, de veículos diversos, inclusive numa coluna semanal (sindicalizada) em muitos jornais.
Diálogo com os neoconservadorescoulter_time_ap25-2005
Coulter (veja-a à direita, numa capa do Time em 2005) também tem web site (conheça-o AQUI) e é incansável na produção de livros que chegam aos primeiros lugares nas listas de mais vendidos - até na mais cobiçada delas, a do New York Times, alvo predileto da loura. O poder de fogo da turma é respeitável. Soma pesos pesados como Limbaugh, Hannity, Gingrich, Coulter e até Bill O’Reilly, líder de audiência no horário nobre da Fox News.
Na votação do pacote de estímulo econômico na Câmara, entre 15 a 20 deputados republicanos pretendiam, até uma semana antes, votar favoravelmente. Mas à última hora renderam-se à pressão da linha dura, com medo da máquina de destruição de reputações. No Senado, Arlen Specter (Pensilvânia) e as duas senadoras do Maine (Susan Collins e Olympia Snowe, foto abaixo) ousaram - mas agora amargam, os três, o rótulo de “traidor”.snowe_collins
Quando ficou claro que não haveria um só voto republicano na Câmara pelo pacote, a grande mídia corporativa investiu pesado contra o que chamou de “fracasso de Obama”. Poderia ter, no entanto, destacado o esforço extraordinário do presidente para atrair a oposição, inclusive acolhendo sugestões recebidas de republicanos. Esse empenho tinha começado cedo.
Antes da posse Obama reuniu-se com notórios jornalistas da direita republicana - entre eles, os neoconservadores Bill Kristol e Fred Barnes, diretores do semanário ideológico Weekly Standard - a revista mais lida na Casa Branca de Bush, criada e financiada pelo magnata Rupert Murdoch. George Will e Charles Krauthammer, colunistas sindicalizados, foram igualmente ouvidos.
O mesmo alvo, tarefas distintas
Kristol e Barnes tinham sido, na capa da Standard, os primeiros a pedir em editorial a invasão do Iraque. Kristol foi fundador e presidente do infame Projeto no Novo Século Americano (PNAC). Krauthammer escrevera - já em 1991, na austera Foreign Affairs - que o mundo pos-guerra fria tinha de ser “unipolar”; e que os EUA não podiam tolerar outra superpoência, nem aliada (tese incorporada depois ao PNAC).
Esses intelectuais neocons pouco têm a ver com os Limbaugh, Hannity e Coulter, embora na campanha Obama tenha concordado com uma entrevista a O’Reilly obama_oreilly_sep04-2008(veja os dois na foto ao lado). Mas os neocons costumam açular o destempero da linha dura do rádio e da TV. Kristol, Barnes e Krauthammer estão diariamente na Fox News, investindo pesado contra o governo. Deixam os insultos para cães de ataque sem projeto politico definido e sempre dedicados à lama sórdida.
Difícil é adivinhar até onde isso vai levar. O temor republicano é de que Obama, como Ronald Reagan em 1981, imponha uma virada, com transformações reais - mudanças substantivas, favorecidas pela crise econômica, guerras, escândalos e fracassos da era Bush. Entrevistado domingo na rede ABC, o chefe de gabinete da Casa Branca, Rahm Emanuel, cumprimentou Limbaugh “pela honestidade” ao desejar o fracasso. “Ele é a cara do Partido Republicano”, disse (saiba mais AQUI).
Na mesma ABC o deputado republicano Eric Cantor - o da foto do alto (com Gingrich), número dois, abaixo de Boehner e já encarado como futuro líder da bancada - discordou do rei do talk show sem confrontá-lo. “Não acho que algum de nós deseja algum fracasso neste momento. Temos tantos desafios. O que devemos fazer é formular soluções para os problemas que as famílias reais estão enfrentando hoje”, afirmou.
Fonte:Blog do Argemiro.
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