Se a esperança vencer a campanha do medo, ganha o povo salvadorenho
Oscar Pérez; 13 de Março de 2009
«[…] Desejo fazer um apelo àquelas pessoas que estão indecisas, confundidas, atemorizadas e desencantadas, a que reflictam profundamente em que é necessário explorar outra experiência de governo; onde tenhamos maiores possibilidades de contribuir, de construir, de nos fazer sentir, de propor e transformar a existência… Quero que a minha evocação chegue a todas e todos para somar e multiplicar a certeza e a confiança de que se trata de um momento histórico no qual um voto pode provocar a diferença para a continuidade da ARENA e perpetuar a opressão, o obscurantismo, a repressão, a fome e o medo; ou ter a oportunidade de mudar, de nos convertermos em protagonistas de mudanças num governo para o qual possamos contribuir, pressionar e exigir alternativas diferentes […]»
Fragmento de uma Carta de uma mulher salvadorenha.
Muitos já qualificam as eleições presidenciais do dia 15 de Março como um evento histórico. Efectivamente são-no, pois o partido de direita que está no poder desde há 20 anos, resiste por todos os meios e artifícios a não deixar que a esquerda, liderada por um jornalista reconhecido, assuma o poder do executivo.
Esta campanha política foi a mais longa de todos os tempos, pois os partidos em contenda arrancaram com muita antecipação o seu trabalho proselitista. Iniciaram a corrida eleitoral 4 fórmulas presidenciais representando três partidos de direita e o da esquerda salvadorenha sob a responsabilidade da Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN).
Ao final da contenda chegaram somente dois partidos políticos: pela direita salvadorenha está a Aliança Republicana Nacionalista (ARENA), partido no poder e que foi fundado por um militar acusado, segundo o Relatório da Comissão da Verdade, de ser o autor intelectual da morte do Arcebispo de San Salvador, Monsenhor Oscar Arnulfo Romero (agora conhecido popularmente como “San Romero da América”), e que tem como candidato um ex-director da Polícia Nacional Civil (PNC). Representando a esquerda de El Salvador, está o FMLN, partido surgido da assinatura dos Acordos de Paz (Janeiro de 1992) e que, segundo resultados das recém passadas eleições municipais e legislativas, de 18 de Janeiro, se situa agora como a primeira força política a nível nacional.
A campanha política não só foi a mais longa da história salvadorenha, como também a mais agressiva, tendo vindo a contribuir para uma maior polarização da população. Os principais oligopólios mediáticos, que alimentaram a sua caixa registradora pela conivência que mantêm com o poder governamental, também contribuíram com a sua parte, pois em coro participaram directa e indirectamente na campanha de medo que o partido no poder tem vindo a desenvolver, disfarçando como informação a sua propaganda.
Muitos analistas políticos sustentam que a estratégia do medo ainda faz efeito dentro da população. Outros, afirmam que esta se transformará num bumerangue para o partido de direita, pois a necessidade de mudar o estado actual das coisas sobrepõe-se à paralisação que o medo na população procura gerar.
Dentro da campanha do medo e para os seus estrategas, cabe e vale tudo. Um conjunto importante de meios e organizações nacionais e internacionais que trabalham a comunicação em El Salvador bem o denunciou por meio de um comunicado, dizendo: «Quando o governo constrói factos, utilizando a desinformação para provocar temor e desconfiança: existência de grupos armados que não se comprovam, computadores das FARC, com suposta informação que prejudica o partido opositor, que também não se comprova; tentativa de relacionar as maras e os presos em penitenciárias em greve, fazendo supor que estão organizados pelos seus rivais políticos; criação de fantasmas por meio de frases e declarações tiradas de contexto que inclusive ofendem os governantes de outros países latino-americanos, entre outros».
A direita salvadorenha, que durante a campanha criticou ferozmente, até ao cansaço, o presidente da Venezuela, o governo de Cuba e o da Nicarágua, de tentar perpetuar-se no poder, resulta que agora resiste por todos os meios a deixar o poder e a demonstrar assim que acredita no exercício da alternância política.
O partido no poder não só desenvolve uma campanha de medo, como também utiliza vulgarmente todo o aparelho estatal para tentar ganhar estas eleições, e se não as ganhar à boa, quer ganhá-las também à força, por meio de uma fraude, tal como é denunciado pelos seus opositores. Como dizem: “Jalisco nunca perde e, se perde, arrebata”.
Ir votar em El Salvador nunca se tornou tão importante como hoje, já que no entender de muitos analistas políticos, uma votação em massa pode conter três significados: o primeiro, uma expressão de coragem perante o medo que se quis impor; o segundo, a necessidade de legitimar o candidato que resulte ganhador, sobretudo para que possamos enfrentar como nação a crise económica que já se começa a sentir com força; e, terceiro, evitar toda a probabilidade de uma fraude eleitoral.
Se a esperança vencer a campanha do medo neste 15 de Março, ganha sem lugar a dúvidas o povo salvadorenho, pois estas serão as últimas eleições do pós-guerra, iniciando assim um novo capítulo na vida política de El Salvador.
Fonte: ALAI/Informação Alternativa.
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