sábado, 14 de março de 2009

BANCOS FACILITAM A CORRUPÇÃO EM PAÍSES POBRES.

Alguns dos principais bancos do mundo facilitam a corrupção nos países mais pobres, diz um estudo da organização independente Global Witness. Entre os bancos mencionados estão Barclays, Citibank, Deutsche Bank e HSBC.

Artigo de Marina Litvinsky da IPS.

O novo informe, intitulado "Diligência indevida; como os bancos fazem negócios com regimes corruptos", mostra a forma com que, ao criar vínculos com obscuros clientes em países ricos em recursos naturais, vários bancos facilitaram a corrupção e o saque estatal, o que impede essas nações de terem oportunidade de sair da pobreza e deixarem de ser dependentes da ajuda externa.

"A mesma regulamentação branda que criou a crise de créditos faz com que alguns dos maiores bancos do mundo facilitem o saque de recursos naturais de Estados pobres", disse o director de campanhas da Global Witness, Gavin Hayman. Esta organização sem fins lucrativos dedica-se à investigação sobre causas e efeitos da exploração da riqueza natural no mundo. "Se recursos como petróleo, gás e minerais realmente existem para ajudar a tirar a África e outras regiões da pobreza, então os governos devem assumir a responsabilidade de impedir que os bancos façam negócios com ditadores corruptos e com suas famílias", acrescentou.

O informe cita vários clientes de determinados bancos na Guiné Equatorial, República do Congo, Gabão, Libéria, Angola e Turcomenistão. Nesses países a riqueza natural está a ser, ou foi, saqueada por uns poucos, seja para enriquecimento pessoal, para fortalecer o poder de um ditador que viola os direitos humanos ou para financiar guerras devastadoras. Entre os bancos mencionados estão Barclays, Citibank, Deutsche Bank e HSBC. Quase todas as instituições bancárias incluídas no informe são de alto alcance internacional e todas proclamam os seus compromissos de responsabilidade social. Mas, segundo o trabalho, há uma enorme brecha entre esse discurso e a realidade.

O rendimento de recursos naturais oferece uma potencial saída para a pobreza a muitos países em desenvolvimento. Mas estes ganhos, que poderiam ser destinados ao desenvolvimento, são usurpados por altos funcionários do governo ou usados para ajudar regimes que oprimem o seu próprio povo. "Os bancos fornecem o mecanismo para que haja corrupção em torno dos recursos naturais", disse Anthea Lawson, da Global Witness. Entre a evidência apresentada no informe está o caso do banco Barclays que manteve conta aberta para Obiang, filho do ditador da Guiné Equatorial, mesmo muito depois de se tornarem públicas provas de que a família estava envolvida na usurpação das riquezas petrolíferas dessa nação.

Em 2004, o banco Riggs entrou em colapso como resultado de uma investigação de um comité do Senado norte-americano, na qual se descobriu que mantinha contas em nome do ditador da Guiné Equatorial Teodoro Obiang, bem com de membros da sua família e do seu governo corrupto. Apesar disso, o seu filho, que como ministro da Agricultura e florestas no governo de seu pai tinha salário de 4 mil dólares mensais, ainda tinha conta aberta no Barclays em Novembro de 2007. O informe assinala que enquanto o seu país continua a ser um dos mais pobres da África, ele possui uma mansão de 35 milhões de dólares em Malibu (EUA) e gastou 6,3 milhões de dólares na compra de automóveis nos últimos 10 anos.

Também está mencionado o caso do Citibank que facilitou o financiamento de duas guerras civis em Serra Leoa e Libéria ao permitir ao ex-presidente liberiano Charles Taylor, agora julgado por crimes de guerra no Tribunal Penal Internacional de Haia, saquear as riquezas naturais de madeira. Como ficou evidente pela actual crise financeira internacional, o informe mostra que quando se trata de respeitar as regras os banqueiros fazem o menos possível. Procuram explorar todos os vazios e ambiguidades nas regulamentações e assumir suas responsabilidades no mínimo nível.

Isto ocorre apesar de uma série de leis contra a lavagem de dinheiro exigir dos bancos diligência em identificar os seus clientes e rejeitar fundos que tenham sido adquiridos de forma ilícita. Mas as actuais normas são ambíguas sobre até onde os bancos devem ir para identificar a pessoa real que está por trás das empresas. Ao aceitar estes clientes suspeitos ajudam directa ou indirectamente os que usam as contas do Estado para enriquecer ou oprimir seus povos, diz o informe.

O trabalho foi apresentado nas vésperas da reunião do G-20 em Londres, onde será analisada a actual crise financeira mundial. "Os líderes do G-20 devem agir sobre as suas promessas de ajudar os pobres do mundo. Um elemento-chave para acabar com a pobreza é pôr fim ao dinheiro roubado ou sacado do orçamento, em primeiro lugar. Evitar este tema deixaria o sistema financeiro global aberto não só a novos fluxos de dinheiro corrupto, mas também às influências desestabilizadoras que causam tanto dano às economias do mundo industrializado", disse Hayman.

IPS/Envolverde/Blog Esquerda.net

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