sábado, 9 de maio de 2009

REFLEXÕES DE FIDEL - O único ex-presidente norte-americano que conheci

CARTER foi o único ex-presidente dos Estados Unidos que tive a honra de conhecer, excepto Nixon, que não o fora ainda.

Eu visitara Washington para participar de uma entrevista coletiva que significava um duro desafio para mim pelas perguntas que os experientes repórteres fariam. O presidente recomendou a Nixon que me convidasse para conversar em seu gabinete. Ele foi enganoso e hipócrita. Saiu de seu escritório com a ideia de recomendar a destruição da Revolução em Cuba.

Aconselhado por ele, Eisenhower foi o autor dos primeiros planos para me eliminar fisicamente, da campanha de terror contra Cuba e da invasão mercenária da Baía dos Porcos.

Em 1959, começou a pérfida história que, 18 anos depois, o presidente Carter tentou retificar.

Conheci-o, ou melhor, adivinhei-o um homem de ética religiosa, a partir de uma longa entrevista, onde lhe colocaram temas difíceis, que abordou com sinceridade e modéstia. Nesse tempo, existiam fortes tensões entre o Panamá e os Estados Unidos. Omar Torrijos, líder desse país, era um militar honesto, nacionalista e patriótico. Pôde ser persuadido por Cuba para não adotar posições extremas em sua luta pela devolução do território do canal que, como uma faca afiada, dividia em dois sua pátria. Talvez por isso pôde ser evitado um banho de sangue à pequena nação, que depois seria apresentada ao povo dos Estados Unidos e ao mundo como agressora.

Mais tarde, e sem falar com alguém nos Estados Unidos, consegui vaticinar-lhe que talvez Carter fosse o único presidente desse país com quem podia se chegar a um acordo honorável, sem derramar uma gota de sangue.

Não decorreu muito tempo, antes que Washington assinasse o acordo entre os Estados Unidos e o Panamá, na presença dos demais chefes de Estado, excluindo Cuba, como é óbvio.

Menciono o fato porque o próprio Omar, numa visita realizada ao nosso país, narrou os esforços que Cuba nesse sentido.

Como presidente dos Estados Unidos, tomou a decisão com Cuba da criação de uma Repartição Consular em Havana e outra, em Washington. Com isso, poupamos um grande número de trâmites diplomáticos e papéis que enlouqueciam a austera e meticulosa diplomacia suíça. Manter o colossal prédio na antiga embaixada dos Estados Unidos em Havana era já, de per si, uma proeza da Suíça.

Mais uma coisa: Carter discutiu com Cuba questões importantes, como os limites das águas territoriais e os direitos de cada um, o uso dos recursos energéticos compreendidos nas águas jurisdicionais do México, Cuba e dos Estados Unidos, bem como os recursos pesqueiros e outros pontos importantes. Nem todos os acordos favoreciam Cuba. Nossa frota pesqueira, já criada, trabalhava nas águas internacionais e pescava, conforme fora estabelecido, a 12 milhas das costas do Canadá, dos Estados Unidos e do México. Contudo, por solidariedade, Cuba apoiava o Chile, o Peru e demais países da América Latina em seu direito de explorar os recursos pesqueiros de suas respectivas plataformas. O resultado foi que nossas modernas e custosas embarcações pesqueiras deixassem de trabalhar nessas águas, quando tal batalha foi finalmente ganha. Eram tais os requisitos estabelecidos pelas autoridades dos Estados Unidos nas ricas plataformas onde pescavam nossos navios nas proximidades das costas desse país, e outras limitações à luz do novo direito, que os mesmos se tornaram insustentáveis.

Quando Carter subiu à presidência de seu país tinham decorrido muitos anos de agressões, terrorismo e bloqueio contra o povo de Cuba. Nossa solidariedade com os povos da África e de outras muitas nações pobres e subdesenvolvidas do mundo não poderiam ser alvo de negociações com o governo dos Estados Unidos. Nem sairíamos de Angola, nem suspenderíamos a ajuda já comprometida com os países da África. Carter nunca chegou a solicitá-lo, porém é evidente que muitos nos Estados Unidos pensavam desse jeito.

Por defender nossa soberania não só se desataram profundas contradições com os Estados Unidos, mas também com a URSS, que era nosso aliado quando da Crise dos Mísseis, que sem consultar o nosso país, esta última negociou com aquele um acordo de mútua conveniência em que o bloqueio, as ações terroristas e a base de Guantánamo permaneceram incólumes em troca de concessões estratégicas por parte das duas superpotências. Não procurávamos vantagens unilaterais. Os revolucionários que agem assim não sobrevivem a seus erros.

O acatamento das normas internacionais nunca teria sido um obstáculo para Cuba e, como dissemos muitas vezes, a paz é também um objetivo incontestável da Revolução Cubana. Existem muitas formas de cooperação entre os povos com diferentes concepções políticas.

Uma prova disso é a luta contra o narcotráfico, o crime organizado e o tráfico humano, que se pode ampliar a muitas formas de cooperação na luta contra as epidemias, as catástrofes naturais e outros problemas.

A Revolução jamais praticou o terrorismo contra os Estados Unidos.

Esse país inventou o sequestro de aviões para golpear Cuba. Essa ação numa sociedade com tantos conflitos sociais, tornou-se uma epidemia. Como teriam podido solucioná-lo sem a cooperação de Cuba? Aplicamos severas leis para sancionar os responsáveis, mas foi inútil. Finalmente, tomamos a decisão de devolvê-los nos próprios aviões sequestrados, depois de adverti-lo previamente.

Desse jeito, o primeiro avião que devolvemos foi o último sequestrado nos Estados Unidos, e coincidiu precisamente com o mandato de Carter. A respeito disso falei amplamente. Não afirmo nada novo.

Depois de Carter, Reagan levou a guerra suja à Nicarágua, utilizou as drogas para burlar com suas receitas as leis do Congresso e fornecer armas à contra-revolução; minou os portos. Sua política custou milhares de vidas sandinistas, além dos mutilados e dos feridos.

Bush pai levou a cabo a horrível chacina de El Chorrillo para punir o Panamá e apagar os vestígios do passo de Carter.

Quando este último visitou Cuba, de 12 a 17 de maio de 2002, sabia que aqui seria bem recebido; assisti a sua conferência na Universidade de Havana; convidei-o a um importante jogo de beisebol ―o esporte nacional de Cuba―, um jogo entre os times Ocidentales e Orientales no estádio Latinoamericano. Os dois estivemos no lançamento da primeira bola, ao qual foi convidado sem escolta alguma, cercados por mais de 50 mil pessoas nas arquibancadas, alvos perfeitos para qualquer atirador contratado pela CIA. Já Bush filho governava nos Estados Unidos. Apenas queria mostrar a Carter quais eram as relações dos dirigentes do país com o povo. Aceitou com dignidade o convite que lhe fiz quando chegamos ao estádio, de que persuadisse o chefe dos seguranças para que o deixasse sozinho, e assim o fez.

O que sei da silvicultura nos Estados Unidos foi-me explicado por Carter no jantar que lhe oferecemos no último dia: como plantam, quais variedades, quantos anos tardam em crescer, a produção por hectare etc., etc., etc.

Reparei em sua fé no sistema capitalista onde cresceu e foi educado, a qual respeito.

Quando governou, os tempos eram difíceis. Coube-lhe carregar com os efeitos de uma crise econômica, mas foi austero, não endividou as futuras gerações. O sucessor dele, Ronald Reagan, dilapidou as poupanças que Carter fez. Era ator de cinema e manejava bem o teleprompter, mas nunca se perguntou de onde saía o dinheiro.

O ex-presidente Jimmy Carter declarou ontem ao jornal Folha de São Paulo: " ‛Eu gostaria que (o embargo) acabasse mesmo hoje. Não há razão para que o povo cubano continue sofrendo’, sublinhou o ex-presidente que hoje dirige uma organização de direitos humanos e visitou nesta semana o Brasil para se entrevistar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Segundo Carter, as iniciativas adotadas por Obama até agora para flexibilizar as restrições contra a ilha, foram menos ousadas que o que seria desejável.

" ‛Acho que as iniciativas de Obama não foram tão boas como as das duas Câmaras do Congresso norte-americano, que hoje está um passo mais para frente que o presidente quanto a Cuba.

" ‛O próximo passo deveria ser a remoção imediata de todas as restrições de viagem à ilha, não só para cidadãos cubano-americanos. Foi isso que eu fiz quando era presidente, há 30 anos. O fim do embargo virá logo’, disse o ex-presidente."

Carter expressou finalmente que dos dirigentes cubanos dependiam também os resultados. É verdade, de nós e de todos os cubanos que lutaram e estão dispostos a lutar.
Fonte:Granma Internacional.

Um comentário:

Brasil Empreende disse...

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Atenciosamente,
Sebastião Santos.