Esta era uma das 21 bases que os americanos possuem na América Latina. Como se sabe, existem mais de 800 bases americanas ao redor do mundo.
INREDH
Adital
Por Luis Ángel Saavedra
Um patético simulacro de despedida foi organizado pelos militares estadunidenses na Base de Manta para informar sobre sua saída após ter retirado, uma semana antes, todos os implementos importantes da Base, incluindo os equipamentos contra incêndio.
Com efeito, um pequeno avião de reconhecimento estadunidense se apresentou para a cerimônia final: não foi o sofisticado E3 AWAC (Airborne Warning and Control System - sistema aerotransportador de detecção e controle), com o que eram feitos os trabalhos de espionagem eletrônico; nem apresentou o C5 Galaxi, que o trouxeram desde o início das atividades da Base de Manta para demonstrar sua capacidade de deslocamento estratégico; tampouco esteve o C17, mais conhecido como Globemaster III, que veio na semana passada para transportar os últimos equipamentos que havia na base; também não apresentaram o C130, o AC130 ou o AC130A, ou qualquer uma de suas 31 versões com as quais podiam reabastecer em voo, detectar alvos noturnos, conhecido como "iluminação de alvos" e que estavam autorizados a operar desde a Base de Manta.
Como é o costume, dizem os estadunidenses, formou-se um arco de água para que o pequeno avião passasse por debaixo; ironicamente este arco de água foi feito com equipamentos equatorianos, pois, os deles já haviam sido levados para os EUA.
Nessa despedida, os estadunidenses voltam a insistir em que capturaram 1.758 toneladas de droga; porém, voltam a calar-se sobre o fato de que essas capturas são resultado de operativos coordenados por 11 países e com missões de três FOL; isto é, sua eficácia se reduz a uma média de 16 toneladas de capturas anuais por país, uma cifra insignificante em relação à tecnologia utilizada. Nos perguntamos: se não estavam capturando droga, o que estavam fazendo com toda essa tecnologia?
Também voltamos a insistir em que nos relatórios dos funcionários estadunidenses não foi dito quantos julgamentos foram iniciados pela droga capturada, quantas pessoas foram detidas, onde estão os julgamentos e onde permanecem as pessoas detidas. Faltam informações mais completas.
Por outro lado, foi patético escutar o último comandante estadunidense da FOL dizer que em 42% dos equipamentos ficarão na base, incluindo edifícios construídos, móveis e computadores. Analisemos o que deixam.
O comandante Curtis diz que ficam os edifícios. É claro, pois não podiam levá-los; pior seria derrubá-los; não teria sido bem visto nem pela imprensa, nem pelas elites de Manta que os apoiavam. Porém, os estadunidenses são capazes disso e de muito mais; como mostra, recordemos o que aconteceu em Baltra, entre 1942 e 1946.
Em 1942, o Equador cedeu a Base de Baltra, em Galápagos, para que os militares estadunidenses construíssem uma "base estratégica" para monitorar o Canal do Panamá e o tráfico marítimo no Pacífico, durante a II Guerra Mundial. Da mesma forma que em Manta, eles construíram um aeroporto e as instalações necessárias para a Base, incluindo edifícios. Em 1945, o então presidente José María Velasco Ibarra os forçou a sair de Baltra; Então os estadunidenses derrubaram os edifícios que haviam construído, enterraram os geradores de luz, lançaram ao mar os carros que utilizavam e não deixaram nada que pudesse servir ao povo equatoriano. Em 1946, Velasco Ibarra entregou Baltra ao Exército do Equador em um solene ato que reivindicava a soberania nacional sobre Galápagos. As marcas das edificações destruídas ainda podem ser vistas em Baltra.
Grande seria a tentação de fazer o mesmo em Manta; porém, aqui a imprensa está muito próxima e, em um mundo onde a informação se dá em tempo real, seria um mal anúncio para o governo colombiano que os vai albergar em pelo menos três bases militares, isto é, onde não existe organização social que os possa fiscalizar. Eles sabem onde vão e porque vão: temem a vigilância da sociedade.
Então, o que deixam em Manta?
Doaram os móveis de escritório e computadores a várias instituições que os apoiaram em Manta; os edifícios, logicamente, são deixados à Força Aérea do Equador e, paremos de contar, nada mais fica. Os equipamentos contra incêndios foram levados, as ajudas de aeronavegação também; e não se diga dos equipamentos eletrônicos. Porém, também levaram toda a informação armazenada em 10 anos de monitoramento. O comandante Curtis disse à Comissão Especializada de Assuntos Internacionais e Segurança Pública da Assembleia Nacional que esta informação não tinha sentido disponibilizá-la porque somente são bits que necessitam ser interpretados.
Então, na prática, não nos deixam nada; ou melhor dito, nada mais do que a dor e o desespero de centenas de pescadores que não foram indenizados pelas violações aos seus direitos; dezenas de mães solteiras que engendraram filhos dos soldados estadunidenses e que agora não saberão a quem recorrer para buscar pensões alimentícias: nos deixam a recordação de sua prepotência.
Porém, se vão, doze milhões de equatorianos/as os expulsaram, porque no Equador estamos começando a viver com dignidade e orgulho; estamos começando a construir uma grande região de paz, onde não há lugar para tropas, nem bases militares estrangeiras: nosso maior orgulho está em não desejar nada deles; não queremos sua ajuda; não os queremos aqui nem em nenhum ponto de nossa América Latina.
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