O governo brasileiro questionará o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Jim Jones, que vem a Brasília nesta semana, sobre um documento da Força Aérea dos EUA apresentado em abril, num seminário militar, defendendo o uso de uma base no centro da Colômbia, como plataforma de operações de longo alcance.
A reportagem é de Eliane Cantanhêde e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 03-08-2009.
O documento põe em dúvida as versões preliminares dos EUA e da Colômbia de que a ampliação do acordo militar dos dois países visa exclusivamente o combate ao narcotráfico, sem nenhum objetivo estratégico militar.
Pelo documento, operações a partir da base de Palanquero com o avião militar C-17 podem cobrir metade do continente sem necessidade de paradas técnicas de reabastecimento, o que reforça a desconfiança do Brasil e de países vizinhos de que o objetivo da ampliação militar americana na Colômbia não é interno, para combate à narcoguerrilha, mas externo, para aumentar a presença dissuasória no continente.
A viagem protocolar de Jim Jones já estava marcada previamente, mas ganhou importância com as tensões Colômbia-Venezuela. Ele terá encontros na quarta com os ministros Celso Amorim (Relações Exteriores) e Nelson Jobim (Defesa), além de se reunir amanhã com o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia.
Amorim já cobrou publicamente "transparência" na ampliação da presença americana em bases colombianas. As embaixadas em Washington e em Bogotá já pediram informações oficiais aos dois governos.
Uma das dúvidas brasileiras quanto ao avanço dos EUA sobre bases localizadas na Colômbia é que ele é justificado com o combate à guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), mas o próprio governo colombiano diz há tempos que elas já estão bastante fragilizadas.
Ao contrário, o Brasil analisa duas hipóteses: a de que a intenção dos EUA seja transferir para a Colômbia os equipamentos, o efetivo e as operações da sua base de Manta, no Equador, depois que o presidente equatoriano, Rafael Correa, se recusou a renovar o acordo militar com os EUA.
Além disso, Planalto e Itamaraty temem que a investida dos EUA tenha como meta neutralizar a aproximação da Venezuela com o Irã e com a Rússia.
Defesa de Chávez
Na semana passada, a embaixadora Vera Machado, subsecretária de temas bilaterais do Itamaraty, fez três perguntas ao chefe do Comando Sul dos EUA, general Douglas Fraser, que esteve em Brasília: se as bases serão americanas ou continuarão sob controle da Colômbia; se haverá aumento de efetivo e qual é, efetivamente, a intenção da ampliação da presença americana no país.
Fraser contra-atacou perguntando sobre o questionamento da Colômbia e da Suécia ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, sobre armas suecas que foram vendidas aos venezuelanos e acabaram em mãos de guerrilheiros das Farc.
Em entrevista publicada ontem. Amorim disse que não dá para comparar a questão das armas suecas com o aumento da presença dos EUA em bases colombianas. "[A questão das armas] é desse tamanhinho comparada com as bases militares", disse.
Segundo ele, as armas são de 1988 e ainda não se sabe se foram parar com as Farc antes ou depois de Chávez e como. "E se foram roubadas?"
Amorim contou que, na conversa com Machado, Fraser disse que uma das preocupações, hoje em dia, é que há até "veículos submersíveis" que levam armas para os EUA e as trazem para a América do Sul.
Concluiu o ministro: "Então, há armas de várias procedências e nem por isso você pode acusar os EUA de estar mandando essas armas para as Farc ou para favelas do Rio. Muitas armas chegam lá, nas Farc, como chegam nas favelas do Rio".
Fonte:IHU
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