Por Mauro Santayana
Ao considerar justa a guerra contra o Afeganistão, o presidente dos Estados Unidos reafirma a velha política imperialista de seu país, iniciada com a agressão ao México, em 1846. Muito pode ter mudado com um presidente mestiço, mas nada mudou com o presidente americano em relação ao mundo. Quando um povo é diretamente agredido – como fomos, em 1942, com o ataque a navios mercantes brasileiros por submarinos alemães na costa de Sergipe – mais do que seu direito é seu imperioso dever responder ao ataque, qualquer que seja a correlação de forças. Churchill observou que é melhor defender-se com as armas do que curvar-se a ultimatos ou aceitar acordos humilhantes, como os impôs Hitler a seu antecessor Chamberlain, em Munique, contra a Tcheco-Eslováquia: os que resistem são mais respeitados pelos vencedores, mesmo que percam a guerra. Não têm sido assim os Estados Unidos, como vimos no Vietnã e no Iraque e estamos vendo no Afeganistão.
Ao avançarem rumo ao Oeste, fazendeiros norte-americanos ocuparam, pouco a pouco, o Texas, que pertencia ao México, e declararam a independência do território. Para garanti-la, os americanos moveram guerra ao México, em 1846, e se apoderaram de 1,3 milhão quilômetros quadrados de seu território. Dispondo de tecnologia militar avançada, não lhes foi difícil expandir o domínio sobre os territórios vizinhos, e compraram com dinheiro o que não podiam conquistar com as armas, como o Vale do Mississipi, adquirido dos franceses, e o Alasca, comprado do Império Russo.
Reconheça-se nos anglo-americanos – que só se desentenderam quando da independência dos Estados Unidos e, de forma episódica, na little war de 1812 – visão estratégica de longo alcance. Logo que se descobriu no petróleo a fonte promissora de energia, a Inglaterra e os Estados Unidos se mobilizaram a fim de controlar os mananciais do Oriente Médio. No início do século passado, com a produção em série de automóveis, a cobiça pelo óleo que encharcava as areias da Península Arábica e do Golfo Pérsico se intensificou. Por detrás da disputa entre a Áustria e a Sérvia, os alemães pretendiam seu quinhão de petróleo naquela área, e buscavam fortalecer os seus laços com os otomanos, que a controlavam politicamente. Para combatê-los, Londres enviou à região o coronel Thomas Lawrence, o famoso guerrilheiro Lawrence da Arábia.
Toda a política internacional do século 20 teve como eixo o problema da energia, o primeiro e mais importante fator de produção, o mais importante insumo da vida. Como nos ensinam os compêndios elementares de física, a matéria é apenas um comportamento da energia. Essa é a razão da declaração de Obama, de que permanecerá no Afeganistão até derrotar os “terroristas”. Para assegurar apoio popular a essa decisão, o presidente usa o mesmo argumento de seu antecessor Bush: a necessidade de proteger a sociedade norte-americana contra os que foram capazes de atingir o símbolo de seu poder, ao destruir as torres de Manhattan. Mas, ainda que Bin Laden fosse o atacante, com isso nada teria o povo afegão.
É também o petróleo (mais do que as drogas) que explica os acordos militares com a Colômbia. Um dos mais argutos conhecedores e analistas da política internacional, o professor Moniz Bandeira, tratou do assunto em artigo recente. Washington se preocupa com o governo de Caracas e, ao assegurar e aumentar a produção colombiana, exercem pressão diplomática e militar contra Chávez, a fim de continuarem importando o óleo dos ricos poços venezuelanos.
Sempre estivemos advertidos do risco que corremos com a descoberta dos imensos depósitos de petróleo no profundo subsolo marinho abaixo da camada de sal. O petróleo não é apenas um negócio. É o mais grave problema estratégico do mundo, e deve estar sob o rígido controle do Estado. Já que o governo anterior comprometeu a Petrobras, com sua política antinacional, é necessário preservar o novo e mais profundo lençol petrolífero, com a criação de nova empresa, sob o controle total do povo brasileiro, mediante o Estado Nacional. A CPI da Petrobras procura impedir que a nova empresa se forme. Repete-se o mesmo cerco ao interesse nacional nos anos 50, quando pretendiam frustrar o desenvolvimento da grande empresa, hoje a maior do país. A prudência recomenda o fortalecimento das Forças Armadas, a fim de que não sejamos compelidos a aceitar ultimatos, nem acordos que reduzam a nossa soberania, como os está aceitando o governo de Bogotá.
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