Existe um problema que preocupa o Vaticano e que apresenta o risco de multiplicar causas milionárias como ocorreu, principalmente nos EUA, por causa dos abusos sexuais do clero. É o fenômeno muito difundido na América do Sul, mas também em países europeus como a Áustria, onde se registram dezenas de párocos abertamente concubinos, que se refere aos filhos de sacerdotes.
Com relação ao passado, hoje, com o reconhecimento de paternidade por meio do DNA, tudo pode se traduzir em uma avalanche de procedimentos judiciários para a inserção da prole na linha hereditária dos padres-pais. A Santa Sé, por isso, está avaliando a situação e preparando possíveis contramedidas legais.
A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada no jornal La Stampa, 02-08-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
No Vaticano, nas últimas semanas, sob o impulso da Congregação para o Clero, dirigida pelo cardeal brasileiro Claudio Hummes, ocorreram algumas reuniões para estudar a complexa questão e foram ouvidos também alguns pareceres externos, como o de Giovanni Franzoni, padre conciliar, ex-abade beneditino da basílica romana de São Paulo, na Itália, e líder de comunidades de base há muitos anos.
A solução que está sendo pensada na Cúria prevê uma espécie de "medida sanatória" do tipo daquela utilizada para consentir, nos últimos anos, que os pastores anglicanos contrários à ordenação sacerdotal de mulheres entrem na Igreja católica, conservando ao mesmo tempo o seu laço conjugal e o ministério eclesiástico.
"Os pastores anglicanos e alguns luteranos foram admitidos e consagrados padres por Roma, mesmo se eram casados, e conservando a vida conjugal com suas respectivas mulheres", explica Franzoni. Para os padres concubinos e com filhos (realidade muito difundida principalmente nos países em desenvolvimento) está se pensando em uma forma de garantia dos direitos sociais da mulher e da prole, isto é, uma espécie de contrato civil que não os exclua mais da herança. Desse modo, a prole legítima receberia o nome do sacerdote-pai, que, por sua vez, continuaria exercendo seu ministério.
Ao mesmo tempo, porém, deve ser estabelecida uma clara separação jurídica entre os bens do benefício eclesiástico do padre com filhos (que, depois da sua morte, permanecerão da Igreja) e os seus bens prediais, isto é, as propriedades e os ganhos pessoais, como por exemplo o salário como professor, no modelo do que ocorria no passado nas ricas linhagens, quando um herdeiro decidia assumir os votos e queria proteger seu patrimônio nobre.
Na prática, com a "medida sanatória" em estudo no Vaticano, o que entrará na linha hereditária dos filhos dos padres (e, em alguns países, há também bispos com filhos) serão apenas os bens prediais e não os de propriedade da diocese ou da comunidade eclesiástica como tal.
"É oportuno esse esclarecimento entre propriedades eclesiásticas e pessoais. Ajudará a evitar o equívoco que, nos EUA, causou tantos desastres nas causas de abusos sexuais dos sacerdotes", observa Gianni Gennari, teólogo e padre casado com dispensa "pro gratia" do Pontífice por meio da mediação do cardeal Ratzinger. "É injusto que as dioceses devam responder com o seu patrimônio às infidelidades e mesquinhezas do seu clero. Por isso é importante distinguir entre os bens da paróquia e aqueles de padres que não assumiram suas responsabilidades diante dos homens, da Igreja, de Deus e principalmente das mulheres que ilicitamente se envolveram na sua infidelidade".
É certo, acrescenta Gennari, "reconhecer e proteger os direitos das mulheres e dos filhos nascidos de relações ilegítimas", mas deveria se acrescentar a isso "a possibilidade para o bispo ou a Santa Sé, em virtude do caráter indelével do presbiterado, de admitir em uma forma de ministério eclesiástico os padres dispensados que tenham dado prova de maturidade humana e cristã na comunidade". Os padres casados de rito oriental são alguns milhares, mas para os padres de rito latino isso ainda é um tabu.
fonte:IHU
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