Luis Nassif
É tarefa inglória essa de tentar explicar o significado político da tentativa de derrubada de Sarney - ainda mais sabendo que Cláudio Humberto foi acionado para atacar o senador Pedro Simon.
Mas, vamos lá, que o desafio é bom.
Ponto 1 - Sarney representa, de fato, o lado complicado da política brasileira.
É um coronel político, trata os adversários menores (nos seus estados) sem complacência, vale-se de alianças no Judiciário e de facilidades no Executivo.
Lembro os seguintes posts que coloquei no Blog sobre ele.
No dia 30/07 um pouco da história de Sarney com grupos de mídia que ele próprio beneficiou: clique aqui.
No dia 12/07 outro post, lembrando a atuação de Saulo Ramos, no governo Sarney, conseguindo minha cabeça na Folha, em 1987 (clique aqui).
Em 11/07 relembro o escândalo Cemar, que a mídia varreu para baixo do tapete, porque envolve grandes bancos de investimento que os jornais sonham ter como parceiros e/ou investidores (clique aqui).
No dia 04/07 mais informações sobre as ligações de Sarney com Edemar Cid Ferreira: clique aqui.
No dia 17/06, escrevo mostrando como a mídia relevou as ligações de Sarney com a Gautama, preferindo fuzilar seu adversário Jackson Lago (clique aqui).
No dia 17/03 mostro o golpismo de Sarney, usando os tribunais eleitorais para afastar adversários legalmente eleitos. Clique aqui.
Ponto 2 - o grupo alagoano não é flor que se cheire.
Vide os ataques de Cláudio Humberto contra Simon que repetem, em escala menor, os assassinatos de reputação da mídia.
Ponto 3 - golpe e legalidade.
É aí que a porca torce o rabo. A derrubada de Sarney faz parte de uma manobra político-midiática visando desestabilizar o jogo político. Quer-se no Senado alguém que facilite CPIs e articulações que precipitem crises políticas.
Não fosse esse o intuito, não haveria a fulanização da crise do Senado em Sarney. Haveria interesse em identificar todos os beneficiários de atos secretos (não sobraria um Senador de pé), de exigir a punição de todos ou - melhor ainda - de batalhar pelas reformas no Senado.
Já tenho experiência suficiente para saber o significado de crises políticas. Afetam a vida de todos, dependendo de sua intensidade paralisam a economia, provocam terremotos no mercado, criam divisões que levam anos para serem corrigidas.
Ponto 4: o Judas da Semana Santa.
Para se legitimar perante os leitores, e impor seu poder de intimidação, a mídia precisa de Sarney, como precisou de Maluf, Quércia, Collor, Renan, Ibsen, Jader, o deputado do castelo e tantos personagens dessa natureza.
Pega políticos controversos e o transforma na personificação do mal, naquele que precisa ser destruído a qualquer custo, sob pena da moralidade soçobrar. Poupou apenas o pior deles, ACM.
São jogadas de cartas marcadas. Evidentemente, há políticos melhores e piores. Mas se a mídia decidir destruir qualquer político - de Lula a FHC, de Dilma a Serra, do PT ao PSDB - ela conseguirá elementos, factóides, armações ou provas. O modelo político brasileiro expõe todos.
Quando se entra nesse jogo, se está transferindo para a mídia o poder de definir quem é o atacado e quem é o poupado. Está se conferindo a ela um poder absurdo, de defenestrar o presidente do Senado, sempre que lhe der na telha, de tentar derrubar presidentes (como fizeram com Collor, em certo período tentaram com FHC e há cinco anos tentam com Lula), de calar o Judiciário com denúncias, sempre que alguma decisão não for do seu agrado. Pergunto: esse poder será exercido com critério, com moderação opu obedecerá aos interesses específicos dos grupos jornalísticos?
É barato o preço a ser pago pela degola seletiva de Sarney? Creio que não. É jogar o epicentro da crise no Senado, reforçar o papel da mídia de derrubar quem quiser, de impor seu padrão e seus interesses a qualquer poder e de expor o país a qualquer crise, contanto que seus objetivos sejam alcançados.
Espero que, um dia, Sarney pague por todo seu passado. Mas espero que isso ocorra seguindo todos os procedimentos legais, não sendo empurrado goela abaixo do país por esse alarido midiático. Por isso, ao mesmo tempo que aguardo a condenação de Sarney, espero que o presidente do Senado resista e não se deixe derrubar por esse jogo de sombras e interesses.
Fonte:Luis Nassif on line
Um comentário:
Por falar em PMDB
Sob condições “normais”, a imolação pública de José Sarney mereceria lautos festins. Acontece que a febre moral da grande imprensa visa apenas desgastar o PMDB governista antes das disputas de 2010. É pura campanha eleitoral.
As sucursais brasilienses existem há décadas, com repórteres alimentados por centenas de fontes em todos os níveis de poder, e nenhum deles, nenhunzinho, jamais soube de falcatruas operadas por diretores do Senado antes do governo Lula. O Sarney que presidiu a Casa e coordenou a base parlamentar do governo FHC (1995-97) era probo, literato e elegante. E nunca é demais lembrar que Agaciel Maia esteve lá por 14 anos.
Parece que duvidar da imprensa virou elogio ao coronel maranhense. Sei. Então tá. Proponho o seguinte: aspiremos bons fluídos republicanos, montemos na vassoura ética e investiguemos o PMDB de uma vez por todas. Que tal começar pelo quercismo?
Sugiro um levantamento dos órgãos e cargos ocupados por peemedebistas na atual gestão paulistana de Gilberto Kassab. Como se sabe, a vice-prefeita, Alda Marco Antônio, foi secretária dos “polêmicos” governos estaduais de Orestes Quércia (1987-90) e Luiz Antônio Fleury (1991-94) – aquele do massacre do Carandiru.
Alguém pode aproveitar o embalo para escarafunchar também o governo de José Serra, que se aliou a Quércia para vencer a disputa estadual e manter sólida maioria na Assembléia. Não parece razoável que uma aliança dessa envergadura tenha transcorrido sem qualquer, digamos, retribuição. Ora, deve restar alguma irregularidade, mínima que seja, escondida nos milhares de departamentos e incontáveis gabinetes dessas portentosas máquinas administrativas.
Ops. Cadê o furor investigativo? Agora deu preguiça?
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