segunda-feira, 19 de outubro de 2009

AFEGANISTÃO - Relatório de General relança o debate sobre o agravamento da guerra.

JOHN CATALINOTTO

São cada vez mais as divisões, mesmo entre os membros da administração Obama e no Pentágono, entre os partidários da intensificação da guerra e o envio de mais tropas para o Afeganistão, como pediu agora o comandante das forças da dos EUA e da NATO, o General Stanley McChrystal.
Obama pediu tempo para afinar a estratégia da guerra no Afeganistão que ele considerou estratégica para os EUA.

John Catalinotto* - 08.10.09

O General Stanley McChrystal apresentou no seu relatório a exigência de se recrutarem a mais, pelo menos, 40 000 tropas suplementares para se responder cabalmente ao esforço de guerra no Afeganistão, argumentando que tal aumento dos efectivos seria indispensável para a vitória estadunidense. O Presidente Barack Obama, respondeu a pedir tempo para a administração afinar a sua própria estratégia, respeitante ao Afeganistão.

Esta batalha encontra-se, actualmente, a decorrer no interior dos círculos de poder dos EUA, situando-se uma possível escolha, entre a retirada das tropas ou, em alternativa, na perspectiva de um eventual cemitério do tipo do ocorrido no Vietname, que poderia arrastar-se ao longo de, pelo menos, uma década mais, antes de se esfumar num colapso para o imperialismo.

Dentro da própria administração, no Congresso, no Pentágono e nos meios de comunicação social que seguem a ideologia dominante, as várias formas de oposição têm vindo a revelar assinaláveis diferenças tácticas. A questão chave é a de se apurar até que ponto é que se poderá agravar a ocupação dos EUA e da NATO no Afeganistão.

Seria incorrecto presumir que um dos lados desta contenda possa representar o gato e a outra o rato, ou de se interpretar a luta de uns como sendo pela paz e a dos seus oponentes pela imposição da guerra. Alguns políticos há, que, indiscutivelmente, procuram meramente a satisfação de interesseiros benefícios pessoais ou encontram-se totalmente vinculados aos negócios da indústria do armamento nacional. Mas, tal como uma observação mais atenta será capaz de demonstrar, encontram-se militaristas dos dois lados da barricada, tanto no Congresso como na Administração. E ambos os representantes, com o mesmo tipo de forma de estar na vida, dos dois lados desta guerra, desenvolveram, no passado, campanhas a favor de outras guerras, e o que os divide presentemente, não é mais do que uma avaliação táctica distinta daquilo que os EUA podem esperar no Afeganistão.

Qualquer discussão ou debate no interior da classe dominante, se especialmente bem fundamentado sobre a questão chave da guerra e da paz, poderia abrir as portas à entrada em cena de organizações verdadeiramente contra a guerra e que denunciassem à opinião pública norte-americana todas as verdades escondidas. Qual será a verdade desta guerra? Será a resposta a esta questão o facto de os EUA não disporem do direito de ocuparem o Afeganistão, antes de mais nada, e que esta guerra constitui uma tragédia inigualável para os afegãos, um pesado fardo para toda a juventude estadunidense que é enviada para o teatro de operações, e um sorvedouro de fundos públicos para se financiar com biliões de dólares o complexo militar e industrial que explode em derrocadas nas montanhas da Ásia Central, ao mesmo tempo que sobrevivem com penosas privações trabalhadores e indigentes no nosso país?

Divergências no topo?

Os dirigentes do Partido Republicano e os meios de comunicação social mais conservadores, com algumas honrosas excepções, clamam pelo envio de mais tropas. Estes são os mesmos sectores que atacam Obama sempre que dispõem de uma oportunidade para tal. Não há dúvidas de que, se o presidente Obama retirasse o seu sincero apoio à intervenção no Afeganistão, estes detractores imediatamente culpá-lo-iam pela derrota nessa guerra – ou seja, por outras palavras responsabilizá-lo-iam por devolver o Afeganistão aos afegãos.

O chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas norte-americanas, o almirante Mike Mullen, apoiou o pedido de McChrystal no sentido de se enviar mais tropas. Aparentemente, esta posição contaria com o apoio maioritário no Pentágono. O Secretário de Estado da defesa Robert Gates – anteriormente um partidário de George W. Bush – pronunciou-se publicamente, a pedido do General, a favor da intensificação da escalada de guerra e afirmou que a retirada não era uma opção válida.

Mas, até nas superiores hierarquias militares, há dissidentes. No dia 27 de Setembro, o jornal “New York Times”, noticiou que o Conselheiro Nacional de Defesa, o General James Jones, opõe-se à escalada. Assim como o anterior Secretário de Estado do governo de Bush, Colin Powell, hoje em dia, um General de quatro estrelas retirado, e que organizou em 1991, a guerra contra o Iraque e que mentiu repetidamente para forjar um pretexto para a invasão de 2003 naquele país, exprimiu-se afirmando o seu cepticismo relativamente a Obama e no que diz respeito ao envio de mais tropas.

De acordo com o mesmo artigo do jornal “Times”, as opiniões ao nível do topo da administração estão divididas. A Secretária de Estado Hillary Clinton e o enviado especial para o Afeganistão-Paquistão, Richard Holbrooke, um dos principais instigadores da guerra contra a Jugoslávia nos idos dos anos 90, defendem a escalada. O Vice-Presidente Joe Biden – que, rapidamente, durante a guerra do Iraque, se destacou pela sua sugestão em dividir o território Iraquiano em três partes – agora opõe-se ao aumento de efectivos no Afeganistão, receando um “pântano” e considera o próprio Paquistão, uma intervenção norte-americana mais importante.

Por ter apresentado muito rapidamente, o Afeganistão como a “guerra necessária” – em contraste com a do Iraque, Obama, cedo reduziu a sua margem de manobra. O belicista jornal “Washington Post”, atirou-se a esta falha, censurando Obama, num editorial, por ter tido “segundas intenções” e citando abusivamente as suas primeiras declarações, de forma a deixar transparecer uma posição activamente a favor da guerra. Com uma boa parte do Partido Democrata, a opor-se à escalada, incluindo alguns dos seus mais prestigiados conselheiros assim como a maioria das bases populares do Partido, Obama acabou por adiar uma decisão final.

Dissidentes em massa do esforço de guerra

Os trabalhadores, indigentes e pessoas a viver abaixo do limiar de pobreza, não têm nenhum interesse na continuidade da ocupação militar norte-americana do Afeganistão. Fora dos círculos dominantes, o último número da revista USA-Today/Gallup, publicado em Setembro passado, mostrou haver metade da população em geral, e 60 % dos democratas, a oporem-se ao envio de mais tropas.

Sinistras notícias vindas do Afeganistão a 27 de Setembro, acabaram por reforçar esta mesma oposição. Tropas norte-americanas e britânicas, para além de tropas oriundas de outros países da NATO, têm estado a ser abatidas a uma percentagem mais alta do que nunca. Um importante ministro afegão foi severamente repreendido. No que diz respeito ao povo afegão propriamente dito, um relatório das Nações Unidas conclui que a morte de civis associada à guerra já atingiu o registo revoltante de 1.500 vidas somente neste ano – e esta é só a ponta do icebergue. Muitos mais estão a morrer de fome ou como refugiados internos, causas que levam a uma taxa mais elevada de mortalidade materno/infantil no momento dos partos e a muitas outras condições propícias a mortes. Ao contrário do que apregoa a propaganda da NATO, a ocupação trouxe somente mais sofrimento à mulher afegã.

O passo seguinte para esta luta, nos EUA, tal como noutros países da NATO, é a exigência de uma retirada total das tropas do Afeganistão. Ao contrário das duas partes oponentes, no Congresso e no Governo, os trabalhadores e os desempregados de todas as diferentes nacionalidades e géneros têm todos interesse em acabar com esta guerra sangrenta e parar desse modo, o desperdício de fundos públicos nela investidos.

Várias manifestações de rua irão decorrer a 5, 7 e 17 de Outubro, afirmando uma firme oposição às guerras do Afeganistão e do Iraque e clamando pelo regresso aos lares das tropas norte-americanas ali estacionadas. Enquanto que a classe dirigente e os seus respectivos políticos jogam friamente as suas tácticas, a verdadeira oposição ao imperialismo norte-americano, exprimir-se-á nas ruas.

* John Catalinotto é membro de gabinete de Ramsey Clark e amigo e colaborador de odiario.info
Fonte:ODiário.info

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