sexta-feira, 23 de outubro de 2009

ECONOMIA - FMI vê Brasil forte contra choques, mas defende ajustes.

Pergunto: Qual é a moral do FMI para recomendar ajustes a qualquer país que seja?
Carlos Dória

Bruno Garcez

Da BBC Brasil em Washington

Brasil adotou políticas macroeconômicas anticíclicas apropriadas.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) crê que o Brasil é um dos países latino-americanos ''capazes de lidar com choques econômicos de qualquer proporção'', segundo a edição recém-divulgada do relatório Western HemisphereRegional Economic Outlook, que traz os prognósticos econômicos para as Américas em 2009 e 2010.

O Fundo identifica o Brasil, o Chile, a Colômbia, o México e o Peru como a categoria de nações latino-americanas mais capazes de resistir a choques externos, por terem tido crescimento sustentável aliado a serem exportadoras de commodities e terem adotado políticas macroeconômicas anticíclicas apropriadas nos últimos anos.

Mas Nicolás Eyzaguirre, diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional, acredita que o Brasil precisa promover ajustes fiscais e estruturais.

Eyzaguirre apresenta as conclusões do relatório do Fundo nesta sexta-feira, em São Paulo, em evento ao qual deverá estar presente o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

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Ele disse ainda que a decisão do Brasil de taxar em 2% as aplicações financeiras internacionais não pode servir como pretexto para que tais medidas sejam postergadas. A decisão em cobrar a tarifa sobre o capital estrangeiro foi anunciada nesta semana pelo ministro Guido Mantega.

Eyzaguirre, que foi ministro da Economia do Chile entre 2000 e 2006, advertiu que a aplicação de tais taxas costumam ser operações complexas, porque elas devem ser implementadas sobre ''todos os possíveis instrumentos financeiros''.

O diretor do Fundo para as Américas afirmou ainda que ''se você não faz reformas estruturais, aos controles de capital não funcionam em absoluto''.

Crescimento

O FMI não reviu a sua previsão de crescimento para o Brasil em 2009 e 2010, em relação ao relatório divulgado em maio. A taxa estimada pelo FMI para este ano é de que o país sofrerá uma retração de 0,7%, mas um crescimento de 3,5% em 2010.

O Fundo estima para a região das Américas como um todo, uma retração de 2,6% para este ano - ainda maior do que a estimativa feita no relatório de maio de 2009. Mas para 2010, a expectativa é de que a região volte a crescer, a uma taxa um pouco abaixo de 3%.

Segundo o FMI, a revisão se deve em boa parte por conta dos efeitos da crise econômica mundial, em especial no que diz respeito ao México.

A retração que o FMI prevê para a economia mexicana neste ano é de 7,3% - de longe o declínio mais forte sofrido em toda a região das Américas. Para o ano que vem, no entanto, a expectativa é de que o PIB do México tenha um crescimento de 3,1%.

Eyzaguirre diz haver uma situação bem ''assimétrica'' nas Américas, com países como o Brasil e o Peru, que, segundo ele, empregaram boas políticas macroeconômicas, são exportadores de commodities, e, portanto, reúnem os elementos necessários para ter um crescimento rápido.

Mas ele afirma não ser o caso de diversas outras nações da região, em especial os países da América Central, do Caribe e do México cujas economias são muito atreladas à americana.

Para os Estados Unidos, as estimativas permaneceram inalteradas no relatório atual. Para 2009, a previsão é de que o país tenha uma retração de 2,7% e um crescimento limitado em 2010, de 1,5%.

Apesar de antever uma recuperação gradual da economia americana, o Fundo prevê que esta se dará a um ritmo mais lento do que o ocorrido em crises anteriores, com um crescimento mais acentuado só se dando a partir de meados de 2010.

A previsão em relação ao índice de desemprego no país também é sombria. A expectativa do FMI é de que o índice supere a marca de 10% até o final de 2010.

Eyzaguirre acredita ainda que os países exportadores de commodities da América do Sul, como Brasil, Peru e Chile estão mais aptos a resistir a uma recuperação mais lenta da economia americana do que diversas outras nações, uma vez que são grandes exportadores de commodities e, por isso, se valem do dinamismo da economia asiática, que vem consumindo tais commodities em larga escala.

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