A verdade é que as teles não vêm cumprindo à risca o combinado nos contratos, Só querem atuar, dentro da lógica capitalista, onde conseguem boa margem de lucros, e dane-se o consumidor. Só querem o filé mignon.Daí a necessidade do Estado intervir.
Carlos Dória
As operadoras de telecomunicação deram-se conta de que, na copa do Planalto, cozinha-se a criação de uma rede estatal de acesso à internet por banda larga. Condenando a ideia, Otávio Marques de Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez, sócia da Oi, disse que em 1998, quando a União vendeu o controle do Sistema Telebrás, fez opção pelo modelo privado de telecomunicações e concluiu: "O retrocesso não faz sentido".
O comentário é de Elio Gaspari, jornalista, e publicado pelo jornal Folha de S. Paulo, 18-10-2009.
Calma. A criação de uma BandaBrás pode ser um erro, mas essa conversa de "retrocesso" embute uma satanização do Estado que fez a desgraça da privataria tucana, para alegria de alguns gatos gordos. Onze anos de gestão privada resultaram numa fenomenal expansão da rede de telefonia e também no seguinte:
Segundo a União Internacional de Telecomunicações, o Brasil tem o serviço de celular mais caro do mundo. As operadoras respondem que isso é consequência de um carga tributária de 40% sobre o valor da ligação. Tudo bem, tirando-se 40% do indicador da UIT, o minuto brasileiro sai pelo preço do argentino com os impostos e custa oito vezes mais que o indiano.
O Brasil tem 5,3 ligações de banda larga na internet para cada cem habitantes. A Argentina e o Chile têm 8,8. As leis do mercado fizeram com que o número de paulistas ligados à rede veloz (2,4 milhões) seja maior que o de todos os clientes das regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste (2 milhões). Metade dos municípios brasileiros está fora da rede.
Os teletecas do governo planejam utilizar uma base já existente de 31 mil quilômetros de fibras ópticas para levar a banda larga a 87% da população, em 4.245 municípios. Comparando-se esse projeto com os resultados e os preços oferecidos pelas operadoras, retrocesso seria deixar as coisas como estão. A ideia de o governo concorrer com a rede privada não faz mal a ninguém.
O que prejudicou o país, e muito, foi o monopólio da rede estatal. Em 1995, a Embratel tinha uma fila de 15 mil pessoas esperando acesso a um provedor de internet. Um telefone valia US$ 10 mil na Barra da Tijuca e 2.000 votos no interior do Estado do Rio.
Se as operadoras não conseguem, ou não querem, ir além do filé mignon do negócio da internet, o melhor que pode acontecer é a entrada do Estado.
IHU
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