quinta-feira, 22 de outubro de 2009

NOSSOS NEOLIBERAIS SÃO MAIS NEOLIBERAIS QUE OS DELES.

Brizola Neto no blog "Tijolaço".

Dos jornais brasileiros, não preciso falar, vocês viram. Alguns trataram uma mísera taxação de 2% nas aplicações de capital estrangeiro em especulação com juros ou com a bolsa como um confisco, uma monstruosidade. “Empresas perdem X bilhões em um dia”, “Investidores vão fugir”, atc, etc… Você já viu este “fim de mundo” antes e o mundo não acabou.

Já os jornais estrangeiros, especialmente os econômicos, não estavam nem aí. Ao contrário. Já cedo a BBC destacava em seu site a matéria do Financial Times, dizendo que o Brasil, com a entrada maciça de dólares, “estava sendo vítima de seu próprio sucesso” e dizia que até punham pouca fé que essa taxação pudesse acabar com a corrida por aplicações no Brasil.

Vejam só o texto da BBC:

“No artigo mais noticioso (do Financial Times), que ganha espaço na primeira página, afirma que, “se o governo está tentando conter o avanço estável do real em relação a outras moedas com a taxa de 2%, muitos estão céticos quanto à hipótese de dar certo”.

É que, diante das boas perspectivas para o país, a atração de capital externo tem crescido a passos largos. “O Brasil se tornou vítima de sua própria resistência à crise”, diz o correspondente do jornal em São Paulo.

No momento em que grande parte do mundo ainda sofre com os efeitos crônicos da recessão, o país “deu os ombros” para a crise e está “voltando rapidamente para um forte crescimento”, afirma o diário.

Como explicou um analista, citado em uma segunda matéria, com a taxa o governo brasileiro “está lutando contra todo o mercado”. “Todo mundo quer estar no Brasil neste momento”, disse, ao jornal.

Mas nossos editores e comentaristas, muito sabidos, preferiram descrever a beira do precipício. Este blog, que é também muito simplório, prefere repetir o que vem sendo escrito, toda hora: “eles não vão fugir de onde ganham muito dinheiro”.

Mas nossos ultra-extra-superneoliberais, campeões olímpicos da liberdade do capital não querem nem saber se continua sendo lucrativo (e muito) investir no Brasil. Importante, mesmo, é não cometer a heresia de cobrar impostos do capital. Imposto só é pra salário e pra consumidor, onde já se viu!
Brizola Neto Comentários (4)
Nossos neoliberais são mais neoliberais que os deles
quarta-feira, 21 outubro, 2009 às 22:08
Os americanos (e europeus) adoram um protecionismo. Nós, não. Somos os olímpicos campeões do neoliberalismo

Os americanos (e europeus) adoram um protecionismo. Nós, não. Somos os olímpicos campeões do neoliberalismo

Se há uma coisa em que o Brasil pode se gabar de ser líder mundial é em alienação das suas elites. O Governo Lula resguardou o pré-sal nas mãos da Petrobras, entre outras razões, para que a enorme cadeia de compras de equipamentos e serviços que ele demandará ficasse em mãos das empresas brasileiras, gerando riqueza e empregos aqui.

Bom, a lógica é que as empresas brasileiras vibrassem com a notícia, pois lhes garante mais encomendas, mais faturamento, mais crescimento (e, com ele, mais emprego). Mas a nossa Confederação Nacional da Indústria, ao contrário, reclama da medida e defende que a exploração seja aberta (leia-se, entregue aos estrangeiros) e que haja uma absoluta “liberdade” em matéria de política de compras porque, assim, as empresas brasileiras serão forçadas a ser mais competitivas.

Sabem, a gente é muito simplório e não consegue alcançar a elevação espiritual desta gente. Os fabricantes de máquinas, de equipamentos, de navios não querem a garantia de vender máquinas, equipamentos e navios, para a Petrobras. Deveriam incluir uma prova de neoliberalismo mental nas Olimpíadas, as elites dirigentes do empresariado brasileiro ganhariam o ouro, garantido.

Veja o apelo que aqueles “caipiras” atrasados que dirigem as siderúrgicas americanas dirigiram ao Congresso dos EUA para tentar evitar - sem sucesso - que se abrandassem as cláusulas do programa “Buy America”, lançado por Barack Obama para tentar tirar da crise a indústria americana:

“Um pacote de recuperação econômica com fortes cláusulas ‘Compre na América’ para projetos de investimento em infraestrutura fortalecerá a infraestrutura do nosso país, devolverá o emprego de milhões de trabalhadores americanos e ajudará a revitalizar o setor industrial doméstico - em total cumprimento com nossos acordos de comércio internacional” (carta enviada pelo Instituto Americano do Minério de Ferro e do Aço aos congressitas)

Hoje, o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, teve que ficar gastando seu latim para dizer o óbvio: “” num navio, queremos ampliar o conteúdo nacional dos móveis, dos motores, dos equipamentos, do sistema de ancoragem, do sistema de radar, do sistema de geração elétrica. Tem que avançar na cadeia (produtiva). Essa é a ideia ”

A Petrobras quer comprar 30 sondas e 153 embarcações até 2013. E o presidente da estatal ainda tem que sair em palestras por aí perguntando: “ por que não fazer essa criação nova no Brasil? “.

Quem duvidar, leia aqui a matéria do Valor, de hoje.

Infelizmente, uma parte de nossa elite dirigente empresarial - não toda, felizmente - prefere aplicar-se acordos com empresas estrangeiras do que investir em pesquisa, desenvolvimento e tecnologia. Mesmo com um cliente garantido do porte da Petrobras. E é ela que fala na imprensa, olímpica: “o importante não é vencer, é competir”. A tradução disso é: melhor fazer um acordo com os etrangeiros e conseguir algum do que investir e trabalhar”.

Lembro de meu avô contando que , na Austrália, perguntada pelo intérprete como eles, os australianos, viam o empresariado do país, uma mulher do povo disse: “nós amamos nossos empresários, eles ajudam o país a se desenvolver”. Será que podemos dizer o mesmo de parte dos nossos diriegentes empresariais”?

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