É sempre bom ler os artigos do Aloysio Biondi sobre a privataria. O que mostramos a seguir, é sobre a Vale, que o Lula fez bem em criticar, já que essa empresa, apesar de explorar recursos naturais, não está nem um pouco preocupada com os interesses nacionais.
Carlos Dória
Acho impossível falar sobre os problemas catastróficos que surgem na telefonia da Telefonica tucana, no pré-sal ou esse embate que o governo trava o Agnelli da Vale [ sob os olhares gulosos do Eike Batista ] e que tem recebido páginas e páginas das revistas de economia, sem recorrer as análises do bom Aloysio Biondi. Tal leitura não nos deixa perder o foco do principal, que são as catastróficas perdas que a tucanalha causou ao país privatizando [ modo de falar, já que pagamos para quem a levasse ] a Vale do Rio Doce. Vejamos as palavras que Biondi, à época do crime perpetrado pelos elegantes "ladrões de casaca". Quem sabe, ao indicar estas leituras, consigamos ajudar a nunca mais botar gente do quilate de FH e Serra no Planalto. E, claro, tembém podemos perceber de que lado os jornais e revistas estão [ e sempre estiveram ].
Vale do Rio Doce, ignorância e má-fé
Os novos argumentos apresentados por governo e de-formadores de opinião para justificar a venda da Vale do Rio Doce são uma mistura espantosa de ignorância, amnésia e, principalmente, má-fé.
A estratégia para continuar enganando o Congresso e a opinião pública se baseia em dois pontos principais.
Primeiro: diz-se que a Vale do Rio Doce tem sido péssimo negócio para o governo porque, ao longo dos anos, pagou rendimentos em torno de 1% ao mês, ou “menos que a caderneta de poupança”.
Portanto, conclui a propaganda do governo, é mais vantajoso o governo vender a Vale e aplicar o dinheiro em negócios mais rentáveis. É tudo mentira.
Segundo: o governo agora confessa que realmente a Vale tem jazidas fabulosas (não apenas de ouro e cobre) em Carajás que nem sequer foram medidas corretamente, isto é, das quais nem sequer se sabe o valor (de centenas de bilhões de dólares).
Mesmo assim, dizem agora os de-formadores, pode-se montar um esquema para vender a Vale imediatamente, sem prejuízos para o governo.
Como assim? O Tesouro e outros acionistas minoritários da Vale receberiam um tipo de título (batizado errada e sem-vergonhamente de “debênture”) que garantiria a participação também nos lucros que a Vale do Rio Doce viesse a ter no futuro com a exploração dessas jazidas. Parece uma saída inteligente. É outra manobra despudorada.
Para entender a falsidade desses argumentos, é preciso analisar tintim por tintim essas operações todas.
Lucros e lucros
Vamos fazer de conta que dois amigos, Pedro e Luís, criem uma empresa para vender artigos importados, com um capital de R$ 100 mil: cada um deles terá 50 mil ações, no valor de R$ 1 cada uma, representando 50% do capital para cada um.
No final do ano, a empresa oferece um lucro fantástico de R$ 200 mil, ou o dobro do capital. O que os dois sócios – ou acionistas – fazem? Pegam esses R$ 200 mil de lucro e torram? Caem na farra?
Claro que não. Usam os lucros também para ampliar a empresa, investir. Em qualquer empresa, os sócios dividem os lucros assim:
Dividendos - do lucro de R$ 200 mil, Pedro e Luís retiram 10%, ou R$ 20 mil, para seu próprio bolso. Esses lucros que são distribuídos é que recebem o nome de dividendos. Os dividendos, portanto, são só uma pequena parte dos lucros anuais de uma empresa.
Isto é: quando se diz que a Vale pagou dividendos ridículos ao governo, e por isso ela é um mau negócio, os de-formadores de opinião estão mentindo. Fingindo que não sabem.
Reservas - depois de retirar os dividendos, o que Pedro e Luís fazem com os R$ 180 mil restantes do lucro de R$ 200 mil? Esse dinheiro vira “reserva” da empresa. Depois, essas “reservas” são usadas para aumentar o capital da empresa.
Como isso é feito? Os R$ 180 mil de lucro que viraram “reservas” se transformam em 180 mil ações, cabendo metade, ou 90 mil, a cada sócio, que passa a ter 140 mil ações cada um.
Filhotes - essas ações distribuídas “gratuitamente” aos sócios, isto é, tiradas dos lucros que viraram reservas, são chamados de “filhotes” (bonificações, na linguagem técnica).
Isto é: ao longo dos anos, o Tesouro recebeu bilhões e bilhões de ações “filhotes” resultantes dos lucros da Vale. É mentira, e os de-formadores sabem disso, que a Vale só tenha rendido “dividendos” ridículos.
Investimentos - o que Luís e Pedro fazem com o capital aumentado pelos lucros de sua empresa? Ampliam os negócios, abrem novas lojas, conquistam fatias do mercado. E, óbvio, a empresa vale cada vez mais. Rende cada vez mais lucros para seus donos, além de ter um patrimônio cada vez maior. Como a Vale tem rendido ao Tesouro.
Resultado: as ações da empresa também valerão cada vez mais, inclusive nas Bolsas. É também o caso da Vale.
O cidadão comum, ou mesmo deputados e senadores, não tem a obrigação de conhecer esses mecanismos. Mas ministros, ex-ministros e formadores de opinião, especialmente com tradição no mercado financeiro, conhecem-nos muito bem. É espantoso que finjam ignorância ou amnésia para defender a venda da Vale. Agem de má-fé.
Fonte:Blog B.F.I. O Correio da Elite
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