José Serra, o homem que terceirizou a
estratégia política para os jornais
Do Blog do Nassif
Segundo matéria da Folha, a Casa Civil informa que na hora da tal reunião com Lina Vieira ela, Dilma, estava com o presidente da República e não participou de reunião alguma. Lina diz, em depoimento no Senado, que não houve reunião em 9 de outubro porque estava em São Paulo. Ambas – casa Civil e Lina (no Senado) informam que houve reunião na Casa Civil para tratar do tal encontro dos CEOs.
E, depois de pesar todos os elementos, o ponderado senador Arthur Virgílio encerra o samba do crioulo doido com uma frase lapidar:
“Devido ao surgimento de novas e irrefutáveis provas é imprescindível a presença da ex-secretária”, disse o líder do partido, Arthur Virgílio (AM).
Desde que a agenda política passou a ser comandada pelas manchetes do circuito Folha-Veja-Globo, a oposição só afunda. Criou-se um mundo virtual totalmente dissociado da realidade, auto-referenciado, sem auto-crítica, com esse nível de “provas novas e irrefutáveis”.
Esse fenômeno ainda há de ser estudado e, no futuro, considerado o maior engano já produzido por uma liderança política no país: José Serra, o homem que terceirizou a estratégia política para os jornais.
O que esteve por trás dessa imprudência é o seguinte.
No mano-a-mano, a oposição perde a batalha da comunicação para Lula. Decide, então, curvar-se a essa realidade, deixar de lado o “feeling” político próprio – por não confiar nele – e terceirizar a estratégia comunicação para quem presumivelmente entende e comanda o processo: a mídia. Assim, a parte mais sensível de uma campanha política, a formação da imagem foi substituída pelo exercício fácil de atender às demandas da mídia e deixar o trabalho por sua conta e risco.
Antes, os estrategistas políticos eram pessoas como Tancredo Neves, Tales Ramalho, Ulisses. Na era Serra foram substituídos pelo Ali Kamel (!), Merval (!), o Otavinho (!), o Roberto Civita (!), as colunistas políticas – que diariamente mandam orientações à oposição sobre como proceder, dão broncas quando acham que a oposição está desanimando, passam pito, ordenam isso e aquilo. E as lideranças aceitam de cabeça baixa, entram em todas as geladas que esse processo desembestado gera, criam até CPI da Petrobras e, depois que a empresa lança uma monumental campanha midiática, ficam órfãos, sem saber porque a mídia se desinteressou pelo tema, depois de obrigá-los a entrar na fria.
À falta de conteúdo político, de capacidade de compreensão do processo político, da incapacidade de discutir propostas ou modelos de país (porque exige ir além dos slogans e porque não faz parte da lógica midiática), esse pessoal adotou a agenda neocon – um modismo norte-americano que, no caso brasileiro, vinha pronto e embalado (criado pelo brilhantismo de Olavo de Carvalho e repetido por meia dúzia de papagaios). Um discurso restrito, de pouca ressonância, tornou-se hegemônico na mídia, não por convicção, mas por visão torta de mercado.
Não era mais a política comandando o discurso – como ocorreu com o PMDB de Ulisses, com o próprio Collor, com o mercadismo de FHC. Eram as criaturas de FHC, misturando slogans de mercado com slogans neocons e condicionando o discurso de um candidato a presidente da República, tendo como “timing” político e midiático apenas o escândalo do dia seguinte. Serra criou um exército de lobisomens (neoliberais + neocons + criadores de factóides) e passou a ser comandado por eles.
Como a mídia, seguramente, não estava à altura do desafio – e nem poderia estar, porque a lógica dos jornais é outra – criou-se essa mixórdia visceral, um debate circular em torno de Honduras, FARCs, cotas raciais, Venezuela, erros de português do Lula, Honduras, Bolsa Familia, Foro de São Paulo, FARCs, Moralez, erros de português do Lla, Hinduras, Cuba, Fidel… Meu Deus! Essa temátiuca só existe na cabeça deles e de leitores influenciáveis (e sem nenhuma relevância). Não há um ambiente minimamente esclarecido – sejam entre empresários, intelectuais – que tenha saco para entrar nesse jogo.
A oposição torna-se, então, massa de manobra da mídia. E, como se tornou partido político, a grande imprensa passou a fazer a única coisa que acha que sabe: fabricar escândalos, o tal priapismo midiático que os levou a um besteirol, em cima de factóides, poucas vezes visto na história da imprensa brasileira.
Serra conseguiu transformar um partido que já representou esperanças de mudança no país em sucursal da mídia. Não de um New York Times, mas da mídia brasileira.
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