domingo, 11 de outubro de 2009

EUA - O dilema de Obama.

José Inácio Werneck

Bristol (EUA) – Não é de hoje que o Afeganistão se mostra um problema insolúvel para as grandes potências mundiais. O Reino Unido se envolveu duas vezes com esse território isolado nas montanhas asiáticas, no século XIX, e por duas vezes teve que bater em retirada com o rabo entre as pernas. Ou, para usar uma expressão menos contundente, lambendo as feridas.

Os infortúnios britânicos mereceram até sarcástica mas perspicaz análise do grande escritor português Eça de Queiroz - se não me falha a memória, em uma de suas Cartas de Inglaterra, na ocasião em que ele lá servia como diplomata.

No século XX, na passagem da década de 70 para a de 80, foi a vez da União Soviética dar com os burros n’água. Os efeitos diplomáticos foram grandes, a começar pelo fato de que o então presidente americano, Jimmy Carter, resolveu boicotar as Olimpíadas de 1980, em Moscou, arrastando consigo alguns outros países ocidentais.

Em represália, a União Soviética e 14 de seus satélites deixaram de comparecer a Los Angeles em 1984, embora a China, assinalando já sua independência em relação a Moscou, o fizesse.

Os americanos, recém-saídos dos revezes no Vietname e sequiosos por imporem uma derrota militar e propagandística aos comunistas no Afeganistão, apoiaram com dinheiro, armas e logística os insurgentes islâmicos, conhecidos como mujahedeen, que eram ferozes no combate aos “infiéis”. Entre os mujahadeen encontrava-se um certo Osama bin Laden, que depois passou a lutar contra outros infiéis – os infiéis ocidentais.

Ao candidatar-se à presidência dos Estados Unidos, Barack Obama prometeu retirar as tropas americanas o mais depressa possível do Iraque (o que vem fazendo) e concentrar sua atenção no Afeganistão. A tônica de seu discurso foi que a situação no Afeganistão havia chegado a um impasse porque os Estados Unidos dissipavam muito de seu esforço num país como o Iraque que, afinal, nada tivera a ver com o ataque de 11 de Setembro de 2001 em Nova York.

Agora Barack Obama vê que o problema é bem mais complicado e se encontra diante de um dilema. Vai se tornando claro que no Afeganistão não há vitória possível, como não houve para britânicos e soviéticos e como não houve para os americanos no Vietname.

Assim como no Vietname, os americanos se defrontam no Afeganistão com um governo que apóia o Ocidente mas é totalmente corrupto, mantendo-se no poder apenas através de fraude eleitoral, como é o caso de Hamid Karzai em sua terra encarapitada nas montanhas, ou de ditadura pura e simples, como foi o de Ngo Dinh Diem no sudeste asiático.

O que fazer? Armar contra Karzai um golpe que resulte em sua deposição e provável assassinato, como os Estados Unidos fizeram contra Ngo Dinh Diem em Saigon (e, diga-se de passagem, sem resultado)?

Ou, para repetir a velha expressão inglesa, “grin and bear it”? Sorrir (ainda que um sorriso amarelo) e fingir que está tudo bem, na esperança de que as coisas melhorem por si mesmas?

Obama vai decidir por cair fora do Afeganistão? Vai decidir por botar para quebrar no Afeganistão? Vai decidir por empurrar com a barriga, aumentando as tropas, mas não por um número muito expressivo?

Aguardem os próximos capítulos. Depois do desastroso episódio olímpico de Chicago em Copenhagen e em meio às complicadíssimas gestões para obter no Congresso a aprovação de sua reforma dos planos de saúde, Obama precisa mais do que nunca de discernimento – e coragem – para tomar uma decisão correta.
Fonte:Direto da Redação

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