Elis Monteiro *
Jornal do Brasil
RIO - Sim, estamos lutando contra um monstro: nada menos que 59% da população brasileira estão fora da Internet. E, quanto mais as tecnologias evoluem, maior fica o gap entre os que têm acesso a elas e aqueles que estão à margem da chamada Sociedade da Informação. Isso não significa, no entanto, que devemos abandonar estes excluídos à própria sorte. Simplesmente porque ter acesso à tecnologia é condição sine qua non para o desenvolvimento profissional - e também pessoal - de qualquer cidadão. Consideramos que engavetar o problema debaixo de uma pilha de estatísticas e dados negativos não só não resolve, como pode agravar a situação que muitos consideram calamitosa.
É preciso agir mais, e já. Ir às comunidades, conhecer as necessidades de perto e pensar no Brasil do Oiapoque ao Chuí. Temos um trabalho árduo pela frente nas regiões Sudeste e Sul, mas também é preciso encarar, urgentemente, a exclusão digital nas outras regiões do Brasil, que não interessam às empresas fornecedoras de infraestrutura por não concentrarem altos índices de renda per capita.
O monstro da exclusão digital é traiçoeiro. Quando se pensa que ele está sendo vencido, lá vem mais um dado comprovando que a situação não melhora como deveria - e poderia. A indústria da tecnologia é mais rápida do que os projetos de levá-la aos menos favorecidos. Mas a luta não é inglória, muito pelo contrário. Quando se lida com sonhos e projetos de vida, qualquer esforço vale a pena, uma vez que os resultados saltam aos olhos. Vejam o caso do CDI: já capacitamos mais de 1 milhão e 250 mil pessoas!
Se lá atrás, em 1995, quando o CDI nasceu, tivéssemos considerado o monstro assustador demais, hoje todas essas pessoas estariam engrossando a fila dos excluídos digitais. E a última coisa que queremos é desistir de conectar as pessoas não a máquinas, mas ao conhecimento que transforma e liberta.
Por acreditarmos de verdade que a situação da exclusão digital é passível de ser amenizada (mas não erradicada, pois sabemos o tamanho do desafio), em nenhum momento nos sentimos como Dom Quixote lutando contra moinhos de vento. Sabemos que o problema é desafiador, visualizamos as garras do monstro, mas também vislumbramos que as soluções existem e podem ser aplicadas.
O monstro precisa ser atingido frontalmente, através da criação de um exército que reúna entidades da sociedade civil, empresas e, claro, o governo. Necessitamos de mais planejamento e atenção por parte do poder público, que deve desenvolver ações pontuais visando aumentar a capilaridade do acesso à infraestrutura, base da base de tudo. E, quando não se tem a base, o resto do corpo fica capenga.
* Comitê Democratização da Informática
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