Marina Silva
De Brasília (DF)
Na última sexta-feira, o Comitê Nobel anunciou a escolha do presidente dos Estados Unidos Barack Obama como o vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 2009, em reconhecimento "pelos seus extraordinários esforços para reforçar a diplomacia internacional e a cooperação entre os povos".
Com apenas nove meses no cargo, a escolha surpreendeu a muitos, inclusive o próprio Obama, que o recebeu com humildade, ou, em suas palavras, como "um chamado". Ele precisa mesmo ser muito incentivado.
Para obter sucesso em seus esforços pela paz, Obama não poderá esquecer da questão ambiental. Comprometer-se em preservar o meio ambiente e reduzir a emissão de gases de efeito estufa também é buscar a paz. Especialistas apontam o colapso ambiental como provável causador de guerras e conflitos em um futuro sombrio no qual o mundo lutará por recursos naturais imprescindíveis, a começar pela água.
Projeções já feitas pelos serviços de defesa americanos mostram que as mudanças no clima representam grande desafio à segurança - não só em território americano como ao redor do mundo - diante da perspectiva de aumento de tempestades e secas, da ocorrência de migração maciça, de pandemias e de outros desastres naturais.
Segundo estimativas conservadoras apresentadas pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) no fim do ano passado, as mudanças climáticas devem forçar o deslocamento de cerca de seis milhões de pessoas por ano.
No mesmo dia do anúncio do Nobel, terminava a penúltima rodada de negociações antecipatórias antes da 15ª Conferência das Partes sobre o Clima (COP 15), que acontecerá em dezembro em Copenhague.
Após duas semanas de reuniões, os representantes de quase 180 nações saíram de Bangcoc, na Tailândia, sem avançar na definição de metas de redução de emissões de carbono ou sobre como os países em desenvolvimento poderão financiar o combate ao aquecimento global.
Mesmo já sendo consenso entre os países que são necessárias metas globais para evitar que a temperatura média no planeta suba além de dois graus Celsius, muitas nações teimam em apegar-se a interesses imediatos.
Infelizmente, entre elas estão os Estados Unidos. Até o momento, a meta mais ambiciosa apresentada pelos americanos prevê cortes de 4%, quando comparados com as emissões de 1990. Muito pouco para um país responsável por tão significativa parcela de emissões de gases causadores do efeito estufa. Também causou imenso desconforto a proposta feita, ao final da Conferência em Bangcoc, de se estabelecer um novo acordo jurídico, ignorando o que já foi acordado no Protocolo de Quioto.
Surpreendentemente, quem trabalha com o pragmatismo do lucro já demonstra maior compreensão do que representarão as mudanças climáticas no planeta: muitas empresas de grande porte pressionam o governo americano a adotar um posicionamento mais responsável, à altura de sua importância mundial. O próximo encontro será em Barcelona daqui a três semanas. E até lá precisam ser superadas todas as diferenças que inviabilizam um acordo.
Cabe aos Estados Unidos fazer mais. Assumir metas mais ousadas de redução de suas emissões de carbono, pressionar para que os demais países, tanto os mais ricos quanto os emergentes, atendam ao "chamado" em defesa do meio ambiente. Só teremos paz se o futuro do planeta for preservado.
Faço minhas as palavras do secretário-executivo da Convenção da ONU sobre Alterações Climáticas, Yvo de Boer, ao comentar sobre o prêmio Nobel recebido pelo Obama: "Espero que isto constitua um encorajamento para que ele se empenhe fortemente num acordo em Copenhague".
Fonte:Terra Magazine.
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