sexta-feira, 9 de outubro de 2009

MÍDIA - Respostas que o jornalismo econômico não deu.

Lucia Faria

Portal Imprensa

Acabo de assistir palestra com o consultor Stephen Kanitz no MaxiMídia 2009, que aconteceu esta semana em São Paulo. Ele falou sobre planejamento para 2010 e fez críticas interessantes ao jornalismo econômico. No palco, como debatedores, os jornalistas Fernando Vieira de Mello (Grupo Bandeirantes), Helio Gurovitz (revista Época) e Ricardo Gandour (Grupo Estado).

Antes de contar os detalhes, preciso lembrar que Kanitz participou da edição do ano passado desse mesmo evento. Foi em um momento em que o mundo achava que iria implodir e Wall Street vivia sob o pânico total. Na contramão geral e irrestrita, Kanitz era da esvaziada turma da marolinha. Pelo jeito, acertou e por isso foi chamado novamente pela organização, agora para apontar a bússola para 2010.

Segundo ele, seus concorrentes dizem que é um otimista exagerado, mas mostrou capa de revista de 1984 em que apontava sete anos de recessão econômica. "O jornalismo que precisamos é aquele que mostra se a pessoa entrevistada acertou ou não. A imprensa não faz benchmark para checar quem acertou. Nenhum jornalista econômico veio me perguntar porque acertei", disse. Em seguida, sugeriu aos anunciantes que insiram suas marcas apenas em veículos com elevado processo de qualidade editorial.

Em 1993, Kanitz iniciou um ciclo de palestras falando sobre o Brasil que deu certo. Foi favorável ao Plano Real e hoje critica o noticiário que ouviu apenas cientistas econômicos e não os administradores. "Ciência econômica não entende de empresas. Entende de taxa econômica, mas não das mil maiores empresas. Essa é a razão pela qual o noticiário econômico não deu as respostas que vocês queriam", continuou.

Para ele, todo economista deveria ter direito a uma única previsão por ano, ironizando aqueles que vão à mídia com novas opiniões de acordo com cada onda. Para ele, 2010 será "o ano". Alguns motivos: ano eleitoral e o primeiro da história do Brasil com taxa de juro de um dígito. No entanto, é preciso ter cuidado com otimismo exagerado. "O Natal deste ano será o mais maravilhoso na nossa história. Mas esse crescimento terá algumas consequências. O setor de autopeças, por exemplo, não investiu. É preciso cuidado para não gerar inflação e, pior, para que a taxa de juros não volte para dois dígitos de novo. Isso seria uma água fria".

Os jornalistas que dividiram o palco com ele concordaram com o cenário otimista na área econômica. Gurovitz, da Época, critica o noticiário econômico que se habituou a cobrir apenas a macroeconomia, numa conversa sem muita consequência prática. Para ele, é preciso dar voz aos empreendedores e suas iniciativas.

Por sua vez, Ricardo Gandour, diretor de Conteúdo do Grupo Estado, ressaltou o medo de que o fortalecimento de um Estado econômico reflita no processo democrático. "A prosperidade econômica não pode esvaziar a discussão sobre democracia", comentou aquele que está no comando de um veículo sob censura há quase três meses.

*Jornalista, pós-graduada na Universidade de São Paulo (USP) em Gestão Estratégica em Comunicação Organizacional e Relações Públicas. Com mais de 20 anos de experiência no mercado, comanda desde 2002 sua própria agência, a Lucia Faria Inteligência em Comunicação.
Fonte:FNDC

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