quarta-feira, 14 de outubro de 2009

PRÊMIOS DE GUERRA E PAZ.

Howard Zinn

As pessoas deviam receber um prémio de paz não com base em promessas feitas, "como no caso de Obama, um eloquente fabricante de promessas", mas com base em feitos reais para acabar com guerras. Mas Obama continuou as acções militares mortíferas e desumanas no Iraque, no Afeganistão e no Paquistão, observa o historiador norte-americano Howard Zinn, neste artigo publicado no The Guardian

Fiquei consternado quando ouvi que Barack Obama tinha ganho o Prémio Nobel da Paz. Foi realmente um choque pensar que um presidente que conduz duas guerras vai receber um prémio de paz. Até que recordei que Woodrow Wilson, Theodore Roosevelt e Henry Kissinger também receberam prémios Nobel da paz. O comité Nobel é famoso pelas suas avaliações superficiais, baseadas em retórica e em gestos vazios, e ignorando violações grosseiras da paz mundial.

Sim, Wilson tem crédito pela Liga das Nações - aquele corpo ineficaz que nada fez para evitar a guerra. Mas tinha bombardeado a costa do México, enviado tropas para ocupar o Haiti e a República Dominicana e envolveu os EUA na carnificina europeia da Primeira Guerra Mundial, que certamente está no topo da lista das guerras mais estúpidas e mortais.

Claro, Theodore Roosevelt intermediou uma paz entre o Japão e a Rússia. Mas ele era um amante da guerra, que participou na conquista de Cuba pelos EUA, fingindo que a libertava da Espanha, ao mesmo tempo que apertava as cadeias norte-americanas sobre essa pequena ilha. E, como presidente, presidiu à sangrenta guerra para subjugar os filipinos, cumprimentando mesmo um general dos EUA que tinha acabado de massacrar 600 indefesos aldeãos nas Filipinas. O comité não deu o Nobel da Paz a Mark Twain, que denunciou Roosevelt e criticou a guerra, nem a William James, líder da liga anti-imperialista.

Ah sim, o comité achou adequado dar um prémio da paz a Henry Kissinger, por ter assinado o acordo de paz final que pôs fim à guerra do Vietname, de que ele fora um dos arquitectos. Kissinger, que acompanhou obsequiosamente a expansão da guerra promovida por Nixon, com os bombardeamentos de aldeias de camponeses no Vietname, no Laos e no Camboja. Kissinger, que preenche primorosamente a definição de criminoso de guerra, recebeu um prémio de paz!

As pessoas deviam receber um prémio de paz não com base em promessas feitas - como no caso de Obama, um eloquente fabricante de promessas - mas com base em feitos reais para acabar com guerras, e Obama continuou as acções militares mortíferas e desumanas no Iraque, no Afeganistão e no Paquistão.

O comité do Nobel da Paz deveria retirar-se, e entregar os seus enormes fundos a alguma organização internacional de paz que não seja impressionada pelo estrelismo e pela retórica, e que tenha alguma compreensão da história.
Fonte:Esquerda.net

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