quinta-feira, 1 de outubro de 2009

URUGUAI - Mujica, candidato de esquerda, enfrenta maus momentos.

José Pepe Mujica, candidato presidencial da Frente Ampla para as eleições uruguaias do próximo dia 25 de outubro, está passando por maus momentos e já há muitos que acreditam que dificilmente ganhará as eleições no primeiro turno como se esperava. Os problemas de Mujica estão associados ao excesso verbal, ao seu jeito de falar, o que acaba lhe criando problemas inexistentes.

A reportagem é de Soledad Gallego-Díaz e publicado pelo El País, 27-09-2009. A tradução é do Cepat.

A culpa dos problemas de Mujica é dele mesmo. Recentemente suas declarações ao jornal La Nación, de Buenos Aires, criticando os políticos argentinos, e a um jornalista "amigo" que acaba de publicar uma biografia sua, na qual o candidato fala à vontade sobre a Justiça de seu país, provocou polêmica. Mujica não fala nada sobre a Argentina que a maioria dos argentinos já não pense, ou seja, que as instituições não funcionam, que muitos peronistas e sindicalistas são "delinquentes", que ninguém sabe a ideologia dos Kirchner, que os radicais são bons, mas "idiotas"... Tanto é assim que nem os Kirchner, nem os radicais, nem a mídia argentina se consideraram ofendidos demais e aceitaram sem maiores problemas as desculpas do senador uruguaio.

A oposição uruguaia por sua vez, já não foi tão compreensiva. A reação foi muito dura e unânime, talvez porque boa parte da campanha contra Mujica se baseia na ideia de que não é competente para o cargo presidencial, que é alguém com uma forma de falar coloquial e popular demais para representar o país e carece dos conhecimentos econômicos. Mujica tem uma impressionante história pessoal como guerrilheiro tupamaro e como preso político submetido a torturas e a terríveis isolamentos, mas também tem experiência política de sobra como senador e como ministro da Agricultura.

Mantém uma imagem que entusiasma muitos e irrita tantos outros, inclusive dentro da Frente Ampla. O atual presidente da República, Tabaré Vázquez, por exemplo, criticou publicamente as "estupidezes" do candidato. Também é verdade que Tabaré, que mantém uma grande popularidade mas não pode repetir o mandato, sempre preferiu outros candidatos a Mujica.

A reação da oposição foi tão violenta que, segundo um jornal de Montevidéu, Pepe Mujica esteve a ponto de desistir da candidatura. O senador temia que a Frente Ampla tivesse hipotecado suas possibilidades de vitória por causa de suas declarações e estava disposto a deixar o cargo para seu número 2, Danilo Astori (ao qual venceu nas primárias da Frente). Segundo esse relato, foi o próprio Astori, a quem Mujica já confiou a direção da economia uruguaia caso ganhe as eleições, quem se negou a considerar a ideia.

Astori saiu a público para reafirmar seu apoio a Mujica e deu por encerrado o incidente. Na Frente Ampla afirmam que se trata de conseguir que a campanha se oriente para os temas realmente importantes para o futuro do país e evitar que a oposição os "encerre" no debate sobre a polêmica biografia.

Por enquanto, os chefes da campanha de Mujica parecem não estar certos sobre a capacidade do candidato de superar a polêmica, e anunciaram a anulação de todas as entrevistas que o senador tinha marcado com a imprensa uruguaia e internacional. Pelo menos até que se comprovem os efeitos reais do que aconteceu nos eleitores uruguaios. Para alguns pode haver uma hecatombe, enquanto outros creem que há tempo suficiente até as eleições para que Mujica volte a conectar-se com os eleitores. As últimas pesquisas dão a Mujica 45% dos votos, à frente de Lacalle (32%) e de Bordaberry (11%), o que não evitaria um segundo turno.
Fonte:IHU

Nenhum comentário: