Copiado do blog "Conversa Afiada"
Augusto Sperandio, petroleiro: plataforma P-36 foi comprada no exterior com erros de projeto
O Conversa Afiada reproduz abaixo o depoimento do petroleiro Augusto Sperandio, que se inspirou em texto publicado anteriormente, de autoria de petroleiro, Antonio Deiró. Os dois relatos tratam da resistência da categoria pela manutenção da Petrobrás durante o governo FHC.
Companheiro Deiró, parabéns pela sua batalha e pela visão crítica.
Caro PHA, tudo o que foi abordado no texto do Deiró, assim como alguns comentários desta seção também são verdades absolutas. Como petroleiro aposentado também e leitor assíduo de seu blog, onde às vezes posto algum comentário, tenho a acrescentar algumas coisas:
- Na fatídica greve de 1995, quando FHC mandou o exército invadir instalações da Petrobras, a revista Veja publicou 10 páginas, eu disse 10 páginas, de mentiras e difamações contra a “Petrossauro” (alcunha criada pelo nefasto Roberto Campos para denegrir a imagem da empresa). Os outros meios de comunicação também adotaram a mesma posição. Nós, alguns funcionários, sindicalistas, e associações solicitamos direito de resposta e fomos solenemente ignorados por toda a mídia.
- Na quebra do monopólio do petróleo em 96, ou 97 (não me recordo bem), o fiel da balança entre os parlamentares, apesar de haver oposição, foi a compra da bancada ruralista, por algumas centenas de milhões de reais (R$=U$ na época). Isto pode ser conferido nos jornais da época.
- A plataforma P-36 foi comprada fora do país com erros fatais de projeto, não foi segurada (talvez propositalmente), conforme pode ser visto em relatório do qual participaram engenheiros que fazem, ou fizeram parte do quadro da Associação de Engenheiros da Petrobras. Também pode ser constatado.
- Em todas as unidades da Petrobrás (refinarias, terminais, plataformas, navios, dutos de transporte, unidades de perfuração, produção, etc.) houve violentos cortes de manutenção. Isto afetou equipamentos que operam com produtos inflamáveis, explosivos, tóxicos, contaminantes, letais, ou vários desses fatores juntos, como é próprio da indústria do petróleo.
- Em 96 o quadro de empregados da Petrobrás era de aproximadamente 55.000 funcionários e algo em torno de 20.000 terceirizados (estimado). Em 2003, após PDV’s, incentivos à aposentadoria e transferências para coligadas e subsidiárias, em que pese o aumento da produção, o quadro direto foi reduzido para 33.000 empregados, e o de terceirizados saltou para aproximadamente 70.000 funcionários (mal treinados e mal pagos), e a criação de uma nova categoria de empregadores de mão de obra terceirizada.
- Foi vendida uma grande quantidade de ações no exterior sim. Provavelmente mais de 50 %, porém o país ainda detém mais de 50% das ações com direito a voto. Isto significa que o governo decide o que fazer e os estrangeiros ficam com a maior parte do lucro.
- Como disse algum comentarista, a salvação da Petrobrás foi a BR Distribuidora. Por esta competir em igualdade de condições com a Esso, Shell, Texaco, Ipiranga, etc., os lucros destas foram garantidos pelos governos Collor, Itamar, FHC, então a BR Distribuidora se beneficiou disso. Como a BR Distribuidora pertence à Petrobras ela deu fôlego a esta.
Apesar de defensores incansáveis da Petrobras (trabalhar naquela empresa era como uma missão, um sacerdócio em favor de causas nobres, como alavancar o país, promover o desenvolvimento, gerar empregos) até os dias de hoje, onde houver necessidade, NÓS APOSENTADOS não podemos nos conformar com a já antiga política salarial que nos é imposta. Junto com o fundo de pensão Petros, do qual fomos contribuintes com alíquotas de até 14% do nosso salário, a Petrobrás vem descumprindo há vários anos com o que contratamos (obrigatoriamente) quando fomos admitidos, ou seja a paridade salarial com os empregados da ativa.
A política de RH da empresa proporciona aos ativos uma série de vantagens como bônus, criação de novos planos de carreira, etc. para não conceder reajustes aos aposentados, visando se manter atrativa para os acionistas do mercado internacional. Isto tem gerado um incontável número de ações trabalhistas, cujas sentenças nos tem sido favoráveis, mas com toda a morosidade típica da nossa Justiça, os desgastes emocionais e as custas judiciais. Isto nos decepciona profundamente pois não nos julgamos merecedores de tal tratamento, após tantos anos de dedicação total à empresa e sua missão no país. Alguns, pela idade avançada, não têm conseguido resistir e ver sua luta ser coroada de êxito.
Augusto G. Sperandio
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