quinta-feira, 15 de abril de 2010

AFEGANISTÃO - O atoleiro onde os americanos se meteram.

Do blog TIJOLAÇO.

O atoleiro dos EUA no Afeganistão

“Quatro, de cada cinco afegãos, vivem numa das mais de 20 mil vilas que há no país. Numa viagem de 4 mil quilômetros em jipe, a cavalo, e por avião, há quase meio século, e em inúmeras viagens posteriores, convenci-me de que o Afeganistão é aqueles milhares de pequenas vilas, cada uma delas relacionada culturalmente às vilas próximas, sim, mas, apesar disso, cada uma delas mais ou menos independente em termos políticos, e economicamente autárquica. Essa falta de coesão nacional confundia os russos, durante a ocupação. Eles tiveram inúmeras vitórias militares, e, mediante programas de ação cívica, realmente passaram a controlar muitas vilas, mas jamais conseguiram encontrar ou criar qualquer tipo de organização que pacificasse todas as vilas ou que, em termos gerais, promovesse a paz.(…) Assim, ao longo da década em que lá estiveram, os russos venceram praticamente todas as batalhas e ocuparam, em determinado momento, praticamente cada palmo quadrado do território, mas perderam cerca de 15 mil soldados – além de terem perdido a guerra.(…)

Não abrigar e proteger um hóspede (para os afegãos) é pecado tão grave, e demonstração tão série de fraqueza ou de fracasso, que o homem prefere morrer a falhar na proteção ao hóspede de sua casa. Por isso, claro, os afegãos não entregaram Osama bin Laden. A incapacidade de conciliar as exigências dos EUA e os costumes afegãos sempre esteve na raiz da guerra que os EUA lutam lá, já há oito anos.(…)

Se os EUA forem sensíveis o suficiente para admitir que os afegãos são capazes de resolver seus problemas à maneira deles, em vez de insistir em impor-lhes fórmulas made in USA, poderão dar a partida para um movimento rumo à paz e à segurança sustentáveis.

Para tanto, o primeiro passo indispensável e inadiável é a retirada. Mais guerra só fará crescer os custos e os prejuízos para os EUA e precipitará o fracasso.”

Os trechos acima são do excelente artigo “Os EUA e o atoleiro afegão”, de William Polk, que o excelente site Outras Palavras publicou terça-feira, e cuja leitura recomendo a todos. Polk tem meio século de conhecimento acumulado sobre a região, para onde foi enviado em 1962, durante o Governo Kennedy. Ele analisa os métodos e resultados da recente ofensiva americana naquele país e diz que a vitória americana sobre os talibãs é “possível, mas improvável”. E descreve, com conhecimento de causa, como é a organização natural do poder no Afeganistão, impossível de entender pelos Estados Unidos.

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