domingo, 11 de abril de 2010

BANCOS - Banqueiros, filhos de Scrooge.

CELSO LUNGARETTI

FILHOS DE SCROOGE (*)


Quem acompanha meu trabalho sabe que faço severas restrições a Elio Gaspari como historiador dos anos de chumbo, já que ele erige em tábua dos dez mandamentos a versão dos porões: aquilo que consta, acerca dos resistentes, nos Inquéritos Policiais-Militares da ditadura de 1964/85.

Tendo os IPM's sido conduzidos mediante a prática generalizada da tortura, contêm as maiores balelas, corroboradas por prisioneiros que, para evitar novos suplícios, afirmavam aquilo que os militares queriam ouvir.

A versão dos porões, p. ex., é de que eu teria integrado um tribunal revolucionário do qual nunca ouvi falar, se é que realmente existiu. E por aí vai.

Isto não impede Gaspari de ter momentos brilhantes como comentarista político. Nem que eu os reconheça.

A sua coluna dominical, hoje (11/04), é simplesmente antológica, ao revelar como a Federação Brasileira de Bancos deixou cair a máscara, mostrando sua face horrorosa de ninho de usurários, antes que os maquiladores de carrancas lhe mostrassem quão repulsiva estava sendo, aos olhos das pessoas normais, sua exibição explícita de ganância desmedida.

Eis os trechos principais de A Febraban teve um apagão moral de 24 horas:
"O Rio estava de joelhos (...), os mortos já beiravam a centena, os desabrigados eram milhares, e a Febraban emitiu uma nota oficial informando o seguinte:

"'Somente em caso de decretação de calamidade pública é que os bancos poderão receber contas atrasadas sem cobrar os juros de mora estabelecidos pelas empresas que emitiram os títulos e boletos de cobrança.' (Havia a calamidade, mas faltava o decreto.)

"Nenhuma palavra de pesar, muito menos misericórdia. Recomendavam aos clientes que usassem o telefone, a internet ou recorressem aos caixas eletrônicos, sem explicar como chegar a eles. Centenas de agências bancárias estavam fechadas.

"Exatas 24 horas depois, a Febraban voltou atrás. Aliviou as multas, os juros e ofereceu os serviços dos bancos para orientar as vítimas que porventura já tivessem sido mordidas.

"Recuou com a mesma arrogância da véspera. Nenhuma palavra de pesar. Ao contrário. Em tom professoral, a guilda dos banqueiros ensinou: 'Cabe lembrar que a cobrança é um serviço que os bancos, sob contrato, prestam às empresas titulares dos valores a serem pagos'. Se é assim, por que recuou?

"A Febraban deve ser fechada porque, tendo sido criada para defender os interesses de uma banca que gostava da sombra, tornou-se um ativo tóxico. Numa época em que as grandes casas de crédito gastam fortunas para divulgar seus compromissos com a sociedade, a Febraban arrastou-as para um apagão moral."
Dois únicos reparos:
  • não é apenas a Febraban que deveria ser fechada, mas também as casas de agiotagem eufemisticamente conhecidas como bancos, por desenvolverem atividade parasitária, anti-social e completamente inútil;
  • o contrário do que Gaspari afirma, banqueiros que não agem como rapinantes nas crises não são os banqueiros de verdade, mas, tão somente, as exceções que confirmam a regra.
Sendo a regra aqueles banqueiros que, durante a recente crise global do capitalismo, foram beneficiados por medida do Governo Lula para que pudessem ampliar a concessão de crédito aos clientes desesperados, mas, ao invés disto, usaram os recursos adicionais para aumentarem suas provisões de fundos destinados a cobrir os prejuízos decorrente de inadimplências.

* Ebenezer Scrooge é o velho avarento da história natalina de Charles Dickens, que inspirou Walt Disney na criação do personagem Tio Patinhas.

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