A leitura das pesquisas eleitorais
Por Gunter Zibell
Fiquei interessado nas questões eleitorais, em particular quanto à “polarização” e tentei redigir um “resumão”. Este comentário é sobre a eleição presidencial, mas haverá 3 outros na sequência (Congresso, Estado de S.P., Governadores.)
Colegas comentaristas, convido a ler, apesar de se tratar apenas de uma opinião pessoal. Sei que o texto ficou longo, mas tentei não ser redundante nem muito detalhista, então talvez não tenha ficado “chato”
O FAVORITISMO DE DILMA É JUSTIFICÁVEL
Em qualquer mídia, incluindo blogs, estamos sendo submetidos a um bombardeio sobre a “polarização PT x PSDB” e suas variantes “Lula x FHC” e “Dilma x Serra”. O tal “fla-flu”. Não podemos desconsiderar a importância de uma eleição presidencial, especialmente neste momento. Mas acho que há exagero. Talvez um excesso de “paulicentrismo” na questão, difundido pela mídia de expressão nacional, que pode não refletir adequadamente a situação para o Brasil como um todo.
SP representa 1/3 do PIB nacional e é de fato o reduto do PSDB (em outros estados não há a mesma fidelidade de seus eleitores nem tantas alianças com partidos não-alinhados.) Porém, o estado responde por apenas 22% do eleitorado para presidente e 14% para Câmara de Deputados. E não é porque existe uma polarização de fato em uma unidade da federação que automaticamente ela possa ser estendida ao país. Possivelmente quanto mais distante de SP estiver o observador, menos essa polarização será nítida.
O que mais causa estranheza nas análises correntes são as poucas menções ao papel do PMDB (e outros) no nível estadual, a que PT e PSB são partidos ainda em fase de crescimento no Congresso, a que PSDB/DEM experimentam contínuo declínio em quase todos os níveis eleitorais desde 2000.
Muito já se falou sobre o tema da eleição presidencial, então recuperemos, do que é mais comentado, os argumentos que justificariam o favoritismo governista:
- As pesquisas de intenção espontânea de voto, que podem ser vistas como um indicador antecedente, mostram que a candidatura governista é a única com tendência constante de crescimento. Ainda indicam que a transferência de votos existe e que é rápida. Desde o início dessas pesquisas, em fev./2008, o campo governista poucas vezes recebeu menos que 55% das intenções de voto, e os nomes da oposição poucas vezes receberam mais que 30%.
- Os principais indicadores sócio-econômicos estão em uma conjunção favorável, muitos no estilo NANP (“Nunca Antes Neste País”) e isso deve contar mais que a pretendida, pela oposição, comparação de currículos dos candidatos. Ademais, para o eleitor mais observador, será necessário a oposição não só provar que seu candidato tem o melhor programa, mas também que terá a sustentação política necessária para governar.
- Partidos de apoio já declarado à candidatura oficial governam em 17 (*) das 27 Unidades da Federação. Haverá muitos palanques consistentes para Dilma, em vários estados mais de uma chapa governador/senador competitiva, e o efeito disto ainda não pôde ser captado por pesquisas. (* há oscilações nesse número porque algumas seções antagonizam a posição do partido no nível federal.)
- O discurso da oposição é fraco: a ) Os governadores do PSDB e seus aliados estaduais podem mostrar obras e gestão, mas na realidade seus estados não ganharam participação no PIB ao longo dos anos nem apresentam uma melhora diferenciada em indicadores sociais. Isso significa que outros partidos podem mostrar os mesmos resultados nos palanques em seus estados; b ) a insistência no neoliberalismo, ainda que não seja perceptível pelo eleitor médio, torna-se prejudicial, pois esse discurso está quase abandonado nas principais potências ocidentais; c ) lembrar do Plano Real ou realizações daquela época conta relativamente pouco, pois houve grande renovação do eleitorado (18% dos atuais eleitores tinha menos que 16 anos em 1994) e se o argumento fosse bom teria sido útil já em 2002. A experiência de outras eleições mostra que os fatos mais recentes têm um peso desproporcional na formação do voto.
Ainda sobre discurso da oposição. Muitos gostam de lembrar de iniciativas tomadas na época dos governos FHC que teriam propiciado o caminho para o crescimento econômico atual. Exemplos seriam a Lei de Responsabilidade Fiscal, o início de programas sociais, PROER, aumento da carga tributária e privatizações (estas muito discutíveis na sua pertinência.) Falar disso tudo pode ser um bom exercício acadêmico, mas é muito difícil de converter em discurso eleitoral, como já visto em 2006. Se falar de “herança bendita” não deu certo naquela ocasião, porque teria repercussão agora? De qualquer modo, quaisquer benefícios para a economia foram completamente anulados pela imprudente gestão da taxa de juros e o projeto de poder do PSDB – em sua peculiar coligação com DEM e PPS – parece não ter dado certo.
(Existe uma tese de doutorado, que ainda não li, de José Paulo Martins Jr., que parece muito interessante sobre o comportamento do eleitor em relação a PT e PSDB em eleições presidenciais. Fica o link: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8131/tde-12022008-114302/ )
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