Por Mauro Santayana
Obama e Medvedev irão encontrar-se, hoje, em Praga, a fim de firmarem acordo em que se comprometem a reduzir seus arsenais atômicos. Na próxima semana, 47 países estarão reunidos em Washington, a fim de discutirem alterações no Tratado de Não Proliferação de armas nucleares. Os ingênuos podem ver, nesses dois movimentos, o caminho definitivo da paz. Os ingênuos, porque os céticos, como sempre ocorre, tendem a ter razão.
Os dois encontros, em que pese a intenção pessoal do governante norte-americano, que parece realmente interessado na paz, têm como objetivo pressionar o Irã e a Coréia a renunciarem às pesquisas nucleares, bem como a inibir outros países que também buscam avançar no conhecimento da física atômica. Depois dos movimentos que levaram à derrocada do sistema socialista, e de sua insolente presunção de império único do mundo, os norte-americanos mais sensatos buscam estabelecer condomínio com os russos e, se possível, com os chineses. Em suma, quem tiver suas armas nucleares, é sócio natural do sistema de poder mundial, e quem não as tiver, será impedido de tê-las. Cometemos o erro, no passado, de assinar o Tratado inibitório e é conveniente não aceitar mais cláusulas restritivas.
Há pressões sobre o Brasil, no que tange ao Irã. Não encontramos, na história contemporânea daquele país, razões para desconfiar de sua agressividade, mais do que as que podem ser debitadas a outras nações de nossos dias, entre elas, Israel. O Irã era confiável para os anglossaxões quando estava sob seu controle direto, sobretudo quando o governava o xá Mohammed Pahlevi. Seu pai Reza Pahlevi, militar, filho de camponeses, fizera bela carreira no Exército e tomara o poder quando o xá reinante se encontrava enfermo no exterior. Em 1941, sob pressão britânica, abdicou, em favor do filho, Mohammed. O novo xá tornou-se títere dos ingleses e norte-americanos, que exploravam o petróleo do país. Quando, em eleições limpas, em 1953, o nacionalista Mossadegh assumiu a chefia do governo, como primeiro ministro, e nacionalizou o petróleo, a CIA o apeou do poder. O xá foi recolocado no poder pelos americanos.
Em 1967, celebrou, em farsa histórica, os “2.500 anos do Império Persa”, em Persépolis, sob tendas suntuosas em meio ao deserto, junto ao túmulo de Ciro, em festa que custou mais de US$ 100 milhões. Nem mesmo durante o governo de Mohammed o país representou ameaça a seus vizinhos.
A única exceção a essa conduta ocorreu na guerra que lhe moveu o Iraque, sustentado pela Arábia Saudita, pelos Emirados Árabes, e pelos norte-americanos durante os anos 80. Em 1990, como resultado da mal sucedida operação de Saddam contra o Kuwait, e a reação de Bush pai, Teerã e Bagdá firmaram seu acordo de paz.
A Alemanha desenvolvia as duas grandes armas do século, os foguetes teleguiados, mediante as bombas-voadoras, e a fissão nuclear, com seu espantoso poder de destruição. Antes que as V-2, que só chegavam a Londres, fossem aprimoradas, e seus cientistas conseguissem a fissão do átomo, os exércitos da União Soviética, de um lado, e dos aliados, pelo outro, venceram-na com os meios convencionais. Mesmo assim, Truman mandou jogar suas bombas contra Hiroxima e Nagasaqui, quando o Japão já buscava forma honrosa de rendição. A tendência é de que se vulgarize a tecnologia nuclear, com fins pacíficos, ou não. Nada, uma vez que se invente, desinventa-se. O conhecimento, mais cedo ou mais tarde, se universaliza.
Obama optou por nova estratégia militar, de redução do uso de armas nucleares pelos Estados Unidos. Até agora, o governo norte-americano estava autorizado a usá-las, sempre que, a seu juízo, sua sociedade se sentisse em perigo. Pela nova doutrina, a arma só será usada contra os países que não cumprirem o Tratado de Não Proliferação – que eles querem mais restritivo a partir da próxima semana. Exerce assim mais pressão contra as pesquisas dos países emergentes e faz ameaça ainda mais direta ao Irã.
Obama sabe que muitas nações, entre elas, o Brasil, recusarão cláusulas aditivas ao Tratado que venham a impedir, mais do que o texto em vigor, as investigações nucleares para fins pacíficos – e pretende coagi-los à submissão
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