Conversei com vários, com muitos estudantes. Resumo o que me contaram: a maioria é pacifista, contra atos de vandalismo e quebra-quebra. Jovens punks, ou que se imaginam anarquistas, seriam responsáveis pelos atos de violência. Estudantes dizem ser impossível controlar todos os grupos.
 
Há divisões entre eles. Muitos pedem que integrantes do PSOL e PSTU abaixem faixas e bandeiras; rejeitam a associação com partidos. E sabem que polícia e mídia forçarão essa simplificação. A maioria entende que perde apoio quando surgem atos e, em seguida, as manchetes sobre "vandalismo" e "baderna". 
 
É evidente que manifestações mundo afora, tão vivas nas redes sociais, despertam, influenciam e estimulam manifestantes em São Paulo e pelo Brasil. Os manifestantes, adolescentes ou pouco mais do que isso, parecem gritar a mesma coisa: "Ouçam o que temos a dizer".
 
Muitos podem nem saber exatamente o que querem dizer, mas é óbvio que querem dizer alguma coisa. O que têm a dizer jovens de classe média e até alta, no caso de São Paulo, é muito mais do que os 20 centavos das passagens.
 
É tudo muito fluido. É disperso e dispersivo, como é mundo virtual das redes. Como é um mundo que tem o consumo como o ápice da vida. Bem além de 20 centavos, o que os protestos proporcionam são outras sensações.
 
Com acertos ou erros, a emoção de, enfim, estarem juntos nas ruas; não apenas em casa, na escola, nas redes ou na balada. A sensação de lutar por alguma coisa além do jeans e do smartphone. Muitos outros, a frustração por não ter acesso a nada disso.
 
Essa geração cresceu ouvindo críticas por "não se interessar" por política. Bem, com acertos e erros, errando ou acertando, o que eles estão fazendo é… política. Como fizeram política os meninos que, de saia, assistiram à aula no "saiaço" do Colégio Bandeirantes.
 
Quem marchou com a "Família e Deus pela Liberdade", às vésperas da ditadura, fazia política. Quem foi à "Passeata dos Cem Mil", contra a ditadura, ou aos comícios pelas "Diretas Já", fazia política.
 
Meninos que vão à escola de saia, ou protestam nas ruas, fazem política. Como é política a decisão de escolher o "vandalismo", a "baderna" ou as saias como a questão central.
 
Há três décadas muitos jovens se diziam na extrema-esquerda. E muitos eram chamados de vândalos. Ao longo da vida seguiram seus caminhos, alguns se perderam na própria esquerda. 
 
E outros são hoje os mais ferozes e servis porta-vozes da extrema-direita.
 
Nada como o tempo para ensinar a todos nós.