Confesso que fiquei surpreso quando entrei no táxi na tarde desta segunda-feira, depois de sair do dentista, e o motorista, que me reconheceu da televisão, já foi logo falando que a presidente Dilma Rousseff vai propor um plebiscito para fazer a reforma política, a tal reforma mãe que o país reclama há séculos.
A cada crise, desde que me conheço por gente, toda vez que o povo saía às ruas ou havia um impasse no governo, sempre se voltava a falar na necessidade de uma profunda reforma política no país, mas eu já tinha perdido as esperanças de ver isso acontecer ainda na minha geração.
Por isso, depois de tantos presidentes que passaram pelo Palácio do Planalto após a redemocratização do país, e não tomaram esta iniciativa vital para a nossa democracia, só me cabe dar os parabéns à presidente Dilma pelo ato de coragem de abrir a reunião com prefeitos e governadores apresentando a proposta de uma Constituinte exclusiva para, finalmente, se fazer a reforma política.
Ao chegar em casa, perguntei a um assessor próximo de Dilma de quem foi esta brilhante ideia, e ele riu: "Foi da presidente, claro, só dela. Acho que não falou com ninguém antes".
Diante da enxurrada de críticas e reivindicações levadas às ruas nos últimos dias, contra tudo e contra todos, esta era a melhor, ou talvez a única, saída democrática e republicana que restava a uma presidente acuada pelo varejo das demandas da sociedade em confronto aberto com os políticos da sua base aliada.
Se o povo dos monumentais protestos que ocuparam as praças e ruas do país queria retomar sua participação nas grandes decisões nacionais, das quais se sentiu afastado nos últimos anos, nada melhor do que um plebiscito para que este mesmo povo possa escolher as regras do jogo daqui para a frente.
De uma só tacada, Dilma deu razão aos manifestantes, colocou na roda os governantes de Estados e Municípios, deu um chega para lá nos radicais, e retomou a iniciativa do jogo, sem ter que brigar com ninguém. Sabemos todos que a maioria dos políticos do governo e da oposição não queria nem ouvir falar em reforma política para não perder os privilégios que o atual sistema político-partidário-eleitoral lhes dava para se perpetuarem no poder.
Qual político agora terá coragem de se manifestar contra o plebiscito da reforma política?
Dilma foi direto ao assunto principal antes de discutir outras medidas urgentes, nas áreas de combate à corrupção e investimentos em educação, saúde, transportes públicos e segurança, antes que a situação fugisse do controle, para evitar uma crise institucional, estimulada neste final de semana por comunicadores populares e revistas que pediam para o povo não sair nunca mais das ruas. Com qual objetivo?
"O Brasil está maduro para avançar e já deixou claro que não quer ficar parado onde está. (...) Agora o povo nas ruas quer mais. Quer uma representação política permeável, uma sociedade em que o cidadão, e não o direito econômico, esteja em primeiro lugar. É bom que o povo esteja dizendo isso em alto e bom som. Cabe a cada um de nós ouvir", disse Dilma, que também propôs uma lei para transformar corrupção em crime hediondo.
O que ainda não está definido é como e quando Dilma pretende encaminhar a sua proposta de plebiscito para a reforma política, provavelmente por meio de uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional) . O plebiscito poderia ser feito junto com as eleições de outubro de 2014. Se dependesse só do governo, porém, seria convocado o mais rápido possível _ a melhor maneira de acalmar as ruas e levar o debate para as instâncias em que o povo decide pelo voto.
Para completar este ato de coragem e mostrar que não tem medo do julgamento das ruas, Dilma poderia incluir entre as questões do plebiscito a reeleição, implantada em meio ao primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso. Seria a melhor forma de saber de que lado está a maioria do povo que não aparece na televisão nem nas capas de revista.
Valeu, Dilma!
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