Os tempos estão mudando
DoLaDoDeLá
Começou uma mudança da maré. Não é ainda, claro, uma mudança de outono para primavera. Em terminologia marxista, estamos diante de uma nova conjuntura em São Paulo, que repercute à escala nacional. A alteração na relação de forças, com uma debilitação importante dos governos Alckmin e Haddad, durante a última semana, não permite conclusões sobre a situação ou etapa, se considerarmos a escala nacional. Mas em São Paulo há, indubitavelmente, uma crise política. O mais importante é que as quatro manifestações de rua, nos últimos dez dias, foram as mais significativas desde, provavelmente, agosto de1992, quando a juventude saiu às ruas para exigir o Fora Collor. E a manifestação de segunda feira dia 17 de junho promete ser a mais grandiosa e imponente de todas. A boçalidade repressiva da Polícia Militar, comparável somente com a violência durante os anos da ditadura militar, provocou uma nova geração para a luta. Agora, também, pela defesa das mais elementares liberdades democráticas. Essa nova geração irá desfilar pelas ruas de Pinheiros. Serão, provavelmente, muito mais numerosos que na semana passada. Têm uma enorme disposição de lutar até à vitória. Essa vontade é o novo, e ela é poderosa, é contagiante. A luta contra o aumento do preço dos transportes, e a impressionante solidariedade contra a repressão, sugere que foi sendo acumulada, lentamente, de forma subterrânea, uma insatisfação, talvez até um descontentamento, que não tinha encontrado ainda uma oportunidade ou um canal de expressão política. A saída às ruas da juventude está sendo, como tantas outras vezes na história do Brasil (1968, 1977, 1983, 1992), a faísca, a centelha, a fagulha. Dilma foi vaiada na abertura da Copa em Brasília. A estagnação econômica dos últimos anos interrompeu a lenta recuperação dos salários que vinha dos anos 2000. A pressão inflacionária invadiu as casas dos trabalhadores e da classe média assalariada. Ao contrário do que aconteceu no Cracolândia, no Pinheirinho, na USP, desta vez, a ferocidade e selvageria da repressão da PM incendiou uma indignação e revolta que entrou nas casas e uniu as famílias em defesa dos estudantes, invadiu as fábricas e ganhou a simpatia da classe operária. Estas forças sociais unidas podem vencer. A mobilização demonstrou tal legitimidade que deixou os autistas Alckmin e Haddad, abraçados em Paris, por enquanto, pelo menos, em isolamento político glacial. O contexto econômico desta nova conjuntura ainda não é de crise, mas há sinais de turbulência no horizonte. O Brasil não está em recessão, porém, sofre a pressão do mercado mundial. Teve nestes primeiros meses de 2013 o pior desempenho histórico da balança comercial. Tampouco temos uma espiral inflacionária descontrolada. Nem descontrole inflacionário. Não obstante, é chave compreender que a percepção popular dominante, entre 2004 e 2012, de que a vida estava um pouco melhor, mudou ou está mudando. A crise mundial fragiliza o capitalismo brasileiro, como sempre na história dos últimos dois séculos, pelo seu calcanhar de Aquiles: as contas externas. A redução das exportações agrava o déficit no balanço de conta-corrente: projeção de mais de US$ 70 bilhões para 2013, podendo chegar a US$100 bilhões. O que não poderá ser coberto pela entrada de dólares. Sinais de mudança no fluxo internacional de capitais, dos países periféricos para os EUA, com expectativa de elevação das taxas do FED, já estão causando uma queda momentânea da Bolsa de Valores e alta do dólar. Aumentam, assim, as pressões inflacionárias, e o Banco Central já deixou claríssimo que a taxa de juros no Brasil também vai continuar subindo. Em poucas palavras, um cenário mais instável para os negócios. As margens de iniciativa dos governos que estão ao serviço dos monopólios, também, se reduzem. O que sinaliza que a possibilidade de negociações e concessões para a juventude e os trabalhadores, também, diminuem. As lutas serão, portanto, duras, muito duras, e vão exigir disposição revolucionária para vencer. O mais importante de tudo é que a juventude voltou para as ruas, e com muita força. Ela trouxe seus gritos, sua fúria, seus cantos, sua coragem. Ela está abrindo o caminho para uma nova conjuntura. E faz a esperança brilhar no coração de todos nós. |
Carlos Augusto de Araujo Dória, 82 anos, economista, nacionalista, socialista, lulista, budista, gaitista, blogueiro, espírita, membro da Igreja Messiânica, tricolor, anistiado político, ex-empregado da Petrobras. Um defensor da justiça social, da preservação do meio ambiente, da Petrobras e das causas nacionalistas.
segunda-feira, 17 de junho de 2013
MPL - "Os tempos estão mudando"
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